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Autor: Olfer Bragdale
Seriam vários os adjetivos que poderiam ser usados, mas, quando se estava diante de alguém como Gaya Landwin, 'ponderada' era uma qualidade que certamente se perdia no esquecimento de qualquer mente.
“Mas isso é simplesmente burrice!” exclamava a garota com as mãos na cintura e uma expressão de impaciência.
“Você parece esquecer que foi justamente essa coisa que quase destruiu todo o Sistema de Algo há duzentos anos. Acho perfeitamente sensato não buscarmos esse caminho.”
Gaya Landwin fechou os olhos e deu um longo suspiro, sacudindo a cabeça para os lados em sinal de discordância. Era uma jovem de grande coragem, impetuosa e impaciente, característica curiosa em uma das mais promissoras estudantes da Academia de Piata. Deu alguns passos em direção ao grande espelho que havia em uma das paredes do laboratório e suspirou mais uma vez enquanto olhava seu reflexo. Era uma moça de grande beleza, mas não era isso que Gaya enxergava naquele momento. Seu longo cabelo, caindo liso e negro quase até o meio das costas, emoldurava o belo rosto, de pele muito clara e faces coradas pela intensidade de suas emoções; o nariz bem feito, arrebitado, deixando clara a concordância com traços de sua personalidade, marcava o centro harmonioso de sua expressão inquieta; os grandes olhos, negros como os cabelos, fixavam-se agudamente, sem piscar, na própria imagem refletida; a boca apertava-se, fazendo os lábios rosados arroxearem-se.
Mas nada disso ela percebeu naquele instante. A imagem refletida no espelho tinha para Gaya um sentido bem maior. Relaxou o rosto e passou a examinar-se por inteiro no relfexo. Trajava o uniforme da Academia de Piata destinado às estudantes do nível avançado. Um vestido bastante justo, branco, que reluzia com uma textura plástica, com mangas curtas e uma gola alta que lhe chegava à meia altura do pescoço. O traje cobria-lhe o corpo adaptando-se perfeitamente as curvas de sua feminilidade, chegando até o meio das coxas alvas. Calçava longas botas azul-marinho que subiam até seus joelhos, e sobre o seio esquerdo carregava a insígnia da Academia de Piata. Após analisar a imagem por alguns segundos, sorriu satisfeita.
“Somos descendentes da grande civilização que povoou o planeta verde e trouxe as maravilhas da ciência para Algo por milhares de anos. Por que deveríamos temer o conhecimento criado por nossos ancestrais?” Insistiu.
Shalla Halford, uma moça pouco mais baixa que Gaya, de cabelos azulados, curtos, caindo-lhe a fronte em uma simpática franjinha sobre seus olhos ligeiramente puxados, deu uma boa gargalhada diante de toda aquela confiança. Eram ambas da mesma turma de estudos, tinham a mesma idade, moravam juntas nos dormitórios da academia há três anos, mas se conheciam há pelo menos quinze. Tinham gostos semelhantes, aspirações semelhantes, eram amigas, confidentes, companheiras em tudo, mas, apesar disso, não eram raras as ocasiões em que discordavam veementemente de alguma coisa. Shalla olhou com seus grandes olhos cinzentos, sorrindo.
“Já disse: foi exatamente essa tecnologia que destruiu o grande planeta verde, e por pouco não acabou com os descendentes dessa grande raça. Ou seja: nós!”
“Mas as coisas não são como antes. A experiência se acumula, ora.”
“Sim, mas não temos essa experiência. Nem sequer sabemos ao certo como o Cérebro-Mãe funcionava. Sem as grandes mentes que se foram com Palma, o longo caminho percorrido foi quase perdido. Duvido que tivéssemos condições de dominar esses conhecimentos assim com tamanha facilidade.”
“O que não admito é simplesmente destruir tudo e começar do nada!”
“Não vamos começar do nada, Gaya, temos grandes avanços aqui. Vivemos muito bem apesar da hostilidade de Motavia, e quase todo o conhecimento médico foi preservado. O mais importante já temos.”
“Mas ainda assim não podemos evitar a morte do planeta. Motavia perderá suas paisagens. Os lugares onde cresci já são mares de capim seco.”
A jovem lançou um olhar melancólico através da janela, que emoldurava a vista de um jardim verde cheio de vida. Criadas pelos palmanianos havia mais de mil anos, quando estes chegaram ao planeta, enormes redes de túneis e canais, tanto na superfície quanto no subterrâneo, traziam água dos mares e das nascentes nas montanhas para abastecer as cidades. Era suficiente para manter vicejando o brilho verde das plantas e o colorido das flores daquele pequeno jardim, mas nenhuma forma de irrigação seria suficiente para permitir que toda a superfície de Motavia permanecesse com o mesmo brilho. Sem a ajuda da própria natureza, logo ele voltaria a ser o planeta vermelho.
