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Recepção Fria — Parte V

Autora: Neilast
Tradutor: Bruno Cubiaco

Demi parecia nervosa quando apareceu novamente na tela de Dahl. “Dahl… eu tenho más notícias…”

Os olhos de Dahl se estreitaram e ela sussurrou, de forma selvagem. “O quê?” Pelo que conhecia de Wren, ela já sabia qual seria a resposta.

“Parece que… o Mestre Wren… saiu repentinamente.”

Dahl empurrou a cadeira para longe do terminal e jogou os braços para cima. “Você só pode estar brincando!” Ela gritou. “Essa é a última gota! Eu estou enjoada daquele idiota orgulhoso me deixar na mão toda hora! Demi! Pra onde ele foi?”

Demi suspirou. “Dahl, eu sinto muito. Ele pode ser insensível as vezes…”

“É, eu sei.”

“De qualquer forma,” a pequena androide continou. “Pelo menos agora eu sei pra onde ele foi!”

“Onde é dessa vez? Algum asteróide longínquo no Campo? Um novo cometa vindo na direção de Algol? Uma reunião do clube 'Como Evitar Dahl'? Onde?”

“Não,” Demi disse, lendo uma impressão que Warren mandou a ela. “É para uma pequena estação científica em uma geleira dezoriana. Isso é tudo que eu posso dizer a você.”

“Mande as coordenadas ao computador da minha nave,” Dahl disse. “Estou indo pra lá.”

“O quê? Você quer dizer que realmente vai deixar tudo de lado só pra falar pro Wren que quer saber mais sobre a pesquisa de Seed? Dahl, Wren vai ter de voltar pra cá de qualquer jeito antes de responder alguma coisa pra você. Os arquivos correspondentes estão todos armazenados nas bases de dados de Zelan. Talvez seja melhor você esperar ele voltar, daqui um ou dois dias.”

“Não Demi,” Dahl disse, batendo com o punho na palma da outra mão. “Medidas drásticas são necessárias nessa situação. Wren é tão… indiferente quando se trata do nosso… relacionamento. Acho que ele precisa entender o quão importante isso é pra mim, para que ele passe a me levar mais a sério.”

Demi suspirou novamente. “Eu odeio admitir, mas talvez você esteja certa. Você precisou de apenas vinte anos pra aprender algo que eu entendi só depois de dois mil anos e meio.”

Dahl sorriu.

“Estou enviando as coordenadas agora. Preciso ir, mas tem uma última coisa…”

“O quê?”

Demi sorriu da forma mais calorosa, quase maternal, possível. “Boa Sorte. E diga a Wren que nós precisamos conversar.” E assim, sumiu da tela.

* * *

Erol, Azur e Mium estavam ocupados trabalhando nos laboratórios quando Dahl saiu fazendo um estardalhaço do seu escritório. Seus olhos estavam vermelhos e desfocados. Seu rosto estava corado e seus punhos apertados. Era claro para todos aqueles que a viam que a Diretora de Palma II estava sob considerável tensão. Ao passar por seus amigos, Dahl segurou no ombro de Erol.

“Você ainda quer vir comigo?” Ela perguntou.

Erol piscou, e concordou com a cabeça. “Claro, eu vou contigo”.

Mium deu de ombros. “Acho que vou também, já que parece que os planos de férias da Azur não vão muito pra frente.”

O queixo de Azur caiu. “Mium! Tá bom então, se todo mundo está indo, eu é que não vou ficar aqui sozinha!”

“Ok então,” Dahl disse. Ela se sentiu um pouco melhor ao saber que seus amigos estariam ao seu lado quando confrontasse Wren, mas não deixou isso aparente. “Bem, houve uma mudança de planos.”
Erol levantou uma sombrancelha. Ela sabia que algo bom não iria sair disso. “Qual foi a mudança?” ele perguntou.

“Não estamos mais indo para Zelan.” Dahl respondeu.

“Então… para onde estamos indo?” Erol respondeu, ansioso.

“Dezo”

“UHUUU!” Mium gritou!

