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Autor: J.F. Souza (Yoz)
Diário de Atividades Históricas, Agente Historiador Foresth registrando.
Data local DM 0312 AW 844
“Durante o período exploratório dos recém-descobertos planetas Algolianos, uma peculiaridade proveniente do misterioso planeta de gelo denominado Dezóris, instigou a curiosidade dos pesquisadores: trata-se de uma área de extrema estabilidade que fora batizada de Skure devido às primeiras sondagens terem revelado a existência abundante de um mineral chamado Skutterudita. Logo abaixo desta, há também presença de prata, cobre e carvão mineral, dentre outros minerais de uso industrial. Todavia, encontrou-se também o fragmento minúsculo de um tipo estranho de minério alotrópico do carbono, de coloração pigmentada primária e cor-luz secundária, enquadrada entre as faixas 564 e 593 do espectro de cores visíveis, um pouco mais escuro do que o ouro (mais precisamente Verde 175, Vermelho 175 e Azul 0). Tal minério apresentou nos testes de densidade Mohs um valor fora de escala muito superior ao diamante. Sua fórmula química não pode ser determinada, embora se saiba que possui elementos que não constam sequer na tabela periódica. Este mineral será provisoriamente denominado “Matéria X” até que saibamos mais sobre o mesmo. Skure será transformada futuramente numa central de extração de minério e o principal espaçoporto logístico do governo fora de Palma.”
“A doutora Verônica Eshyr Buente, líder da equipe sênior de Ciência e Tecnologia, foi encarregada pelo governo provisório de gerir um agrupamento composto por geólogos, biólogos, engenheiros e tecnólogos, dentre outros elementos-chave para o apoio operacional, que irão estudar um modo de extrair em grande escala os minérios encontrados abaixo dos lençóis de gelo. O Capitão Tyler Willians, da nave estelar Intrépida, irá monitorar as atividades no planeta Dezoris em órbita geossíncrona.”
Fim do registro
Sobre a superfície Palmana, em órbita polar, o letreiro gravado na superfície de metal brilhava com a majestosa luz solar Algoliana, resplandecendo um peculiar nome reconhecível por ambas as culturas alienígenas:
“StarShip Noah MK-1601”
Em seu interior, no andar destinado aos luxuosos alojamentos dos almirantados e seus familiares, duas silhuetas de tamanhos diferenciados e sexos opostos se encaram. Um homem discute com uma jovem mulher.
– Minha filha, ouça-me, por favor. Deixe que a equipe prepare o acampamento e se certifique de que a área é segura. Perdemos muita gente naquele planeta durante as primeiras investidas de reconhecimento, e o local ainda não foi totalmente mapeado.
O Almirante Buente possuía uma postura firme, embora ligeiramente curvada para frente com seus ombros largos retesados. Seus cabelos curtos e castanhos estavam penteados para o lado, mal-assentados. Seus olhos escuros e penetrantes demonstravam a frieza de um homem sofrido. Poucas coisas em sua vida eram capazes de lhe trazer felicidade, e uma delas era, de fato, sua jovem filha, Verônica Buente.
Trajando um longo e tradicional vestido de ornamentos simplista de seda grossa e cor vinho, a atraente jovem, aparentando estar na casa dos vinte e oito, se aproxima do Almirante de maneira a afronta-lo, seus cabelos escuros caídos, lisos, totalmente sobre as costas, permitiam deixar à mostra a forma de seu rosto ligeiramente pálido. Sua voz ecoa pelos aposentos, demonstrando o intenso autoritarismo herdado de seu pai.
– Não, pai, eu irei! Será a minha chance de explorar um local tão misterioso quanto aquele planeta, muito além de uma mera sondagem de rotina. Você me impediu de fazer parte dos primeiros exploradores, desta vez a sua intromissão não irá me deter.
– Droga menina! Faça o que eu digo ou…
– Ou o quê?! Vai cortar minha mesada?
O homem se vira em direção à janela panorâmica, os raios de Algol iluminam seu rosto, fazendo seus olhos enraivecidos pelo deboche de sua prole brilharem intensamente. A garota, ciente dos efeitos que causa em seu pai por sua libertinagem impulsiva, se aproxima do mesmo abraçando-o por trás. – Olha pai, me desculpe. Eu sei que você esta preocupado. Mas eu preciso fazer isso. É um sonho desde que chegamos aqui. Talvez parte das respostas para o que acontece conosco esteja naquele planeta, pois foi nele que caímos quando viemos para cá. E esse metal, esse mineral que demonstrou ser mais duro do que o próprio diamante, é a prova física de que ainda existem muitas coisas de que não temos ciência.