Gaya olhava com tristeza uma solitária borboleta rodopiando suas cores sobre as flores. Esta cena se tornava cada vez mais rara além dos grandes muros de pedra que cercavam as cidades.
“Não aceito que tenha de ser assim,” murmurou. “Nós fomos fortes o suficiente para dominar a própria natureza, e mudar-lhe os ciclos. Fizemos vida e verde brotar no chão vermelho, pedregoso e seco de Motavia; parece- me um medo exagerado. Por que simplesmente dispensar essa alternativa?”
Shalla se aproximou da amiga, tomando-lhe as mãos.
“É claro que os Mestres de Piata já devem ter gastado tempos e tempos refletindo sobre o assunto. Já faz mais de duzentos anos, Gaya. Não esqueça que o que temos são pontos. Pontos obscuros. Parte de um tecido não menos cinzento. Não podemos contar com o conhecimento do passado dessa forma. Existe muita coisa que mesmo os Mestres não compreendem. Não fazemos idéia de como funcionava o Cérebro-Mãe, não temos idéia precisa do tamanho da estrutura que era controlada por ele. Perdemos até o contato com os satélites. São duzentos anos sem qualquer manutenção, é possível que nem funcionem mais.”
“Eu sei. É verdade que somos uma simples sombra da glória que foi a civilização de Palma no passado. Há mais de cem anos que não podemos sequer fazer contato com Dezolis, e nossas naves já não são capazes de alcançar o espaço infinito.”
“A destruição de Palma foi como o arrancar das últimas páginas do livro de nossa história”, prosseguiu Shalla, “talvez tentarmos driblar isso, esquecer que existem enormes lacunas faltando e buscar lidar com as tecnologias que criaram o Cérebro-Mãe fosse tão perigoso para nós quanto é arriscado para uma criança tentar entender e fazer funcionar uma arma de phótons.”
“Só não sei se é sensato destruir essa tecnologia sem sequer tentar compreendê-la”, insistiu Gaya, mas sem a irritação que antes estava em sua voz.
“Aldo Seyon e outros Mestres já se encontram reunidos com o Parlamento de Aiedo. A descoberta do Centro de Amortecimento Tectônico não foi grande surpresa para ele. Já suspeitava ser essa a causa dos tremores de terra. Ele tem muitos anos de estudos sobre as ciências do passado, já viu outros semelhantes, mas nunca em funcionamento.”
“E mesmo assim eles, com certeza, chegarão à conclusão de que o melhor a ser feito é destruir os computadores e fechar para sempre a sua entrada”, disse Gaya com desprezo.
“Ora, garota, se ele não acha uma boa idéia tentar controlar o C.A.T., deve ser por ter consciência de que não temos capacidade para isso. Se as coisas fugirem de nossas mãos a cidade inteira pode ser destruída. Você conhece Seyon, e eu também. Tenho certeza de que ele não tem medo, mas seu bom senso lhe diz que os riscos são grandes demais.”
Gaya voltou a olhar para o espelho. Os riscos eram grandes demais. Enormes. Mas ela nunca fora de se preocupar além do necessário com riscos. Já tinha se decidido sobre o que fazer, e a grande dúvida que queimava sua jovem mente era se deveria ou não procurar o auxílio de Shalla. Seria a melhor companhia possível, mas também seria possível que o amor que sua amiga lhe tinha a levasse não apenas a negar ajuda como a tentar evitar sua pretendida excursão. Uma boa noite de sono talvez ajudasse. Os riscos eram enormes. “Quem sabe…”, murmurou.
Ainda não amanhecera e, enquanto as primeiras cores do dia venciam a escuridão da noite que se despedia de Motavia, o pequeno quarto de alojamento ainda se encontrava totalmente mergulhado em uma fria penumbra. Há quase uma hora Gaya Landwin já estava acordada, esperando o momento certo para agir. Precisava sair em segredo e escolhera as primeiras luzes do dia por dois motivos simples: primeiro, todos ainda estariam dormindo, e ninguém poderia lhe barrar o caminho; segundo, não gostaria de se arriscar em terras desconhecidas sem o sol para lhe indicar o caminho.
