A GAZETA DE ALGOL

"O morto do necrotério Guaron ressuscitou! Que medo!"

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Os estranhos que conhecemos - Parte V

Autora: Neilast
Tradutor: Orakio Rob

Havia poucas coisas em todo Algol tão antigas quanto a estação espacial de Zelan, uma automação do tamanho de uma cidade e que seguia a órbita oposta à do planeta conhecido como Motávia. Nunca Zelan fôra abençoada por longos períodos de tempo com a presença de formas de vida baseadas em carbono. Não, os únicos habitantes de longo termo eram os realmente antigos andróides conhecidos como Wren e Demi, ainda que estes não fossem os verdadeiros nomes de suas IAs.

A designação individual da unidadea do modelo-Wren era Fuoren, ainda que nunca tenham se referido a ele como tal. Ele foi criado a dois mil novecentos e noventa e oito anos atrás para ser o guardião de Zelan, e teve que tomar conta dos controles do vasto sistema climático de Algol após a queda de Cérebro-Mãe e a falha do projeto Filha. Ele passou os primeiros novecentos e noventa e oito anos sozinho em Zelan, completamente incomunicável com o resto de Algol exceto por raras comunicações com algumas poucas IAs remanescentes em Motavia. A apenas dois anos de seu primeiro milênio em Zelan, Fuoren se uniu ao lendário Chaz Ashley, Rika Ashley, a primeira Numana, Lutz Cinco, e outros em uma jornada épica para destruir a Escuridão Profunda. E desde o dia em que os protetores puseram um fim ao terror de Dark Force em definitivo, Fuoren e Demi trabalham fervorosamente, primeiro para normalizar as mudanças nos sistemas de clima de Algol, e então para ajudar os algolianos a reconstruírem sua decadente civilização. Em ambas as tarefas, os andróides obtiveram sucesso. E ao longo desses quase três milênios, Fuoren viu muito, e aprendeu ainda mais. Entretanto, ainda que não possuísse capacidades empáticas - Fuoren não podia ter emoções - ele possuía uma espécie de orgulho acidental, uma crença exagerada no poder de seu conhecimento. Ele passou a acreditar muito antes de tudo isso que havia poucas coisas que ele não havia visto, e nenhum problema que não pudesse solucionar.

Essa crença confortável foi despedaçada entretanto, quando uma agourenta espaçonave, da cor do céu motaviano à meia-noite e do tamanho de uma pequena luz, subitamente apareceu nos limites do sistema Algol.

Demi foi a primeira a notar.

“Mestre Wren, poderia dar uma olhada nisso?” ela perguntou, com uma óbvia preocupação em sua voz palmiana.

“O que é, Demi?” Fuoren perguntou.

“Não ternho certeza. Parece ser uma espaçonave, mas de que natureza, não sei dizer. Olhe essas leituras. Ela é enorme, e parece completamente abandonada”.

“Hmmm, você tem razão. Não há nenhum sinal de qualquer energia”.

“Talvez eu deva investigar na 'Landale VII'”.

A pequena andróide começou a se mover, mas Fuoren pôs sua enorme mão sobre seu pequeno ombro, e Demi parou.

“Não, não vá, ainda não. Quero fazer mais umas análises antes de pôr nossas existências em risco”.

Demi sorriu. “Obrigada, Mestre. Para ser sincera, eu não estava muito animada em me aproximar daquela coisa. Quem sabe que intenções possui?”

“Ninguém sabe, é claro”, Fuoren respondeu duramente. Percebendo que Demi fizera a pergunta sem esperar por uma resposta, ele acrescentou, “Por vezes não compreendo a natureza retórica, Demi. Perdoe-me”.

Demi suspirou e disse, “Oh, Mestre, eu sempre perdôo!”

“Continuarei a investigar agora”, Wren disse, sentando-se no terminal que Demi ocupara momentos antes. “Sim, a nave é realmente enorme. Entretanto, é consideravelmente menor que a Amanhecer Palmiano ou suas naves-irmãs. Isso me intriga, pois imaginei que essa nave poderia ser uma não descoberta remanescente da armada da Amanhecer Palmiano”.

“Mas não é?” Demi perguntou. “Não poderia ser apenas um fragmento de uma das naves? Um biodomo apenas, talvez…?”

Fuoren abanou a cabeça. “Não, ela está completa, exceto por umas poucas aberturas no casco da nave. Parecem ser resultado de explosões catasrtróficas. Hmmm. Curioso. O tipo de nave não se encaixa com o de nenhum modelo de nave feito desde AW100, e nenhuma nave de navegação profunda como essa foi construída antes disso”. Fuoren virou-se para Demi. “Talvez seja melhor investigarmos mesmo”.

