M E N U
Jogos
Jogos (série clássica)
Jogos (spin-offs)
Jogos (remakes)
Jogos (nova geração)
Colunas
Fanworks
Diversos
M E N U
Jogos
Jogos (série clássica)
Jogos (spin-offs)
Jogos (remakes)
Jogos (nova geração)
Colunas
Fanworks
Diversos
Autor: Rulakir Dan
– “Como você entrou nessa?” Foi com essa pergunta que aquela mulher de cabelos vermelhos quebrou o silêncio que predominava.
– “É uma história muito longa” respondeu Nero, que foi pego de surpresa.
– “Tempo é o que não nos falta, é capaz de ficarmos aqui por várias horas”.
Era o fim de uma tarde branda, Nero e sua companheira que acabara de conhecer, estavam escondidos entre as árvores observando a estrada que cruzava a floresta de Eppi.
Lassic confiscava a comida do vilarejo como forma de pagamento dos altos impostos, e os Robotcops usavam aquela estrada para transportar os alimentos até o Espaçoporto de Camineet. Seis integrantes do Grupo de Resistência, estavam espalhados em duplas preparando uma tocaia na floresta.
A noite já estava chegando, e prometia ser longa e fria e poderia demorar horas até o “pacote” passar. Uma conversa longa, parecera para Nero um bom artifício para ajudar a esquecer o frio e acalmar os nervos. Principalmente se o assunto envolvia sua amada irmã e os dias que não voltariam mais. Além do mais, aquela nova amiga parecia disposta a ouvir.
– “Qual seu nome?”
– “Rikka.”
– “Bom Rikka, eu sou Nero. Se a história ficar chata, não hesite em pedir que eu pare.”
– “Não se preocupe com isso, eu sou uma ótima ouvinte. Por favor me conte.”
A persistência e curiosidade dela acabaram motivando Nero. Ele suspirou e olhando para o céu, por uma brecha entre as árvores, parecia procurar uma estrela em especial. Voltou-se para Rikka e começou:
– “Eu nasci em Scion, onde meus pais se conheceram e casaram e onde pretendíamos morar pelo resto de nossas vidas. Meu pai era ferreiro e dono de uma loja de armas e minha mão cuidava da casa. Nós éramos uma família feliz. Um mês antes do meu quinto aniversário, veio a notícia que mamãe estava grávida. Apesar da grande alegria que isso nos trouxe, meu pai ficou bastante preocupado. As coisas já não iam bem, a crise afundava o comércio e os novos impostos empurravam Scion para uma possível decadência. Minha mãe tinha um irmão em Camineet, uma região que resistia aos acontecimentos e parecia prosperar cada vez mais. Ele nos chamou para morar na casa dele e ainda prometeu um emprego no Espaçoporto para meu pai. Nós resistíamos à idéia mas a tirania de Lassic parecia ficar gradativamente pior.
Passaram alguns meses e Alis nasceu. Ela era linda e tinha um olhar penetrante. Era incrível a força que ela transmitia mesmo sendo um bebê. Com a chegada dela, as necessidades aumentaram e continuar em Scion ficaria mais difícil do que já estava. Depois de alguns dias ficou decidido: iríamos morar com o meu tio em Camineet. Marcamos a mudança para dali a 3 meses. Era o tempo necessário para minha mãe se recuperar, não que a viagem fosse longa, 1 dia no máximo, mas andar em espaço aberto estava ficando perigoso, não como nos dias de hoje, mas alguns boatos já corriam pelas redondezas.
No dia da viagem, tivemos a boa notícia de que mais três pessoas, uma família e uma moça, que também “fugiam” da crise de Scion, iam para Camineet conosco. Ficamos mais aliviados, pois dessa forma a viagem parecia mais segura. Puro engano. Foi um dia terrível para mim, faz tanto tempo, e eu era tão novo, mas mesmo assim me lembro como se fosse hoje. Estava muito quente e partimos logo cedo, meu pai conseguiu alguns cavalos emprestados. Com isso a viagem seria reduzida em muitas horas e com alguma sorte chegaríamos com o cair da noite. A primeira parte da viagem foi muito tranquila. Meu pai ia na frente comigo na garupa, minha mãe vinha logo atrás carregando Alis numa mochila feita exatamente para transportar bebês, seguindo ela vinha Tessa, a senhora Ruth e seu marido que fechava a fila. Cavalgamos por quase 8 horas seguidas quando paramos para uma refeição. Descansamos um pouco mas minha mão reclamava de fortes dores nas costas. Tessa se ofereceu para carregar Alis pelo resto da viagem, ela adorava crianças e estava especialmente encantada por minha irmã. Minha mãe aceitou a oferta. Mal sabíamos que isso salvaria a vida de Alis.