O quarto era decorado de forma bastante simples, de um lado quatro camas lado a lado tomavam toda a extensão do cômodo. Em frente a cada cama um respectivo armário de duas portas e duas gavetas. Ao fim do quarto uma janela dava para a rua principal, que circundava a Torre Central de Aiedo, logo a sua frente. Com todo cuidado para evitar ruídos, levantou-se da cama e caminhou até a porta. Já estava completamente vestida, com uma calça preta e botas longas. Um colete de couro se colocava sobre o corpo, deixando de fora apenas o pescoço e as mangas compridas da blusa amarela que usava por baixo da grossa proteção. Com a mão na maçaneta, a jovem parou um instante, pensativa. Olhou para a cama próxima a sua, onde Shalla dormia um sono tranqüilo. Gaya virou-se e com cinco passos longos alcançou a amiga. Curvou-se com cuidado para não deixar cair a grande bolsa que trazia à tiracolo e deu um suave beijo na testa da garota adormecida, que não pareceu sentir o gesto carinhoso.
Ainda na noite anterior havia tomado a decisão de não contar a ela suas intenções, conhecia bem sua amiga e tinha certeza de que esta tomaria providências para impedi-la. De qualquer forma, não pretendia se arriscar demais. Tudo o que queria era observar com seus próprios olhos o engenho de seus antepassados. Queria sentir a energia do lugar, ver o objeto de tantas histórias, e de que tanto ouvia falar nas aulas da Academia de Piata. Ver para acreditar na complexidade que causava tanto receio aos palmanianos do presente. Gaya não iria tentar por em funcionamento o antigo Centro, só gostaria de estudá-lo um pouco antes que fosse perdido para sempre. Quem sabe salvar alguns componentes, ou buscar arquivos históricos ou textos que pudessem ser analisados.
“Não se preocupe, garota,” murmurou para a amiga. “Tudo o que quero é passar os olhos sobre as páginas arrancadas antes que o livro vá para a fogueira.”
Respirou fundo, como se o ar absorvido fosse uma grande fonte de coragem. Dirigiu-se rapidamente para a porta, abriu-a e atravessou seus umbrais.
Agora estava em um longo corredor de paredes metálicas, de um tom cinza claro, cheio de portas arredondadas, azuis, dispostas regularmente em distâncias iguais. Há alguns metros de si pôde avistar um painel iluminado onde símbolos alaranjados indicavam que logo seriam cinco horas da manhã. Já deveria estar começando a clarear, mas o sol não apareceria realmente antes de uns trinta minutos pelo menos. Com passos decididos, Gaya tomou o caminho da esquerda, que a levaria até a saída do alojamento.
Diminuiu os passos ao fim do corredor e espiou o salão de entrada para se certificar de que ninguém se encontrava presente. Era uma sala oval com três saídas. As passagens leste e oeste opunham corredores que davam para os quartos e ao sul uma grande porta de vidro azul-escuro levava às ruas de Aiedo, de modo que as saídas formavam um grande “T”. Na porção norte do salão se encontrava um balcão marrom de onde uma recepcionista atendia aos visitantes. Sempre cheia de gente e inundada pelos mais diversos ruídos durante o dia, o próprio lugar parecia mergulhado num sono profundo nas primeiras horas da madrugada. A jovem seguiu em direção à porta de vidro e seus sensores de movimento logo detectaram a presença da garota fazendo com que as grandes lâminas azuis deslizassem para os lados, dando passagem à nossa ousada aventureira.
Dali em frente seria mais fácil. Não tinha como passar despercebida pelas sentinelas, mas estes não tinham por que impedi-la. Com sorte, sequer perguntariam para onde estava indo, e esta hipótese lhe parecia a mais agradável. Uma vez fora dos muros de Aiedo a jovem não teve dificuldades para seguir os mapas da região e dirigiu-se para o leste.
“Acho que não levarei mais que trinta e cinco ou quarenta minutos para chegar lá. Quando todos acordarem e começarem a se perguntar onde fui, talvez já esteja no caminho de volta”, pensou.
Olhou para as poucas estrelas que ainda se faziam notar no céu e sentiu a ansiedade dar-lhe mais velocidade às pernas. Quase quinze minutos já haviam se passado quando um minúsculo ponto de luz passou a se movimentar no céu, deixando uma cauda fina como rastro amarelo.
“Um meteoro?”, pensou. “Que curioso. Não soube de nenhuma previsão de queda de meteoro ou passagem de cometa por estas bandas. Será que os sensores deixaram passar este? Bom, eles já não dedicam tanta atenção aos movimentos no céu como na época em que tínhamos naves cruzando o espaço.”