– Verônica… – Diz o Almirante enquanto se vira para sua filha, segurando-a nos braços. – estamos passando por momentos delicados na capital Palmana devido à instabilidade no governo, por isso vivemos acima dos céus nessa orbita oculta de sensores para que não sejamos atingidos pelas investidas rebeldes da facção dos nativos. Se você for a este planeta, estará correndo perigo maior.
Desgarrando-se de seu pai, imediatamente a jovem se volta para suas malas, e com um sorriso sarcástico prossegue com sua tarefa de arrumar seus itens para a viagem que está prestes a fazer.
– Você se preocupa à toa, meu pai. Tyler estará monitorando qualquer atividade suspeita. Além do mais, a tecnologia que este povo detém é atrasada demais comparada à nossa.
– Você se esquece de quem herdamos esta tecnologia…
– Sim, mas foi numa época diferente. Minha mãe faleceu porque acreditava em nossa falta de capacidade ética para absorver este conhecimento. Não quero mais brigar com você sobre isso.
Ela ajeita a mala remanescente, deixando-a na cama, e se aproxima de seu pai para se despedir. – Até mais… – beijando-o no rosto. Logo em seguida, ela retorna pegando suas bagagens e se dirigindo à saída, ao transpassar o vão aberto da porta automática. Porém, ela se volta novamente para observá-lo. Ele estava de costas para ela, e em direção à galáxia exibida pelo janelão, uma estranha impressão de tristeza toma conta de seu ser. Algo lhe dizia que nunca mais o veria sob tais circunstancias. Ela nunca conseguiu entender os motivos para ter diversas sensações sem estímulos aparentes, e isso ocorre desde quando chegou a Algol, quando tinha apenas dois anos, e como ela sempre preferiu ouvir a razão e a lógica, Verônica se vai, ignorando seus sentimentos. Ainda no interior do quarto, o residente solitário apanha um aparelho visual de comunicação e convoca alguém… – Capitão Tyler, apresente-se ao meu alojamento imediatamente.
Dois minutos após o chamado, a campainha sutil do alojamento toca. –Entre!– ordena o Almirante, agora sentando numa grande poltrona reclinável. A porta se abre revelando a gigantesca sombra de um homem de grande porte físico, espadaúdo, medindo em torno de um metro e oitenta, trajando um armadurado simples e uma plaqueta identificadora revelando seu nome.
– Tyler, entre e fique à vontade.
– Sim senhor.
Adentrando os aposentos parcialmente escurecidos e se aproximando da mesa próxima ao grande janelão panorâmico, o Capitão estelar se deixara envolver pelos raios solares da estrela Algol, conseqüentemente revelando a pele corada de seu rosto e seus cabelos loiros de penteado rebelde, pouco tradicional para os padrões da frota. Tyler aparentava possuir uns vinte e três anos, e era filho de um falecido oficial Terrestre chamado Gene A. C. Tibérius com uma Palmana chamada Munin Wotan. Sua íris azulada fita firmemente o homem vivido sentado ao fundo do cômodo. O Almirante se vira para o jovem Capitão, dando uma ligeira observada em seus cabelos, Tyler sempre se irritava com aquele gesto quase repreendedor, e como eles nunca tiveram uma boa relação, o Almirante acreditava que ele mantinha aquela aparência somente para afronta-lo.
– Quero que ouça com atenção, Capitão, ambos sabemos que sempre tivemos as nossas diferenças devido ao seu relacionamento com minha filha, e considero irritantes suas atitudes pouco regradas e sua aparência despojada. Mas eu devo admitir que você é o melhor Capitão que temos nas nossas frotas, e por este motivo o conselho o destacou para a missão de amanhã. Entretanto, eu o responsabilizarei pessoalmente se algo acontecer com minha filha.
– Senhor, permissão para falar livremente.
– Sempre.