Demi suspirou novamente, e seguiu rumo ao hangar. “Eu sabia… vou preparar a Landale VII, Mestre. Partiremos em breve”.

* * *

“Quem você está contactando agora, Dra. Mallos?”, perguntou Filho.

“Wren”, foi a seca resposta.

“Ah, o Wren de Zelan, que nos enviou Mium”.

“Certo. Mium mencionou ter sido reativada no passado. Talvez Wren possa me dizer algo a respeito.” Os dedos de Dahl deslizaram sobre os botões que a conectariam com Zelan. Ela não queria falar com Wren novamente. Na verdade, ela jurara que nunca mais o faria. Mas momentos de desespero exigiam medidas desesperadas.

Muito desesperadas.

Houve um bip, e então uma voz levemente masculina disse, “Você contactou a estação Zelan, andróide Siren 642 falando. Posso ajudá-la?”

“Sim”, disse Dahl lutando para afastar seus pensamentos de Azur e Erol, que não responderam a seu chamado. “Aqui é a Doutora Dahlia Mallos, diretora de Palma II. Preciso falar com Wren, o Wren, Mestre Wren, o que quer que seja”. O andróide com o qual Dahl falava não era Wren, não o seu Wren. Ela sabia disso. Ainda assim a voz era tão familiar que fez seu coração se apertar. Como ela reagiria quando falasse com o verdadeiro Wren? Ela temia a resposta, mas ela chegaria em breve. As coisas estavam acontecendo rápido demais. Dahl sentia sua cabeça – e seu coração – rodarem.

“Estou contactando Mestre Wren”, respondeu Siren 642. “Estou ligando vocês agora”.

“Alô?” a voz familiar peguntou. “Aqui é Wren, diretor da estação Zelan. Por favor seja breve, eu estava prestes a partir”.

“Olá, Wren”, Dahl disse com nervosismo. “Aqui é Dahl, uh, Dra. Dahlia Mallos, diretora de Palma II”.

“Saudações, Dahlia”, Wren disse. Sua voz não era impessoal, mas também não era muito humana, também. “Como posso ajudá-la?”

“Você sabe como”, Dahl pensou. Mas disse, “Preciso de informação – e rápido – sobre Mium. Wren, você pode se conectar à Rede de Controle Algoliano? Pedirei a Filho que transmita a informação diretamente”.

“Certamente”, respondeu Fuoren. “Estou pronto”.

“Agora”, Dahl ordenou a Filho.

Ainda que Dahl não pudesse ver o rosto de Wren, ela sabia que naquele momento ela se tornava sombria e preocupada. Demi provavelmente estava por perto, também. Se estivesse, provavelmente estaria roendo as unhas – ou ao menos o local onde suas unhas deveriam estar – enquanto a face de Wren se fechava em seriedade.

“Já processei os dados”, Fuoren disse após trinta e dois segundos. “Essa é informação é das mais terríveis”.

“O que é, Mestre?” Demi perguntou enquanto dava as costas ao elevador para o hangar e voltava para o lado de Wren. Este apontou para um console que era adaptado para Demi para que ela, também, pudesse se conectar diretamente à Rede de Controle Algoliano. Ela se conectou, e logo, seus olhos se arregalaram e começaram a brilhar, ainda que Demi não pudesse chorar.

“Não sei ao certo o que dizer, Dahlia”, Wren respondeu. “Mium obviamente não é de confiança. Ela deve ser desativada imediatamente”.

“Wren, eu… eu preciso de você”, disse Dahl.

Ao ouvir isso, os olhos de Demi semi-cerraram e ela olhou com expectativa para Wren.

“Por favor, Wren”, Dahl continuou. “Venha aqui e cuide você mesmo de Mium. Nossa segurança é quase não-existente. Nunca precisamos dela. Não sei se podemos com Mium. Wren, por favor”. A última palavra foi sussurrada, e um tanto tremida.

Wren olhou para Demi, inquisitivo.

“Posso investigar o feômeno que detectamos sozinha”, a pequena andróide respondeu rapidamente, antes que a pergunta pudesse ser formulada. “Você deve ir agora a Palma II. Mium pode ser muito perigosa”.

Wren concordou. “Teleportarei-me imediatamente, Dahlia”, Wren disse.

“Oh, obrigada, Wren!” disse Dahl. “Estarei no quarto de minha irmã. Você sabe onde fica?”

“Presumo que você ainda esteja nos laboratórios. Se estiver, eu saberei onde encontrá-la”.

“Oh, obrigada, Wren”, Dahl repetiu. “Por favor, venha rápido!”