Logo estávamos seguindo viagem, e agora mais apressados do que antes. O tempo começava a fechar, uma tempestade parecia se aproximar, ninguém dizia uma palavra, todos pareciam tensos. Meu pai cavalgava com a mão na espada, eu agora ia com minha mãe. Mas isso não evitava a estranha sensação de solidão que comecei a sentir, uma força obscura parecia tomar conta dos meus pensamentos, um medo terrível dominou meu coração, eu sentia a presença de algo, algo extremamente poderoso, se fechasse os olhos, era capaz de ver o rosto negro dessa criatura. Era coisa de criança, não acredito que exista algo tão terrível assim.
Mas tudo que se passava em minha cabeça foi interrompido pelo relinchar de um dos cavalos, todos eles pararam, estavam assustados com alguma coisa, se estabeleceu um silêncio funesto, uma expectativa insuportável. Nada se movia. O mundo parecia estar parado. De repente um grito veio do final da fila, quando me virei só tive tempo de ver Ruth caída no chão banhada em sangue. Seu marido desmontou e correu para o lado dela puxando a faca que carregava. Não demorou muito para eu entender o que estava acontecendo: quatro criaturas medonhas: tinham a carcaça avermelhada e uma cauda que parecia uma agulha gigante. Estávamos cercados, meu pai e o marido de Ruth tomaram a frente para nos defender. Três deles ficaram ocupados, mas um deu a volta e veio na direção de nosso cavalo, que se assustou e se ergueu nas patas traseiras para tentar fugir. Nesse movimento eu acabei caindo. Minha mãe fez o cavalo voltar para vir em meu socorro, eu vi quando ela estava se aproximando, estava quase conseguindo, quando num salto, aquela maldita criatura ficou entre nós. Eu não pude fazer nada, estava com muito medo. Eu era só uma criança mas queria parar aquele monstro.
Foi apenas um golpe; um segundo; um grito. Ela chamou meu nome… foram suas últimas palavras. É uma cena que eu não consigo esquecer: minha mãe morta, com os olhos abertos voltados em minha direção. Mas foi tudo muito rápido, nesse momento meu pai já vinha em minha direção desesperado com o que acabara de acontecer. Atrás dele jazia o marido de Ruth e uma das criaturas, mas ao virar as costas, meu pai se entregou à morte. Ele até conseguiu atingir o monstro que estava perto de mim, mas as outras duas criaturas tiveram a chance de golpea-lo. Foi a vez de ver meu pai morrer.
Naquele exato instante toda minha vida se esvaziou. Tudo que eu tinha estava ali no chão, sem vida . Eu desejei, não pela última vez, estar morto. Apenas por um motivo eu não me entreguei.
Antes de tombar meu pai gritou: “Salve meus filhos”. A ultima ação de meu pai não foi uma atitude desesperada , e sim uma esforço final. Foi o modo que ele achou de manter o caminho livre. Livre para alguém que eu havia esquecido: Tessa. Ela vinha rasgando o campo numa velocidade incrível. Às costas, trazia o motivo pelo qual eu quis viver: Alis. Eu era agora o responsável por ela, o único que poderia lhe contar como eram nossos pais, e para isso, eu tinha que viver.
Só precisei erguer meus braços para Tessa, que se mostrou uma magnífica amazona me puxando para sua garupa. Com uma manobra fantástica, ela saltou o corpo do meu pai e da criatura que ele havia abatido. Um dos monstros que restou, ainda tentou nos atingir, o golpe passou perto, mas o cavalo que estávamos , era extremamente veloz. Em poucos minutos estávamos longe daquele cenário horrível. O resto da viagem foi muito ruim, estávamos cansados, tristes e encharcados, a tempestade caiu fortíssima. Chegamos a Camineet durante a madrugada. Meu tio Loan , extremamente aflito, nos esperava na porta. Foi muito triste contar toda a história para ele.