O facho de luz se aproximou rápido de algumas montanhas mais ao longe, e Gaya esperava perceber algum sinal que indicasse pistas sobre a força do impacto. Mas a pequena bola de luz pareceu diminuir sua velocidade. De fato, se a cada vez momento mais se aproximava dos picos, mais lenta também era sua trajetória. Gaya inquietou-se. “Mas o que é aquilo? Uma nave, por acaso? Não, não pode ser. Não existem naves em Algo há mais de cem anos. Vamos Gaya, você está sendo enganada pelo ar rarefeito das montanhas, pelas cores da manhã e pela sua barriga que reclama a falta de um desjejum no mínimo decente.”
O ponto de luz sumiu por trás da distante paisagem. A Jovem ainda levou uns minutos a refletir e, depois, lembrando que, fosse o que fosse, teria sido avistado por mais alguém e logo as informações chegariam até ela, prosseguiu seu caminho. Com mais algum tempo de caminhada já podia ver bem distintas as colinas rochosas do leste; em poucos minutos estava cercada por um mar de pedras lisas e com uma forte coloração avermelhada. Demorou um pouco e o sol já acelerava sua subida quando Gaya finalmente se viu diante de uma abertura de pouco mais de cinqüenta centímetros de largura, mas com quase dois metros de altura. Era profunda o suficiente para que a garota não lhe pudesse perceber até onde ia seu corredor de pedra.
“Só pode ser aqui”, disse em voz alta. De fato, não havia encontrado outras cavernas significativas, apenas aberturas rasas que por maior que fossem suas entradas não iam além de oito ou dez metros dentro das rochas. Enchendo-se de coragem, Gaya tomou em mãos uma grande lanterna e entrou no túnel de pedra. Sua precaução, entretanto, não se mostrou muito necessária, ao fim de cinco ou seis minutos de caminhada dentro dos corredores pôde perceber uma luz suave amarelada virando uma curva adiante. Havia uma pequena abertura no chão, mas que podia dar-lhe passagem sem dificuldades, e de lá emanava a claridade. Ansiosa, pulou sem medo.
A estudante parou maravilhada. Estava dentro de um imenso corredor, construído no seio da terra rochosa. E algo naquelas paredes de metal frio, num primeiro instante, lhe transmitiu um sentimento de bem-estar. Uma atmosfera de familiaridade chegou ao seu interior. Podia perceber claramente as semelhanças entre a engenharia que criara aquele lugar em relação as grandes construções que se desenhavam na superfície de Motavia. Podia perceber o parentesco entre aquele mundo e o seu mundo. Mas, tão impressionantes quanto as semelhanças eram as diferenças. Gaya finalmente lembrou-se da lanterna que carregava e a desligou. Antes não havia reparado, mas agora que se encontrava sem sua fonte de luz, começou a procurar que tipo de força deixava aquele lugar tão cheio de claridade. Mas não percebia uma fonte de luz. E não havia, de fato. Era como se o brilho amarelado brotasse das próprias paredes do túnel.
Há alguns metros a frente havia dois grandes painéis. Destacavam-se das paredes pelo alto relevo, pensou a princípio, mas um segundo momento de observação mostrou que na verdade estes sequer tocavam a superfície do túnel. Eram como enormes quadros que flutuavam no ar, rente as paredes, e Gaya só podia supor que se mantinham estáveis por algum tipo de força magnética, mas isso só lhe ocorreu tempos depois. Antes de refletir sobre os mecanismos de funcionamento dos painéis, olhava extasiada para a janela aberta para o espaço que era um deles. Ora, apesar de estar metros abaixo do solo, a garota podia ver as estrelas através daquele quadro. Mas não de forma estática, como uma gravura. Havia profundidade, luz e movimento. Gaya estava diante de uma janela para o cosmo, dentro de uma grande rocha.
Gaya caiu de joelhos, atordoada. O que estava errado?Aquilo era muito mais do que aprendera nas aulas, ou mesmo imaginara. Pela primeira vez pensou que ali realmente poderia existir uma sabedoria além de suas capacidades. Não, não era apenas “bom senso”, como sugerira Shalla. Se o Dr. Aldo Seyon fosse tão inteligente, e certamente o era, havia também medo em sua decisão. Ela sabia. Ela sentia. Gaya, agora, estava apavorada. No futuro, a jovem não saberia dizer por quanto tempo permaneceu ajoelhada observando aquele lugar.
O segundo painel era mais simples, mas não menos impressionante. Mantinha uma seqüência de luzes amarelas correndo sobre sua superfície. Como se acendiam, ela não podia imaginar. Parecia uma simples lâmina de metal, fina demais para conter qualquer tipo de mecanismo.
