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Autor: J.F. Souza (Yoz)
Diário de Atividades Históricas, Agente Historiador Foresth registrando.
Data local DM 0412 AW 844
“Localizado no lado mais afastado do triângulo planetário, Dezóris é considerado o mais misterioso, perigoso e fascinante dos três planetas. Pouco realmente se sabe sobre este mundo gélido, e poucos se aventuram nesse lugar devido à sua hostilidade climática e fauna. Entretanto, o dia de hoje será marcado pela chegada na nave estelar Intrépida, sob o habilidoso comando do Capitão Tyler, que ira monitorar os progressos das equipes de terra, e a crescente atividade rebelde originária do planeta Palma. A previsão de conclusão dos trabalhos é indefinida, mesmo embora, segundo os satélites meteorológicos, a situação climática no planeta esteja nos seus momentos mais favoráveis.”
Fim do registro
A Nave Estelar Intrépida, impulsionada pelos jatos de manobra, se aproxima do pálido planeta logo à sua frente. Ela era a décima oitava espaçonave feita pelo governo central, contendo cinqüenta e dois deques e capaz de transportar mais de cento e cinqüenta tripulantes.
Planeta Dezóris
Data Local DM 0412 AW 844
– Destino alcançado em h12w – Informa o oficial de navegação na ponte de comando. – Entendido Tenente. Leme! Finalize aproximação e entre em órbita geossíncrona. – Ordena Tyler sentado em sua poltrona de comando disposta bem no centro da ponte.
– Sim senhor. Órbita geossíncrona. – Obedece a piloto de naturalidade Russa, demonstrada claramente em seu sotaque.
– Comunicações. – Convoca o Capitão enquanto se levanta e observa o garoto de não mais que vinte e um se virando em sua cadeira para dar–lhe a respeitosa atenção. – Informe ao comando por mensagem em código: “Nave de exploração Intrépida chegando em Dezóris para iniciar missão de extração de minério. Tyler W. T. no comando.”
– Sim senhor. Codificando mensagem e enviando. – Não só o Capitão, mas os demais oficiais veteranos percebem uma ponta de orgulho desastrosamente camuflada na voz do jovem Alferes em sua primeira missão no posto de comunicação. Tyler também espera sentir o mesmo tipo de orgulho de qualquer tripulante presente naquela missão.
– Doutora Verônica, comece por análise de sensores, sonde nossa área-alvo antes das equipes descerem.
– Sim Capitão. – Desta vez Verônica estava trajando um uniforme militar padrão. Vesti-lo conseqüentemente a faz se recordar vagamente de quando era criança e sua mãe chegava ao final do dia e, ainda uniformizada, logo ia até sua filha para abraça-la, dizer-lhe que a amava e o quanto estava feliz por vê-la comportada. Geralmente Verônica esperava por sua mãe sentada sobre o carpete no chão da sala, ou brincando com suas bonecas, ou assistindo aos desenhos coloridos animados que passavam na TV nos finais de tardes. As bonecas ela ainda tinha algumas, todavia, a TV deixou de existir em sua vida desde que fora obrigada a migrar da Terra para o Sistema Solar Algol.
– Começando com rastreamento atmosférico. Camada de ar densa composta por partículas de gelo, pressão atmosférica de 13 microbars, 64% de nitrogênio, 16% de oxigênio e 4% de argônio, o restante de componentes gasosos comuns. Ausência de precipitações liquida ou cristalinas embora apresentando um céu nublado. Passando agora para análise de superfície: As vegetações existentes são de notófagos e coníferas naturais de climas como este, e encontram-se recobertas de neve e gelo, e demonstram taxa de crescimento dentro do esperado para o clima vigente. Segundo nossos sensores, o solo na área possui um lençol de gelo de espessura indeterminada, estou confirmando a presença dos minérios encontrados pela expedição anterior, mas esses dados podem estar equivocados devido a interferência que nos impede também de realizar uma sondagem mais profunda e…
– Doutora! – Interrompe o Capitão que se aproxima do monitor onde Verônica obtêm as informações. – Dispare uma sonda sobre a superfície e use os sensores de ressonância para obter leituras mais precisas. – Se por um lado o Capitão se sentia feliz por saber que sua nave, cada vez mais era capaz de novas proezas devido aos rápidos avanços tecnológicos, por outro, porém, isso o irritava, pois se deixasse a cadeira de comando por sequer um mês, ao retornar, ele provavelmente não seria capaz de dizer o quanto sua nave havia evoluído, nem teria noção de suas capacidades para usa-las corretamente.
