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Autor: Olfer Bragdale
Ao avistarem Piata, no horizonte, notaram uma grande inquietação entre guardas. Com certeza perceberam que Gryz se encontrava com eles. Chaz sacou a espada e ficou em alerta. Não deixaria que machucassem seu amigo, e pela primeira vez pensou que entrar na Academia de Piata poderia ser bem difícil.
O plano foi concebido pelo próprio Gryz. Eles entrariam levando-o como prisioneiro, com as mãos amarradas, e Chaz levaria às costas o machado do guerreiro motaviano. Por medida de segurança, cercaram-no os três companheiros para, assim, evitar que os habitantes de Piata tentassem qualquer espécie de vingança.
A entrada correu de forma bem mais tranqüila do que todos esperavam. A maioria das pessoas fugia quando eles se aproximavam, e somente uns poucos curiosos atreveram-se a olhar mais de perto. Apenas os guardas de Piata mantinham-se com os olhos fixos no grupo, mas sem qualquer movimento de ameaça, sem sequer dirigir-lhes a palavra. As casas fechavam as portas, e pelas frestas das janelas via-se os olhos curiosos das crianças.
Em frente à academia, antes entrarem no enorme prédio de pedra, Chaz entregou a Gryz seu machado, logo depois de desamarrar suas mãos. O motaviano ergueu a arma e disparou um golpe no ar com extrema perícia. Pela primeira vez os guardas resolveram interferir:
“Parados!” Gritou aquele que, dentre eles, parecia ser um líder.
“Viemos trazer nosso prisioneiro,” disse Chaz com um sorriso, “vão nos impedir?”
“Prisioneiros não deveriam portar armas. Traição é um crime penalizado com a morte!”
“Traição é um termo bastante questionável,” disse Rune com uma voz calma e suave. “É preciso verificar quem traiu quem em primeiro lugar, claro. Ou mesmo certificar-se se uma traição não foi a forma encontrada de não trair a si mesmo.”
O feiticeiro ergueu as mãos e pronunciou algumas palavras estranhas. No mesmo instante os guardas soltaram todas as armas e sentiram como se cordas invisíveis prendessem seus membros. Chaz já vira aquela técnica várias vezes: chamava-se ‘Bindwa’.
“O que pretendem? Vieram atacar nosso reitor.”
“Não viemos atacar ninguém,” disse Rika adiantando-se e tocando o rosto do capitão com sua garra, fazendo um pequeno arranhão. “Viemos castigar um assassino. Não foi isso que pediram na mensagem enviada ao Hunter’s Guild?”
“Vamos, estamos perdendo tempo!” exclamou Gryz, precipitando-se sobre a porta e a arrebentando a tranca de aço com um único golpe de seu machado.
Uma agitação entre as pessoas que observavam a cena chamou a atenção dos quatro heróis, e logo avistaram, ao longe, um novo regimento de guardas, ainda maior, que vinha em auxílio dos companheiros derrotados.
“Essa não!” Disse Chaz em voz alta. “Vamos nos apressar, se lutarmos contra eles haverá muitas mortes desnecessárias.”
O jovem hunter tomou Rika pelo braço e correu para dentro da Academia, sendo seguido por Rune. Ao cruzarem o umbral de pedra, o feiticeiro virou-se e começou murmurar alguma coisa. Usava as mãos fazendo círculos rápidos no ar. Uma de suas magias! Criou-se no mesmo instante um forte vendaval que derrubou vários dos guardas ao chão.
“Precisamos dar um jeito de trancar esta porta.”
“A tranca do lado de dentro não esta danificada. Não é grande coisa mas nos dará algum tempo. Se o reitor for inocente, estou certo de que ordenará aos guardas que fiquem de fora, e ouvirá o que temos a dizer.”
Alcançaram Gryz e subiram rapidamente as escadas que levavam à sala do reitor. A porta da sala estava trancada mas, desta vez, Chaz não tinha intenção de esperar muito.
“Crosscut!” Exclamou o hunter enquanto girava a espada velozmente fazendo um corte preciso em forma de cruz; a porta fez-se em quatro pedaços.