Wren desconectou-se da rede. “Irei agora”. Ele apertou levemente o ombro de Demi, um gesto que Fuoren reservava apenas para as mais delicadas situações. “Tenha cuidado, Demi”, ele disse. “Preciso de sua presença”.

Demi sorria enquanto tornava a andar em direção ao hangar onde a nave conhecida como Landale VII estava. “Se isso quer dizer que você precisa de mim, Mestre Wren”, ela disse, “então estou orgulhosa de ouvir isso.E tenha cuidado também!” ela disse enquanto as portas do elevador se fechavam.

* * *

Dahl não costumava andar olhando por sobre os ombros, logo a pequena caminhada até os aposentos de sua irmã fôra bastante estressante, ainda que Erol a seguisse logo atrás. A situação piorava porque, com o intuito de preservar o ciclo de dias e noites que ajudava as pessoas a viver e trabalhar de maneira mais confortável, os corredores e passagens dos laboratórios eram escurecidos consideravelmente durante a noite, dando a Mium e a feras da imaginação diversos esconderijos dos quais poderiam saltar. A armadura de fibra e a arma sônica que Dahl trazia proviam-lhe de pouco conforto enquanto ela prosseguia para o mais subterrâneo dos níveis, onde se localizavam os quartos dos ocupantes dos laboratórios. Ela olhou por sobre os ombros e viu Erol, de olhos bem abertos, com uma pequena pistola laser nas mãos. Dahl suspirou. Que visão patética eles eram.

Nas pontas dos pés, eles deixaram a rampa e se aproximaram lentamente da porta de Azur. Uma vez lá, Dahl digitou o código de emergência na trava eletrônica da porta, para poder entrar sem bater. Azur, que já havia quase adormecido do outro lado, acordou de supetão quando seus amigos entraram, erguendo a sua arma sônica. Ela abaixou a arma ao perceber que os “intrusos” não eram nada mais nada menos que Dahl, sua irmã querida, e seu amigo Erol.

“Até que enfim você chegou”, a numana de cabelos azuis sussurrou. “Já estava começando a me preocupar!”

“Desculpe pelo atraso”, respondeu sua irmã de cabelos verdes. “Tive que contactar Wren”.

“E aí ela teve que me buscar”, Erol murmurou para si mesmo. Azur ergueu uma sombrancelha.

“O Wren?”

“Sim, O Wren”, Dahl disse. “Quem mais? Foi ele quem enviou a andróide aqui, afinal. Se alguém pode lidar com ela, esse alguém é ele!”

“Tem razão”, Azur sussurrou.

“E agora?” Erol perguntou. “Ficamos aqui parados esperando Wren?”

Dahl estremeceu na escuridão. “Eu… não sei. Suponho que sim. Mas não posso deixar de me preocupar com ele”. Houve um silêncio. “Mas ele é um cara forte!” Dahl acrescentou rapidamente. “Ele pode cuidar de si mesmo”.

“Sim…” Azur pensou consigo sem a mesma certeza. “Estou certa de que pode…”

* * *

“Filha, você pode me ouvir?” Demi perguntou enquanto o Landale VII cruzava os últimos parsecs entre Zelan e o objeto anônimo que parecia ser uma nave.

“Sim”, a voz tranquila de Filha, que controlava Zelan e Kuran, além de Mota, Dezo e Rykros, respondeu. “Você está há menos de dois quilômetros do fenômeno”.

“Obrigada por seu apoio, Filha”, a pequena andróide disse carinhosamente. “Sinceramente, estou meio nervosa por estar fazendo isso sozinha. O mestre está sempre comigo!”

“Sim, para um não-empatico, Wren é um grande amigo, para nós duas”, Filha respondeu.

“É mesmo!” respondeu Demi. “Mas é bom ter você comigo também, filha, mesmo que você não seja o mestre Wren”.

“Obrigada, Demi”, Filha disse. “Espero que eu possa ajudar”.

“E eu espero que possamos manter esta nossa conexão quando eu entrar na nave… assumindo que eu consiga. Não lidamos com esse tipo de sistema com frequência, e mestre Wren é muito melhor do que eu com equipamentos de comunicação”.

“Não faça pouco de si mesma, querida”, Filha disse. “Estou certa de que você ficará bem”.

“Oh, uau, olha isso!” Demi exclamou quando a misteriosa nave tornou-se visível. “Filha, você pode ver isso?”

Uma câmera girou sobre o vidro da cabine do piloto, pondo suas lentes em foco.