– Disparando sonda… Penetrando camada atmosférica… Solo atingido… Novos sensores On-Line – Anuncia Verônica esperando que os novos sensores pudessem lhe oferecer resultados satisfatórios. – A ampliação foi de apenas mais três metros. Obtendo leituras. Dados anteriores confirmados com margem de erros aceitáveis. Detectando mesmos materiais e… Espere! – Dá uma pausa estarrecida mediante ao que o monitor esta lhe mostrando. – Capitão, veja isso. – O Capitão aproxima mais seu rosto do monitor tentando entender o que se passara no mesmo e, conseqüentemente mais próximo dos ombros de Verônica. Entretanto, além do posto de ciências nunca ter sido o seu preferido, sua distração se completa com o suave perfume dos cabelos sedosos da jovem Doutora. – Detectando uma edificação enterrada há vários metros no subsolo nas coordenadas de Skure. Ela possui trinta metros de largura e comprimento, e dez metros de altura, o que poderia indicar a existência de dois pavimentos, ela parece ter sido construída com reforçadas peças Pré-Moldadas compostas por grandes plaquetas quadradas e blocos hexaedronais formando os alicerces todos feitos com ligas de metal cerâmica, todas elas presas entre si por pinos compridos feitos com mesmo material.
– O que poderia ser? – Indaga o Capitão voltando sua atenção à tela do computador.
– Eu não saberia informar daqui. Os sensores são incapazes de penetrar completamente no local e… – Verônica fica pálida com o que vê na tela combinado com que sua própria dedução do que aquilo poderia ser. – E o quê…?– pergunta Tyler impaciente. Verônica dá uma pausa para escolher bem as próximas palavras – Capitão! Parece haver uma fonte de força desconhecida alimentando alguns aparelhos eletrônicos, posso detectar também leituras do estranho metal X no interior da habitação e… Capitão! Parecem ser ferramentas manufaturadas.
– O que?! – Pergunta surpreso, imaginando que tipo civilização teria concebido aquela construção. – Como eles conseguiram fabricar ferramentas com esse metal…?!– indaga sobre que tipo de tecnologia seria capaz de moldar um metal que é mais duro do que o Diamante.
– A extensão total ou até mesmo o numero exato de cavernas existentes é impossível de determinar mesmo com as informações enviadas pela sonda, e pela configuração das cadeias de corredores, acredito que se abrirmos uma janela aqui – Apontando para uma representação topográfica na tela do computador. – Possamos acessar a edificação que parece ser muito antiga.
– Doutora, o que você sugere…?
– Não há mais nada o que fazer daqui de cima além de meras especulações. Talvez possamos descobri o que foi capaz de moldar esses objetos chegando até a edificação e estudando sua cultura. Existem várias cavernas de acesso, a mais próxima do que acredito ser a porta de entrada está localizada numa área do primeiro quadrante. Poderíamos chegar à caverna em aproximadamente duas semanas, isso usando os meios convencionais que temos em mãos no momento.
– Faça os preparativos e execute conforme achar viável. Mas não se esqueça de dar prioridade à segurança das equipes. – Apesar das palavras, Verônica sabia que a sua segurança era a que mais importava para Tyler, embora estivesse disposto a dar sua vida em troca das dos demais.
No hangar de carga, os preparativos finais estavam sendo tomados para a partida por uma pequena nave de auxilio, Tyler se aproxima de Verônica estendendo a mão contendo um pequeno objeto eletrônico.
– Tome. – Diz o Capitão enquanto entrega um estranho aparelho à jovem. – O que é isso? – Interroga-o sem saber identificar o item em suas mãos. – É o protótipo de um dispositivo comunicador de alta freqüência. Com ele, além de você poder se comunicar comigo de locais com interferência, você terá também um instrumento localizador. Use-o se estiver em perigo e eu te tiro de lá num instante. – Verônica sabia que havia casos em que não poderia dizer não ao seu amante, ainda mais se ele estivesse com a razão. – Certo, vou deixar isso guardadinho bem aqui comigo.
A comporta da nave auxiliar se abre, as equipes entram deixando Verônica por ultimo que, antes de entrar se vira para o Capitão e lhe da uma piscadela com um olho só.