Tessa se despediu, e foi para a casa de sues familiares. Antes de partir ela me disse que nos céus eu encontraria a razão para continuar lutando. Eu nunca mais a vi. Alguns anos depois, soube da morte de uma guerreira amazona, com a mesma descrição dela, mas a memória de uma criança pode falhar, e certeza eu nunca terei.
Passaram-se oito anos, meu tio se esforçava para dar o melhor para Alis, enquanto eu tentava demonstrar uma força que não tinha. A vontade de proteger minha irmã crescia vorazmente tanto quanto minha admiração. A incidência de monstros aumentava, e quase ninguém saia dos limites da cidade. Por esse motivo, decidi comprar uma espada pequena e começar a treinar. Foi quando conheci Nekise um jovem que sonhava com aventuras e tesouros, dizia que queria ser um grande guerreiro de renome. Nosso ideais eram diferentes mas o objetivo era o mesmo: aprender a manusear um espada. Nos tornamos bons amigos e treinávamos todos os dias e através dele acabei conhecendo outras pessoas que sonhavam com guerras, pessoas revoltadas com a atual situação. Foi quando tive o primeiro contato com o grupo de resistência. Mas eu era muito novo e, como eu já disse, estava preocupado com Alis. Meu medo de vê-la sofrer era tanto que eu isolei ela do mundo, por causa disso minha irmã só tinha uma amiga. O nome dela era Suelo, uma menina muito boa que adorava a Alis. E foi esse medo que me fez desconfiar de meu tio. Foram mais dois anos e meu tio se meteu naquela maldita religião que até hoje cresce por aí, vivia dizendo que estava velho e não queria morrer. Ele mudou muito, saia de madrugada, passava dias sem dar uma palavra, brigava com a gente e gastava quase todo o dinheiro em dízimos. Depois mudou o discurso, dizia que estava ficando jovem, e que um dia seria poderoso, ficou ganancioso. Essas atitudes estavam assustando a Alis, que chorava todos os dias, e queria dormir todas as noites na casa da Suelo, a situação estava ficando insuportável. Até que um dia, em que Nekise não pôde ir treinar, eu voltei mais cedo, quando entrei em casa ouvi uma gritaria que vinha do quarto, era a voz da Alis. O desespero tomou conta de meu corpo, a única coisa que passava em minha cabeça era a morte de meus pais, ecoava na minha mente, o grito de “salve meus filhos”, era a minha vez de cumprir a promessa. Puxei minha espada e atravessei a porta, flagrei meu tio com um cinto na mão batendo nela. Naquele instante eu comecei a odiá-lo, mais do que qualquer coisa, eu olhava para ele e via os scorpions. Eu ordenei que a Alis saísse, não queria que ela visse a cena que eu já sabia que ia acontecer, assim que ela passou pela porta eu parti pra cima dele, com toda a raiva de quinze anos, eu o atingi como se ele fosse o culpado por tudo, atravessei-lhe o peito sem piedade. Saí do quarto sorrindo, satisfeito, dizendo para minha irmã que iríamos nos mudar, a alegria dela foi tanta que ela nem perguntou o por que, e até hoje ela não sabe, ou provavelmente, finge que não sabe o que aconteceu naquele dia. Usei as economias de meu tio para comprar uma pequena casa perto da casa de Suelo, já que a partir daquele momento eu teria que trabalhar seria bom que ela ficasse com alguém de minha confiança.
Foi nessa busca por dinheiro que eu falei com Nekise e acabei me juntando a um grupo de rebeldes que mudaram minha vida com seus ideais. Eu comecei a entender como Lassic oprimia as pessoas com sua tirania. Pior, algumas investigações nos levaram à certeza de que ele era o responsável pela absurda quantidade de monstros que aterrorizavam Algol. Ele era o culpado, foi ele quem, indiretamente, havia matado meus pais. Lassic era o meu alvo. Um ano depois nosso principal objetivo tornou-se reunir novos adeptos para derrubarmos o Rei. Nekise abandonou o grupo para se juntar a um guerreiro chamado Odin, dessa forma ele poderia realizar seus sonhos. Dos monstros que nós abatíamos, eu tirava o sustento de Alis, para quem eu não contei sobre minha fonte de renda. E foi desse jeito que fomos levando nossas vidas.