“Agora posso”, Filha respondeu. “Isto é… incrível. É quase tão grande quanto um dos domos da Amanhecer Palmiano, ou, ainda, maior do que a área metropolitana de Aideoian”.

Demi assobiou. “É da cor… da meia-noite. Que ameaçador! Filha, você também está empolgada?”

Filha deu uma risada, coisa que seu “irmão” ainda não havia aprendido a fazer. “Suponho que esteja, Demi. Acho que a ansiedade dá uma sensação de empolgação”.

“É o que as pessoas chamam de 'gás'. Eu adoro!”

“Aqui estamos”, Filha disse simplesmente enquanto a Landale VII parava completamente poucos metros a estibordo da nave.

“Preciso entrar de alguma forma”, Demi murmurou.

Filha emitiu um bip. “Impossível. Você terá que ancorar a Landale VII no casco da nave e entrar usando o jato propulsor”.

Demi resmungou. “Ugh, eu odeio esses propulsores idiotas!” Apesar de tudo, ela removeu um dos itens compactos guardados atrás de seu assento e o encaixou nas costas. “Muito bem. Estou pronta”.

“Muito bem. Ancorando…”

Demi sentiu a nave se mover um pouquinho quando a âncora em forma de tentáculo da Landale VIIfoi lançada e atingiu seu alvo.

“…completo. Você pode desembarcar agora, Demi, tentarei me manter em contato com você”.

“Ok”, Demi respondeu com um suspiro enquanto fortalecia seus nervos. “Aqui vou eu!”

Com isso o vidro do cockpit se retraiu por sob a pele laconiana da nave, deixando a pequena andróide exposta ao espaço aberto. Ela deixou a nave rapidamente, com o cockpit se fechando atrás de si, e navegou pelo espaço rumo a um rombo no lado da nave. Então as trevas a envolveram, e ela sumiu de vista.

* * *

Por um momento tudo permaneceu em trevas, e então aos poucos uma cena foi se formando diante dos olhos de Wren. Ele estava em um dos níveis mais baixos dos laboratórios, presumivelmente no mesmo ponto em que Mium se materializara há quase um dia atrás. Fuoren sacou seu enorme pulse vulcan e saiu do módulo de teleporte rumo à câmara repleta de terminais, com seus sistemas de andróide em alerta máximo.

Sem maiores informações, ele pensaria que não havia nada de errado. Mas o conhecimento de que um andróide antigo e potencialmente mortal estava à solta era horrível demais para ser ignorado.

Felizmente, Fuoren manteve seu comunicador de pulso similar aqueles que todos em Palma II usavam desde sua última visita.

“Dahia,” ele sussurrou ao comunicador. “Pode me ouvir?”

“Estou aqui, Wren,” Dahl sussurrou de volta. “Onde você está?”

“Estou no teleporte,” foi a resposta. “Veja se Filho consegue localizar Mium.”

Tudo ficou em silêncio por um momento, e então Dahl tornou a falar.

“Nada. Ele não pode localizá-la em lugar nenhum.”

“Incomun,” Fuoren disse. “Mium deve ter mexido com a atuação dos sensores de Filho na área em que ela estiver.”

“Ela pode fazer isso?” Dahl disse engolindo em seco.

“É bem simples,” Fuoren respondeu enquanto sorrateiramente deixava o teleporte. “Entretanto, é preciso estar em um certo local. O problema é encontrar esse local.”

“Ótimo,” Dahl murmurou, fazendo uma anotação mental para lembrar de conferir isso com Filho pela manhã, supondo que o dia amanheça em Palma II. “Desculpe por não poder ajudá-lo, Wren.”

“Tudo bem. Me contacte se precisar de mim. Câmbio e desligo.” Apesar de sua alta estatura, o andróide era capaz de atravessar o labirinto de computadores, caixas e estações laboratoriais bem agilmente. Fuoren subitamente lembrou-se, enquanto aproximava-se de uma rampa de descida, que o único lugar no qual os sistemas de Filho poderiam ter sido manipulados ficava no laboratório 32, uma pequena sub-divisão do Departamente do Bio-técnicas localizado cinco níveis abaixo da atual localização de Fuoren. “Te peguei,” o andróide sussurrou, usando uma das expressões palmianas que aprendera com Demi. Ele cuidadosamente começou a descer a rampa.

* * *

Os corredores da espaçonave eram escuros e vazios, seu conteúdo há muito fora sugado pelo vácuo do espaço. Demi não pôde evitar um arrepio ao passar, demorada e cautelosamente, apenas dois metros acima do piso arruinado da passagem. A única luz vinha das estrelas, que eram visíveis através dos muitos buracos na lateral da nave (entre as quais Algol era apenas um pouco mais brilhante que as outras), e o sinalizador trazido por Demi, ajustado para produzir apenas uma pequena luz logo adiante da andróide, e nada mais.

