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Autor: Fernando Raffani
O velho estava sentado em um banco, no parque, calmamente observando as pessoas que passavam por ele. O sol estava brilhando no céu e havia muitas pessoas no parque. Havia pessoas caminhando ou correndo, casais abraçados sobre a sombra das árvores, crianças brincado, rappies comendo grãos de pipoca que foram derrubados sobre as calçadas. No entanto, o velho não estava interessado em nada em especial. Ele só estava lá, sentado, passando o tempo.
Outro homem idoso passou em frente ao banco, caminhando lentamente. De repente, o idoso parou, virou-se em direção ao outro homem sentado no banco e ficou parado tentando reconhecer alguns traços familiares na face enrugada do velho sentado. Este último achou estranho ver um homem desconhecido olhando para ele e passou a olhá-lo com um semblante que transpirava dúvida. Ao ter uma visão melhor do rosto aparentemente familiar, especialmente dos olhos que não haviam mudado nada com o tempo, o homem de pé arriscou um nome. – Rolf?
- Sou eu! – respondeu o velho sentado. Ele estava surpreso, pois não reconheceu o homem careca e de barbas brancas em sua frente.
- Cê nem me reconheceu? – O velho barbudo fingiu estar bravo, mas de forma jocosa.
- Oh, Josh?” Após uma surpresa inicial, seu semblante em dúvida deu lugar a um largo sorriso. - Como você me reconheceu? Eu nunca ia te conhecer…
- Pois é, deve ser seu corte de cabelo certim. É o mesmo que cê tinha 50 ano atráis. A única diferença é que seu cabelo ta brancão agora.
Rolf deu de ombros, como que dizendo “Fazer o quê?”. – Bem, pra mim foi bem mais difícil te reconhecer. Onde foi parar o seu cabelo, cara?
Kain levou sua mão para o couro cabeludo instintivamente. - Foi-se embora da minha cabeça, má meu cérebro ainda ta aqui dentro.
- Hahaha – Rolf riu – Estou vendo. Vem, senta aqui, meu velho amigo! – Rolf bateu com a mão no banco. – Faz tanto tempo que a gente não se vê. Como é que estão as coisas pra você?
- Pois é… tá tudo bem, na medida do possível. Sabe como é, nessa idade… - Kain comentou com aquela calma e resignação típica dos idosos quando falam das dores da velhice.
- Claro, eu sei muito bem. Sempre tem uma dorzinha chara aqui, alguma coisa que não funciona direito ali… – e, colocando a mão no ombro do amigo, acrescentou: - Estou muito feliz em te ver. Após o Grande Colapso, eu perdi o contato com todos vocês.
- Também acabei me lascando naquela época, Rolf, foi terrível. Eu tinha um monte de trampo arrumando umas máquina, quebrando as outra. Agora os dia de trampo está acabado. Mas, sabe, eu tenho saudade dos tempo em que a gente tinha o Climatrol pra arrumar o tempo pra gente. Hoje em dia tá tão quente, mal dá pra guentá. – Kain puxou o colarinho da sua camisa pra tentar se refrescar. Ele suava bastante.
- Com certeza, cara! Pô, eu estou usando protetor solar fator 120! Minha médica me recomendou usar 200, mas aí eu já achei demais.
- Ah, é, aí ela viajou na maionese! Minha pele é mais clara que a sua, Rolf, e eu uso 150. A propósito, sua médica é aquela ainda? A Amy?
Rolf pensou um pouco antes de responder. Só agora ele se tocou que ele mal se lembrava dos seus antigos companheiros de batalha nos últimos tempos. – Ah, nem, ela se mudou daqui a muito tempo e eu nunca mais a vi.
- Nem eu, cara. De fato, cê é o único cara do nosso grupo com que eu falei deisde 1290! É uma pena que a gente perdemo o contato.
- Ah, isso é verdade, mas eu já meio que esperava. Como irmãos de guerra, nós éramos nossos melhores amigos durante a guerra. Mas depois que acabou, cada um voltou pra sua casa e retomou a sua vida como se nada tivesse acontecido.
- Ah, é, mas cê tinha mais que amigo no grupo naquela época, né, safadão? Lembra daquela delícia de cabelos verde? Ela era louquinha por ocê, néra não? – Kain piscou para o amigo com um sorriso malicioso em seus lábios.