Desde que eu entrei no grupo, muita coisa mudou dentro e fora de mim. Eu ganhei muita maturidade, ver o sofrimento do povo de todo o sistema Algol mudou meus sentimentos. Comecei a ter noção do meu egoísmo e mudei meus pensamentos. Já não lutava por simples vingança, eu queria justiça, queria ter certeza que minha irmã teria um mundo melhor para viver. Minha irmã… ela também mudava, só eu que não via. Estava crescendo. Ela sempre foi muito forte, cresceu sozinha, sem os pais, aguentou um tio violento… e eu, preocupado em protegê-la, nunca estava por perto, e ainda por cima não permiti que ninguém se aproximasse dela. E ela passou por isso com toda a resignação possível. E ela estava cada vez mais sozinha, Suelo entrou em treinamento para desenvolver seus poderes, se mostrando uma poderosa Healer, e eu tentei ocupar esse vazio. Foi um ótimo período, onde eu me aproximei, tentei ensinar tudo o que eu sabia para ela. Descobri muito sobre sua personalidade e sentimentos. Viveu tão pouco e me disse tanto. Eu via nos olhos dela tudo o que eu havia sentido, mas com algo a mais. Eu queria mudar o mundo e nela eu via a personificação desse sonho. É uma pena que ela mesma não acredite nisso. Hoje ela tem 18 anos e continua me surpreendendo eu gostaria de…”
Nesse momento, Nero foi interrompido por um barulho que vinha do fim da estrada. Rikka e ele se ajeitaram entre os arbustos, seguiu-se um silêncio fúnebre, o frio estava mais forte. Nero estava receoso, ele sentia a mesma presença que o havia incomodado no dia da morte de seus pais que ele acabara de relatar para Rikka. Ele se virou, estava muito nervoso, estava procurando alguém que não estava ali, mas que ele tinha certeza que os observava. Ele podia sentir a cruel satisfação deste ser. Estava com muito medo mas ao mesmo tempo tinha a estranha sensação de que iria encontrar seus pais. Foi nesse momento que ele entendeu o que se passava. O barulho voltou a ser ouvido, e dessa vez de forma constante, já podiam ver um grupo de Robotcops vindo pela estrada. Piscaram suas lanternas na direção dos outros que estavam escondidos. O alvo estava quase em frente a eles, segurou o cabo de sua espada com toda força e disse ao ouvido de Rikka:
“Pela Alis e pelo futuro de Algol”
Nero saltou para a estrada com um grito, todos entenderam o sinal e vieram em seu encalço, eram poucos Robotcops, a operação seria um sucesso. Seria, se não fosse o reforço que vinha com uma boa quantidade de guardas imperiais que aprisionaram todos os rebeldes. Eles foram amarrados, amordaçados e levados para Camineet. Chegaram lá junto com os primeiros raios de sol. Foi um verdadeiro tumulto, todos queriam ver o que estava acontecendo. O barulho da confusão atravessou a janela de uma das casas e despertou uma bela jovem. Um tanto assustada se deixou levar pelo desespero ao ouvir o nome de Nero gritado pela multidão. Ela correu para rua a tempo de ver seu irmão levando uma última pancada na cabeça. Alis chegou perto, chorava compulsivamente. Nero deu sua espada a ela e confiou-lhe uma missão. Ela se sentia tão fraca, tinha tanto medo mas nos olhos dele existia tanta confiança, como ela poderia fraquejar agora diante de alguém que dedicara toda a vida para cuidar dela? Alis pegou a espada e jurou cumprir o que havia prometido, mesmo que por vingança. Mais uma vez ela estava sozinha, sozinha contra um adversário muito mais poderoso. E para vencê-lo, mais um vez, teria que vencer a si mesma.