Entraram todos, ficando em linha, com os olhos fixos na mesa do reitor. Estava vazia.
“Será que o reitor fugiu?” Comentou Rika.
“Não pode ser, ele não teria outro meio de sair do prédio a não ser pela porta principal”
“Talvez exista alguma passagem por trás desta sala.” Uma nuvem escura cobriu os olhos de todos eles, e os quatro sentiram um vento frio brotar do chão e subir rodeando seus corpos como se fosse várias lâminas escuras fazendo pequenos cortes e provocando uma intensa dor.
“Corrosion!” A voz do reitor soou vinda das costas dos quatro heróis. Ainda atordoados, viram seu agressor: o reitor encontrava-se junto à porta, flutuando envolto em uma espessa aura negra.
“Seus tolos! Seria melhor se tivessem todos morrido quando mestre Zio os enfrentou pela primeira vez.” A voz do reitor fazia-se ouvir rude e fria.
“Então você está mesmo por trás de tudo isto!” Gritou Chaz
“Efess!” Rune lançou de suas mãos um poderoso raio azul que atingiu em cheio o peito do reitor, fazendo-o recuar, mas não pareceu afetá-lo.
“Você já tinha se vendido a Zio quando o enfrentamos anos atrás. Maldito seja.”
“Zio foi derrotado por nós, este tolo não vai durar muito.” Gryz saltou e deu um poderoso golpe de seu machado contra a mão erguida do reitor. Uma luz negra brilhou e o golpe foi repelido, fazendo o machado romper-se em mil pedaços.
“É a mesma magia que Zio utilizava,” exclamou Rika. “Será tão poderoso que não possamos derrotá-lo sem a ajuda do Psycho Wand?”
“Você matou Pana, demônio!” Gryz lançou-se de braços abertos contra o reitor e pôs os braços em volta do inimigo, prendendo-o. “Acabem com ele! Não se importem comigo!”
Antes que qualquer um dos três companheiros pudesse esboçar qualquer reação, o reitor fechou os olhos e começou a tremer. Gryz sentiu um frio intenso tomar conta de todo seu corpo. Era como se sentir sendo perfurado por mil espadas de gelo em um único instante. Ouviu-se um grito e o motaviano deixou-se cair ao chão desfalecido. Rika correu em direção ao companheiro caído e principiou um movimento de mãos característico das técnicas de cura.
“Idiotas, a morte é chegada para vocês! Logo serei eu o feiticeiro negro!”
Este comentário foi o suficiente para Rune.
“Chaz,” gritou o feiticeiro, “veja o brilho negro às costas deste demônio.”
De fato, havia por trás do reitor uma esfera negra que flutuava à altura de sua cabeça, de onde emanava a energia escura que envolvia todo o seu corpo. Em um instante, o rápido raciocínio de Rune pôde compreender tudo. Era uma esfera como aquela em que Lutz depositara suas memórias e seu espírito. Mas então Zio tornara-se tão poderoso a ponto de executar tal encantamento? A Esfera da Memória era a técnica mais secreta de Lutz. Era através desta poderosa magia que o espírito do líder supremo dos Esper podia sempre retornar à vida para proteger Algol.
‘Então’, pensou Rune, ‘Zio também tomara suas providências para perpetuar-se caso fosse derrotado.’ De qualquer forma o reitor ainda não parecia dispor de todo o espírito de Zio. Talvez a transformação ainda não estivesse completa e, aparentemente, fora a sua chegada que impedira o ritual de ver-se finalizado. E se o reitor pudesse dispor de todo o poder de Zio? Certamente a barreira negra se tornaria tão forte que somente com o auxílio do Psycho Wand eles poderiam rompê-la, como há muito anos atrás.
“O que ele pretende? Ressuscitar Dark Force?” murmurou Rune para si mesmo.