– Vamos dar início a partida. – Anuncia o piloto de nome Mason ao comando enquanto, com os dedos, acariciava o próprio cavanhaque. Verônica também era, contra sua própria vontade, especialista em pilotagem até de naves estelares, portanto tudo o que Mason fazia, não era novidade para ela. Entretanto, ela se limitava apenas em se sentar num canto e deixar os pilotos por escolha realizarem suas tarefas. A Doutora só obteve essa habilidade por um capricho imposto por seu pai, na certa devido ao fato de que os preferidos ao comando eram sempre os pilotos, e que o sonho de um pai quase sempre é ver o filho seguindo seus próprios passos, e o Almirante Buente era de fato um desses pais. Sentada na cadeira logo atrás do co-piloto, ela se recordara de que servira com Mason durante boa parte das missões. Verônica sempre o via fazer aquele gesto com a barbicha do queixo aparada em ponta, aquele era um gesto inconsciente, quase como uma cerimônia antes de qualquer decolagem. – Intrépida, peço permissão para deixar a nave. – Mason, acima de tudo, era um hábil piloto, ele possuía um porte físico magro e devia estar na casa dos seus trinta e cinco anos, também era o preferido nas escolhas para missões científicas, pois apesar de possuir aquele estereótipo de pessoa distraída, fazia muito bem seu trabalho. Porém, muitos acreditavam que toda essa distração era somente um subterfúgio para evitar sua interação social com as pessoas à sua volta em assuntos pessoais.
– Permissão concedida. – Informa uma voz feminina no alto falante.
– Muito bem. Preparar precauções prioritárias para raio de tração de decolagem. Checando selos de contenção atmosféricos. Nave auxiliar deixando a Intrépida.
Um feixe energético de tração envolve a nave conduzindo-a para fora do hangar, quando em espaço aberto, já ultrapassado os limites internos da nave estelar, o raio se desliga permitindo que o piloto assuma o controle se dirigindo para Dezóris.
–Alterações gravitacionais dentro do esperado. Campo de contenção estrutural dentro dos parâmetros assim como os escudos de deflexão. Padrão de vôo linear. – Informa novamente o piloto à Intrépida. A nave começa a tremer. – Droga, esse planeta nunca gostou de visitantes distantes. – Protesta o piloto esperando não ser ouvido. – Navegador, aumente a potência dos motores para compensar o controle de reentrada. – ordena.
– Sim senhor. Temperatura do casco em seiscentos graus, escudos suportando.
– Inicie manobra de frenagem. Preparar para aterrissar.
Na superfície do planeta, escondido nas folhagens de uma árvore, um caçador tribal Dezoriano se preparava para atacar um Rabbit, uma espécie de coelho nativo da região, quando subitamente, vindo do sudoeste, a estrondeante nave de pequeno porte passa por suas cabeças se dirigindo ao horizonte e descendo não muito ao longe.
– Ga?! Bebekuchá! – Grita o esverdeado caçador que salta irado da árvore com sua lança ainda na mão. – Banapút!!! – Impugna-se rancorosamente com seu braço direito para o alto empunhando forte sua mão fechada em direção a ave metálica que lhe acabara de espantar a refeição. Há tempos que seu lar não via uma jantar decente além dos frutos colhidos ou por mulheres e crianças, ou pelos caçadores frustrados das aldeias vizinhas. Aquele não era um período muito bom para caçar, já que a maioria dos animais parecia estar desaparecendo por alguma razão desconhecida, e a perda dessa oportunidade de carne fresca para o jantar, fez o caçador ir investigar o que era aquela coisa enorme vinda dos céus.
Alguns minutos depois, não muito distante dali, o caçador escondido num pico observa a nave que já havia aterrissado, algumas pessoas se moviam de lá para cá com objetos metálicos reluzentes na mão recebendo orientação de uma fêmea humana.
Conforme as instruções de Verônica, os tripulante já estavam fazendo os preparativos para construção dos abrigos improvisados. Com um dispositivo sensor, a doutora rastreava o local exato onde estava a janela de entrada para a cadeia de túneis subterrâneos que levariam ao prédio soterrado. Ali seriam concentradas as escavações.
– Doutora… – diz a voz do instrumento comunicador preso à cintura da jovem.
– Sim Capitão.
– Conseguiu localizar o local?
– Sim senhor, e como previsto, levaremos vários dias para chegar até ele. – Tyler sabia que o quanto antes eles terminarem esse trabalho, melhor seria para a segurança deles, a situação no senado era tensa, uma facção de dissidentes Palmanos eram contrário à implantação do novo governo e, conseqüentemente, repudiavam a queda do reinado vigente. Em contra-partida, descobrir um modo de construir novas armas e equipamentos defensivos com o uso desse mineral ultra duro daria aos terrestres uma considerável vantagem contra os rebeldes, mesmo que seu poderio bélico já fosse bem superior.
– Ok doutora, comece os trabalhos o mais rápido possível.
– Sim senhor.
As equipes desempenharam suas tarefas conforme especificado, com a chegada de mais duas naves auxiliares trazendo consigo mais apoio operacional de terra, o processo se agilizou consideravelmente. Durante os primeiros dias, o enfadonho trabalho de derretimento de blocos de gelo foi se concretizando paralelamente à rápida construção do primeiro vilarejo chamado Zosa.