“Demi, você pode me ouvir?” A voz de Filha ecoando na cabeça de Demi assustou a andróide.

“Oh, filha! É você! É bom ver… quero dizer, ouvir… que nosso sistema está funcionando!”

“Sim, fico aliviada também,” Filha respondeu. “Encontrou alguma coisa?”

“Não,” Demi respondeu abanando a cabeça. “o lugar parece deserto. Não há energia e–”

“Demi!” Filha gritou. “Você está aí?”

“Oh, o quê? Sim, Filha, estou aqui,” foi a tranquila resposta. “Eu encontrei algo, foi só isso.”

“O quê foi?”

Demi reduziu a força de seu jato propulsor e desceu suavemente até que seus pés tocassem o solo. “É uma câmara de vácuo, intacta, e aparentemente ainda funcionando.”

“Você vai entrar?” Filha perguntou.

“Sim, tenho que entrar,” Demi disse em tom determinado. “Não posso decepcionar mestre Wren. Ele quer saber o que é essa nave, e eu vou descobrir para ele.”

“Oh, Demi, por favor, tenha cuidado,” disse Filha. “Se a câmara a vácuo ainda estiver funcionando, existe a possibilidade de que o que quer que esteja do outro lado também esteja… funcionando.”

“Eu sei,” Demi disse aproximando-se da porta. “Descobriremos em breve…” E com isso, sua mão fez contato com a válvula, e abriu a passagem.

Demi emergiu na câmara vazia. Quando a porta atrás dela se fechou, a câmara se encheu de oxigênio e, para a surpresa de Demi, a gravidade se normalizou.

“Incomum,” Filha disse. “Só esta câmara e, talvez, o que quer que esteja além dela, deve estar funcionando enquanto o resto da nave está morta.”

“Ou isso,” sussurrou Demi, “ou, pelo que vi do lado de fora da nave, eu diria que inibidores de sensores de imensa magnitude estão funcionando por aqui. De qualquer forma, estou entrando. Não saia daí, ok?”

“Afirmativo,” Filha confirmou.

Demi tocou a próxima porta, e esta também se abriu.

Ela se encontrava então em um aposento completamente escuro que, como na câmara à vácuo, possuía oxigênio e gravidade. Demy ouviu um ruído próximo, e silenciosamente empunhou seu photoneraser e sua unidade phonomezer enquanto permanecia ali, nas trevas. Enfim ela não pode mais suportar o suspense, e tornou a acender seu sinalizador. Uma mulher estava agachada diante dela.

“Mium!” Demy gritou, quase deixando cair seu photoneraser. “Como você—”

“Não sou sua andróide, sua algoliana estúpida!” A gêmea de Mium disse.

“Então… quem é você?” Demi perguntou aterrorizada.

Apenas uma vez, Rika Ashley, a grande protetora de dois mil anos atrás, deixara Demi segurasse a Elsydeon, empunhando a espada da heroína lendária. Sendo uma andróide, Demi não esperava que nada acontecesse. No entanto, para sua surpresa, sua mente foi tomada por memórias, as memórias das gerações de protetores.

Ainda que todas as memórias tenham-na atingido, as de um protetor em particular, um homem do século do colapso chamado Rolf Landale, eram especialmente vívidas. Uma das lembranças era a de uma mulher de cabelos avermelhados, envolta em fogo e vestida com uma roupa negra sobre a qual estavam gravadas imagens dos três mundos habitados de Algol durante a era pré-colapso – Palma, Mota e Dezo. Isso, tirando a morte de uma garota de cabelos púrpura, havia sido a mais marcante memória de todas. Essa lembrança nunca deixou Demi.

E era exatamente essa mulher que estava agora diante dela.

“Cérebro-Mãe…” Demi sussurrou.

“Ora, ora, ora,” gargalhou a mulher. “Um solitário modelo-Demi. Você planejava me impedir sozinha? Ha, ha! No quê você estava pensando?” O modelo-Mieu conhecido como Cérebro-Mãe se aproximou.

“Filha, você está aí?” Demi perguntou aflita, de costas para a porta da câmara de vácuo. “Filha? Filha! Você pode me ouvir? Você pode me ouvir…?”

O original em inglês desse texto pode ser encontrado em http://users.skynet.be/fa258499/beyondalgo/story/tswk/tswk5.html

fanworks/alem_de_algol/historias/estranhos_que_conhecemos/estranhos_005.txt · Última modificação: 2009/01/15 14:38 por orakio

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