Talvez fosse este o motivo que levara o reitor a planejar uma guerra entre as raças. Todas as mortes, o ódio, o desejo de vingança, produziriam uma grande onda de energia negativa que tornariam Dark Force um ser poderoso novamente em um curto espaço de tempo. Talvez com o espírito de Zio renascido e toda a energia maligna que uma guerra destas proporções produziria, pudesse haver uma maneira de fazer Profound Darkness retornar a Algol antes que se passassem os mil anos que fecham o ciclo, quando o lacre sobre o portão dimensional se tornaria fraco o suficiente para suas investidas.
“Precisamos destruir a esfera negra antes que se complete a transfiguração! Sem forças, ele voltará a ser um simples humano.” Gritou Rune.
“Antes do quê?!?” perguntou Chaz. “Ora, não importa, se é essa a solução vamos deixar para discutir detalhes depois!”
O Hunter avançou furiosamente contra a esfera às costas do reitor. Puxando uma pequena faca de lâmina fina. Antes, entretanto, que pudesse alcançar o artefato maligno o reitor soltou um horrendo gemido, e uma onda de energia irradiou de seu corpo arremessando todos contra as paredes.
“Não!” gemeu o demônio. “Vocês não irão me impedir de alcançar o poder máximo!”
O reitor começou a disparar diversos raios de energia Rune protegeu-se criando uma barreira de luz azul ao redor de si e de Gryz. Rika, entretanto, fora atirada a uma distância bem maior e, portanto, fora do alcance da magia de proteção criada por Rune. O próximo raio disparado fatalmente a atingiria.
Com um grande esforço Chaz conseguiu pôr-se de pé. Cobria o rosto com uma das mãos e, com a outra, empunhava a faca. Mesmo o hunter não saberia dizer de onde retirou toda a força que moveu seu corpo contra a direção da forte irradiação de energia negra. Tudo o que Chaz podia sentir naquele instante era que tinha algo que precisava ser feito. Rika gritava de dor, era tudo o que podia ouvir. Seu filho e sua esposa estariam mortos, era tudo o que podia ver.
‘Sinto muito, Rika, mas esta é minha escolha,’ pensou Chaz.
Saltou com toda a força que restava em suas pernas, e atirou a faca na direção da mão que disparava o raio maligno. Foi o suficiente para desviar-lhe a trajetória. Chaz caiu junto à esfera negra, e tomou-a entre as mãos, pondo-se entre o reitor e o artefato. Apertou-a com as mãos vigorosas e golpeou o chão violentamente.
Chaz pode sentir como se a esfera de vidro se despedaçasse entre suas mãos. Os pedaços cortavam-lhe a carne e, em seguida, era seu próprio corpo que se despedaçava, sendo invadido por um frio insuportável. Toda a maldade que havia no coração de Zio se espalhou por seu corpo, e ele sentiu a amargura que havia no coração do feiticeiro negro. Sentiu-se ser sugado por toda aquela maldade e tentou gritar, mas sua voz parecia presa em sua garganta.
Foi então que tudo desapareceu, e tudo o que ele pôde ver em seguida era uma bela jovem, adolescente ainda, de grandes olhos e cabelos castanho, sorrindo para ele no meio de toda a escuridão. Toda a dor se dissipou. Todo o frio desapareceu. Daquele sorriso irradiava um ar benfazejo. Chaz sentiu-se envolvido por uma luz azul, quente e cheia de ternura. Aquele sorriso era tudo o que Chaz podia ver, sentir ou ouvir… era confortante. Era lindo.
“Novamente, ele salvou a todos” murmurou Rune.
“Sim, mas foi um alto preço…” voz de Rika, quase sumida, perdeu-se em um soluço.
“Foi a escolha que ele fez.” Rune pôs a mão consoladora no ombro da numana. “Deu sua vida por você, Rika, e pela criança que você carrega no ventre.”
“Ele será forte e valoroso. Será como o pai. E, se preciso for, também darei minha própria vida por ele. Está é minha escolha.” Juntos, ao pé de uma sepultura recém coberta, três pessoas davam adeus a um querido amigo. Gryz mantinha-se em silêncio e Rika, ajoelhada, deixava as lágrimas correrem fartas por seu rosto, enquanto acariciava a laje de pedra.
Fim