Azur não entendeu o que a aquilo signficava, mas não quis contrariar.*

Erol se apoiou na cadeira e deu um tapa na testa. “Ah não, Dezo não!”

“Tarde demais,” Dahl disse, puxando erol pelo colarinho. “Você já concordou. E eu já acertei tudo por aqui. Estamos oficialmente de férias.”

“Beleza!” Mium disse. “Finalmente vou conhecer o infame planeta gelado!”
Azur sorriu. “Não alimente muito suas expectativas. Dezo não é tudo isso que você pensa. Nada de excitante ou interessante rola por lá…”

* * *

Em quarenta minutos a diminuta Landale VII pousava na geleira boreal de Dezoris. Wren notou a boa escolha que o Dr. Urbanich fez da localização do seu acampamento; O gelo do local era plano o suficiente para servir de pista de pouso, e duro o suficiente para suportar o peso de uma nave grande. A Landale VII não apresentaria nenhum problema.

Wren saiu da nave, checou o apagador photon pendurado na sua cintura, levando um kit de primeiros socorros. Assim preparado, ele se direcionou a frente da tenda e puxou a aba de entrada.

Não havia luz nenhuma dentro da tenda. Até mesmo os aparelhos óticos de Wren levaram alguns segundos para se ajustar. Mesmo assim, os detalhes não eram distintos.

“Dr. Urbanich?” Wren chamou. “Senhor, você está aí?”

Wren deu um passo adentro.

“Aqui é o Mestre Wren, da estação Zelan. Um de seus robôs enviou um sinal de emergência requerendo minha assistência pessoal. Eu vim ajudar no que você precisa.” Nenhuma resposta. “Doutor, você está aí?”

A aba de entrada da tenda fechou lentamente atrás dele, deixando o ambiente em completa escuridão.

“Sejas bem-vindo, Mestre Wren,” sibilou uma sinistra voz.

Apesar do fato de não ter ouvido essa voz em mais de dois mil anos, Wren a reconheceu imediatamente. Mas isso era impossível… não era? Incapaz de conciliar o fato ser verdadeiro, Wren perguntou de novo, “Dr. Urbanich?”

“O bom doutor está indisponível no momento. Eu, contudo, preciso grandemente da sua ajuda.” Uma luz vermelha apareceu alta, na parede oposta. Era um olho eletrônico. “Bem vindo a minha sala de estar…”

Mais rápido que qualquer criatura poderia, Wren partiu para ação. Ele jogou o kit de primeiros socorros no olho carmesin e imediatamente levantou o apagador photon. Ele conseguiu atirar algumas vezes e ouviu os disparos atingindo algo de metal. Cada disparo da arma iluminava pouco e rapidamente o ambiente, mas ele teve tempo o suficiente pra ver o que atingia – a forma desativada de um robo do tipo Large Miner.

O dono da sinistra voz riu e empurrou a forma massiva do robô para frente, fazendo com que quase acertasse Wren. Wren pulou fora do caminho bem a tempo e quase tropeçou em um outro robô, um Twig Man, caído no chão, sua cabeça queimada completamente, mas ainda se contraindo espasmodicamente.

Um zumbido ao lado de Wren chamou sua atenção. Ele olhou na direção e viu um pequeno Whistle cuidando de um dezoriano machucado, deitado em uma mesa. Wren tinha certeza que ele era o Dr. Urbanich e presumiu que o pequeno robô foi o que enviou o chamado de emergência.
Wren agora certamente entendia o porquê.

“O que é você?” Wren perguntou, seu canhão ainda mirando o único olho.

“Sou conhecido por muitos nomes,” A criatura bradou. Enquanto falava, as luzes na tenda lentamente se acenderam. “Homens em outros mundos, em outros tempos, me chamaram de Altíssimo, ou O Mestre. Mas meu nome escolhido, assim como o nome dado a mim pelo meu mais vil inimigo, é Dark Force. E assim, meu doce marionete, é como me chamarás.”

Os olhos de Wren se estreitaram ao focar em algo que nunca pensava em ver novamente, e também em algo que nunca havia visto antes.