Após alguns minutos de estudo Gaya compreendeu que as corredeiras de pontos amarelos formavam uma espécie de mapa dos túneis; então, o pequeno ponto de luz branca deveria marcar sua posição. Não! Era mais que isso. O ponto luminoso era Gaya. Se a jovem se movia, este se movia junto, acompanhando seus movimentos. Por Algo! Todo o lugar parecia vivo. Emanava vida. E sentia a presença dela. Era maravilhoso.
Sem poder resistir à atração que aquelas luzes lhe provocavam, a estudante estendeu os braços e tocou o painel. Sentiu um frio envolver sua mão, e um leve formigamento. Era uma sensação diferente, mas não desagradável. Imediatamente, o mapa se desfez, e todos os pontos luminosos concentraram-se sob sua mão, girando velozmente ao redor das pontas dos seus dedos. Assustada, Gaya retirou bruscamente a mão do metal e assistiu atônita os pontos coloridos se reorganizarem sobre a superfície lisa, formando uma mensagem:
DESCONHECIDO
“Queira apresentar sua identificação, senhorita.” Foi o que uma voz metálica, mas suave e perfeitamente inteligível disse.
Gaya estava diante de um jovem cuja face inexpressiva e o tom prateado de sua pele eram os únicos indícios de que este não era humano. De onde tinha vindo ou como se aproximara sem ser percebido, ela não sabia. Estava elegantemente trajado, com um uniforme que lembrava as vestes dos Mestres da Academia de Piata, mas que, de alguma forma, também suas roupas deixavam transparecer a alta tecnologia de seus criadores, o cinto e as braçadeiras pareciam feitas de luz, e ela não pôde reconhecer o brasão que ele trazia ao lado esquerdo do peito.
“Senhorita, esta é uma área restrita; queira, por favor, apresentar sua identificação.”
“Eu… eu não…” balbuciou a garota sem saber o que dizer diante daquele fantasma.
O rosto inexpressivo do andróide adquiriu um ar sério. “Senhorita, apresente sua identificação!” Agora sua voz se tornara imperiosa e grave. A jovem deu dois passos para trás e o estranho jovem olhou-a surpreso. Seu corpo suspendeu-se há alguns centímetros do solo e flutuou em sua direção.
“Senhorita, essa é uma área de acesso restrito. Preciso que se identifique. Caso contrário serei obrigado a chamar os sentinelas.” Sua expressão agora era firme e cheia de autoridade, como um líder militar. Gaya não pôde evitar que o medo tomasse conta de si; virou-se, e correu tão rápido quanto suas pernas permitiam.
A garota percorreu os corredores sem rumo, movida pelo medo que sentia, sem dar atenção alguma ao caminho que seguia. Logo alcançou uma porta dupla com umbrais salientes feitos de um cristal translúcido, e de dentro destes emanava um brilho azulado, frio. Aos lados havia painéis semelhantes aos que vira anteriormente, e Gaya pôs-se a tatear o metal liso com ambas as mãos, em busca de acionar alguma espécie de comando que pudesse abrir as portas. Mas a resposta ao seu ato impensado foi um som estridente, repetido, como uma sirene de alerta. O Túnel, até então vivamente iluminado, escureceu mergulhando o ambiente numa penumbra. E uma série de traços luminosos apareceu no teto. Gaya sentia a cabeça girar e doer; estava cansada e confusa. O barulho contínuo e agudo não a deixava raciocinar. Começava a ficar apavorada. Uma voz feminina ressoou pelos alto- falantes invisíveis, pois Gaya não reconhecia estrutura nenhuma que pudesse emitir ondas sonoras, mas a jovem não conseguiu compreender o que dizia. Em um gesto de desespero, passou a bater com os punhos fechado na lâmina de metal flutuante à sua frente.
Então surgiram do nada, materializaram-se na sua frente a partir de fendas que surgiram no solo, três grandes robôs humanóides, com corpo vermelho escuro, e luzes brancas no lugar dos olhos. Ao mesmo tempo, os três ergueram os braços metálicos, apontando armas de disparo para ela, e Gaya caiu de joelhos.
Um chiado se fez ouvir por trás de sua cabeça, ela pôde ver a porta vibrar soltando jatos de gás enquanto abria-se. Ajoelhada, a garota primeiro vislumbrou as longas botas de metal que subiam até os joelhos de um vulto vestido de couro negro. Ao lado pendia a ponta de uma espada comprida. A cabeça da jovem pôs-se a girar. Tudo escureceu. Depois não viu mais nada.
Fim da parte 2