- A Shir? Aquela pilantra! – Rolf gargalhou e depois colocou as mãos sobre suas coxas, com o olhar vazio no horizonte, tentando resgatar memórias a muito esquecidas. – Ela era caidinha por mim, mas você a conhecia, Kain. Ela era muito volúvel pro meu gosto, não dava pra levar ela a sério. Eu espero que ela tenha sossegado, pois ela era fogo. Jogo duro, mermão.
- Hahaha, é verdade, Rolf, é verdade. – Kain caiu na gargalhada e deu uns tapas leves nas costas do amigo. – Mas o nosso Don Juan tinha outra gata a fim dele, né verdade? Eu até achava que cê tinha se amarrado ca Anna. O que se assuncedeu?
- Ah… A Anna… - Rolf perdeu seu olhar no horizonte novamente, mas dessa vez as lembranças eram mais vívidas. Ele não conseguia esconder que suas memórias com a Anna eram bem mais prazerosas, pois elas ainda atiçavam os seus sentimentos. – Ela realmente era a mina, mas eu ferrei tudo. Eu estava tão preocupado em ajudar a consertar as coisas quando eu voltei da nossa luta contra os terráqueos que eu não dei a ela a atenção e o carinho que ela merecia. Talvez eu pudesse ter agido de forma diferente, mas eu não conseguia pensar em um namoro sério durante o caos do Grande Colapso. E também, eu era um moleque, só queria curtir e ela, acredite ou não, era mais certinha que a Amy. Ela era uma mulher maravilhosa…
- E gostosa, também. Gostosa pra cacete! Meu, eu vi ela um bocado de anos atrás e ela ainda tava uma delícia. Aposto que ela ainda continua um tesão mesmo aos setenta. Você perdeu uma mulher, mermão…
- Com certeza, eu perdi. - Rolf suspirou fundo. As lembranças de Anna ainda produziam um impacto grande em seu humor. Se tinha algo que ele se arrependia na vida era ter deixado a Anna escapar.
Rolf ficou calado por um tempo porque essas lembranças do passado trouxeram à tona outras lembranças que mexiam com ele ainda mais. – Mas o que eu realmente me arrependo, Kain, é de ter perdido a Nei.
- Ah, Nei… - O nome da garota agiu como um encanto lançado sobre Kain, que imediatamente perdeu o humor amigável.
- É, Josh, eu fiquei com ela por menos de um ano, mas até hoje eu não consigo parar de pensar nela. Eu tenho medo de estar esquecendo como ela era…
- É.
- Eu tava olhando as minhas coisas um dia desses e percebi que eu nunca tirei sequer uma fotografia dela. Eu fiquei tão triste, Kain. Eu nunca queria que ela se fosse… Ela era tão especial…
- Com certeza… - A voz de Kain havia se reduzido a um fraco murmúrio, cheio de emotividade.
- Ela foi tão especial pra mim e agora não há nenhum registro de sua passagem pelo mundo… Quando eu morrer, as lembranças dela vão desaparecer pra sempre. - Rolf estava extremamente absorvido em seus próprios pensamentos e sentimentos, ignorando o resto.
- Pois… É…
Kain tinha os olhos cheios de lágrimas. Além do impacto que suas próprias memórias de Nei tinham sobre ele, o fato de seu amigo sugerir que só ele se importava com a garota Numan machucava demais seus sentimentos.
- Bem, deixa pra lá. Minha amada irmã desapareceu para sempre do universo, mas ela sempre estará viva na minha mente e no meu coração, enquanto eu existir.
Rolf saiu do transe em que ele próprio havia se imposto e olhou para o lado, para ver seu amigo, mas foi surpreendido pelo fato que Kain não estava mais lá. Ele nem havia notado que o outro homem já havia se levantado e lentamente ia embora.
- No meu coração também… – Kain disse com uma voz fraca, sem se virar.
- O que? – Rolf ficou assustado com a reação e a resposta do amigo.
- Ela estará sempre no meu coração também! – o grito saiu cheio de emoção, com a força de um sentimento imenso represado por meio século. - Até logo, Rolf!
Kain foi embora enquanto desabava em choro. Rolf ficou paralisado em seu lugar, sentado no banco da praça. Ele se sentia confuso e triste. Rolf nunca suspeitou que o seu amigo tivesse sentimentos tão profundos por sua irmã. E ele esperava que Kain pudesse perdoá-lo um dia por essa tamanha falta de empatia.