– Nós dois sabemos que a minha tarefa como Capitão é a segurança da tripulação, incluindo os agrupamentos avançados sob meu comando. Portanto, fazendo jus às minhas obrigações, não abdicarei da mesma em quaisquer que sejam as circunstancias, e farei o melhor possível para trazê-los de volta vivos.
– Em primeiro lugar, você não precisa citar regulamentos de forma tão eloqüente fazendo pequenas variações do que você decorou quando estava na academia, em segundo, eu quero que se danem os destacamentos de terra, o que me importa é o retorno seguro de minha filha, custe o que custar.
– Senhor… Eu a amo…
– Droga Tyler! Capitães de frota raramente sentem amor, pois vivem vagabundeando pelas estrelas matando seus desejos sexuais com qualquer uma em qualquer continente que encontre abaixo de seus olhos. – Buente dá uma pausa em suas palavras sustentando uma breve e profunda respiração até que pudesse prosseguir – Eu conheci seu pai antes do trágico incidente com a Grimson, foi lamentável sua incompetência como Capitão ter custado as mortes de dezenas de outros bons oficiais, mas não poderíamos esperar mais de alguém que se deixou contaminar com o sangue daquela mulher alienígena que acabou por gerar você, uma criança mestiça, fruto do adultério que contamina a pureza de nosso povo. – as palavras do Almirante irritavam Tyler cada vez mais, era evidente a demonstração de ódio e preconceito contra o sangue mestiço do Capitão.
O Almirante se recordara da época que também era Capitão e ouvia as conversas informais entre os oficiais de mesma patente após as reuniões de reportagem de missão. Se existia um Capitão diferente e ético, ele considerava a si próprio como sendo o único. No geral, nem sempre como via de regra, os Capitães optavam por não terem famílias ou, quando tinham, as deixavam na Terra enquanto viajavam para missões exploratórias e de cartografia estelar nas adjacências do sistema solar terrestre.
– É tudo, senhor…? – pergunta Tyler empunhando forte suas mãos e cansado de ouvir insultos. – Dispensado – Responde o Almirante com o persistente ar de desprezo. Ao sair dos aposentos do Almirante Buente, Tyler caminha até o elevador se recostando na parede, passando as mãos no rosto enquanto espera. De repente, alguém lhe agarra fazendo quase cair ao chão.
– Oi… eu ouvi meu pai te chamando pelo intercomunicador, por isso deixei as malas na nave auxiliar e vim ver o que ele queria de você. – Verônica estava bastante ofegante devido a ter atravessado às carreiras os corredores de Noah. – Nada de importante, só desejar boa sorte e para eu ficar de olho em você. – Tyler sabia que, por mais que tentasse, por alguma razão misteriosa, ele nunca conseguiria fazê-la acreditar em suas mentiras, mesmo que ele próprio se fizesse acreditar.
– Meu amor, eu sei que vocês não se dão muito bem, e que meu pai é tão impulsivo em seus julgamentos, que não consegue ver o homem maravilhoso que eu vejo. Mas eu tenho uma ótima notícia que irá alegra-lo. – Afirma com sua voz feminina suave desprovida de seu autoritarismo natural.
– Notícia? Que notícia?!
– Nãnáninanão!!! – Balançando em negação seu dedo indicador. – só depois que voltarmos. – Ela se vira para ir embora, mas é logo puxada de volta por Tyler.
– Ouça… Você também é impulsiva. – Diz Tyler com seu semblante decaído olhando sua amada nos olhos. – Não deveria ter aceitado esta missão. – finaliza o Capitão.
– Já conversamos sobre isso. – A voz da Doutora muda para uma tonalidade um pouco mais agressiva. O som da porta do elevador se abrindo bem próximo.
– Eu sei… Eu sei… – Apazigua Tyler enquanto segura com suas duas mãos o rosto de Verônica. Ele nunca se cansara de sentir a maciez de sua cútis, e a cada dia seu amor crescia por aquela garota de inteligência brilhante. – Sei que você é capaz. Mas não me peça para não me preocupar, você é tudo que eu tenho, perdê-la significaria perder a mim mesmo.
– Então vamos andando. Ou perderemos o elevador. – Brinca a jovem, tentando confortar seu amante que a beija logo em seguida. – Vamos então… – Tyler acaricia o rosto de Verônica com seus polegares. Ambos entram no elevador, a porta se fecha.