A criatura, isso não se podia mais negar, era certamente Dark Force. A estrutura facial foi o que deu certeza a Wren. Esse novo monstro tinha as mesmas protuberâncias no lugar das sombrancelhas, os mesmos profundos orifícios oculares, e mesma boca horripilante.

Essa Dark Force, contudo, não tinha nenhum dente e nenhum olho, exceto o sensor ótico instalado em sua face. A maior parte do corpo da criatura já não existia, susbstituído por partes mecânicas obviamente construídas por alguém competente. Somente a cabeça, o ombro direito e o braço direito eram originais. O outro ombro, braço e todo o torso eram iguais aos de Wren. Seja qual for o antigo Protector que falhou em matar o monstro, ele sem dúvida havia sucedido em danificá-lo o suficiente a ponto de impedí-lo de que se regenerasse.

“Não te servirei,” Wren disse calmamente. “Destruir-te-ei. Sua época terminou a tempos atrás.”

Dark Force quase se sobressaltou e se inclinou a frente, se apoiando nas mãos.

“Tu tens poder,” ele disse. “Esse poder enjoativo e cheio de luz. Tocaste a espada? Não, mas estiveste perto dela. E participaste da derrocada de Le-Gy-Thoul, não é verdade?”

“A Escuridão Profunda foi destruída por Chadwick Ashley e seus companheiros.” Wren disse. “Eu estava entre esses companheiros.”
Dark Force concordou com a cabeça. “Irônico. Irônico que um servo da espada se tornasse meu novo instrumento.”

“Como eu disse, não te servirei.”

“Ah, mas vais, Protector. Tu vais.” Dark Force se lançou repentinamente para frente e gritou. Wren tentou se desviar, mas não foi rápido o suficiente. Dark Force apanhou os braços de Wren com sua mandíbula desdentada, e enquanto o fazia, liberava uma espécie de líquido viscoso, o qual Wren sabia que somente podia ser a forma líquida da Onda Negra de Energia. Agindo sem pensar, ele atirou diretamente em Dark Force. Todos os tiros a atingiram, e com cada impacto, o olho de Dark Force piscou e ela grunhiu. Mas seu corpo não parecia danificado. Sua mágica era aparentemente grande, maior que daquelas Dark Forces que Wren tinha enfrentado.

Dark Force rugia diretamente na cara de Wren. Wren tentou virar o rosto, mas sua cabeça era mantida no lugar pela mão de metal da Dark Force, a qual tinha entrelaçado seus dedos frios nos cabelos de Wren. Dark Force regurgitou mais líquido diretamente na cara de Wren. Em alguns segundos o andróide parou de se dabater.

Dark Force caminhou de volta a bancada que ocupava anteriormente. Ela observava a pele de Wren absorver o líquido e como ele cobria a sua face com bolhas e suas partes de metal com ferrugem e manchas.

Quando o sangue negro terminou de escorrer para dentro de Wren, como água em um rio, seus olhos se abriram.

“Ah, marionete.” Dark Force disse, sorrindo.

Wren concordou, balançando a cabeça. “Saudações para ti também, mestre.”

* * *

A nave de Dahl, Landale IX, pousou ao lado da Landale VII, de Wren.

“Demi estava certa,” Dahl disse. “Ele está aqui.”

Logo que a nave pousou, Dahl desembarcou, seguida de Erol, seu copiloto, Azur e Mium, que era a única dos quatro que não estava vestida com roupa pesada para neve. Dahl, ainda furiosa, marchava na frente do grupo. Quando ela alcançou a entrada da tenda, hesitou.

“Você está bem?” Erol perguntou, colocando seu braço nos ombros de Dahl. “Talvez você queira entrar sozinha. Ou talvez voltar pra casa…?”

“Não.” Ela respirou fundo. “Estou bem.”

“O que você vai dizer a ele?” Azur perguntou.
Dahl hesitou uma segunda vez ao segurar a aba de entrada, e suspirou. “Eu não sei,” ela disse. “Mas estou me sentindo mais nervosa do que o normal sobre o que vou encontrar aí dentro…”

O original em inglês desse texto pode ser encontrado em http://users.skynet.be/fa258499/beyondalgo/story/cr/cr5.html

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