Ferramentas do usuário

Ferramentas do site


fanworks:alem_de_algol:historias:brisa_da_bencao

A brisa da bênção

Por Mike Ripplinger
Tradutor: Orakio Rob

Percebendo que estava a apenas poucos metros do pico acima, Azura Mallos finalmente virou-se e olhou para baixo. Sua mão imediatamente cobriu sua boca, reprimindo sua admiração.

Ela não imaginava que seria tão bonito.

Azur estava a poucos metros do pico de Baya Malay, um alto pico que fora construído na cadeia de montanhas ao norte de Palma II. O lado ecologista de Azur insistiu para que o processo de formação do terreno criasse a cadeia de montanhas. Ela queria se certificar de que um sistema de purificação e distribuição de água – um córrego – pudesse ser instalado bem no alto da montanha, distribuindo água para a vila que estivesse na base das montanhas, assim como para o resto do continente norte de Palma II. A razão para sua insistência foi o lado romântico de Azur, que queria se certificar de que um ponto, o da cachoeira que desce por um vale, seria criado o que ela já chamou de o ponto mais romântico de Palma II. Se você vai criar seu próprio planeta, ela disse à sua irmã em mais de uma ocasião, você deve fazê-lo do seu jeito.

E o lado historiador de Azur insistiu que o mais alto pico fosse chamado de Baya Malay, em homenagem à poderosa montanha que observava o Palma original a quatro mil anos atrás.

Quando a decisão foi tomada, as notícias se espalharam como fogo por Palma II, criando uma empolgação com a qual Azur jamais havia sonhado. Baya Malay era uma lenda em Algol por ser a montanha acima da qual Lassic irradiava sua tirania. Também era, no entanto, a montanha sobre a qual ele morreu, e a Igreja de Algol já desenhava projetos do que viria a ser uma belíssima obra, a Catedral de Santa Alis, aos pés da nova Baya Malay.

Azur sabia que os cidadãos de Palma II iriam querer escalar a montanha, para alcançar o topo como a Rainha Landale I fizera, então a mesma foi construída para proporcionar uma escalada fácil, com diversas trilhas até o topo. Grama especial, criada especificamente para crescer nas grandes altitudes e baixas temperaturas, foi plantada, e suprimentos de oxigênio foram postos à disposição.

O plano era mostrar a montanha ao público daqui a uma semana. Azur decidiu ser a primeira a escalar não apenas para testar as trilhas e suprimentos, e não apenas para ter a honra de ter sido a primeira a fazê-lo, mas também para testar a exatidão histórica da montanha.

Ela não ficou desapontada. Enquanto contemplava a paisagem de Palma II, a visão mental do Palma original, que ela criara através de numerosos estudos ao longo de sua vida, se punha diante de sua mente, pronta para ser comparada. Da Baya Malay original, podia-se ver claramente a enorme tri-metrópole de Palma, Parolit e o espaçoporto de Palma, e de forma semelhante, da nova Baya Malay, Azur podia ver o Climatrol, e pensou ainda ser capaz de ver a escotilha que levava aos Laboratórios de Formação de Terreno. Os que escalavam a Baya Malay original tinham uma visão incrível do oceano leste do planeta, e da cidade portuária de Scion. Contemplando a distância agora, Azur podia ver pedra e areia, que um dia viriam a formar o litoral do mar de Drasgow, assim que o oceano fosse preenchido.

A vista era de tirar o fôlego, e ela começou a se perguntar se era a cachoeira dois mil pés abaixo dela, ou o local onde ela estava agora o ponto mais romântico de Palma II. Ela deveria considerar a questão com mais atenção, e ouvir a opinião de Dahl antes de decidir. Nah, ela pensou. A Dahl provavelmente acha que os laboratórios são mais românticos do que aqui. Ela é tão fria às vezes.

Azur respirou fundo – a pequena máscara de oxigênio que usava certamente a ajudava na tarefa – e voltou os olhos para o pico acima dela. Seu coração começou a bater mais rápido; a vista havia enchido-a de adrenalina, e agora, vendo que estava quase no topo da montanha, sua energia e empolgação explodiam.

Apesar das frias (mas não congelantes; eles a criaram dessa forma) temperaturas aqui no topo da montanha, Azur ajeitou suas botas e correu pela trilha na montanha, dando um bom pique enquanto ria pelo caminho. Poucos momentos depois, ela atingiu o topo, enquanto uma brisa fresca corria pela montanha. Azur deu um largo sorriso para a vista à sua volta – O mar de Drasgow é tão belo, que eu poderia mergulhar e nadar agora mesmo! E a grama, tudo é tão verde! – e enquanto continuava a sorrir, se surpreendia ligeiramente ao perceber que lágrimas corriam por seu rosto, também.

Por quê estou chorando? ela se perguntou a princípio, mas logo ela percebeu. Foi a vista. Dali, do ponto mais alto de Palma II, ela pode finalmente contemplar o que ela, sua irmã, Erol e os outros haviam criado. Eles conseguiram. Eles realmente conseguiram! Eles pegaram um monte de pedras que outrora formaram a crosta de Palma, e criaram um novo Palma a partir delas. É verdade, eles ainda estavam a anos de completarem tudo, se é que um planeta vivo pudesse ser “completado”, mas eles conseguiram. Pela primeira vez, a completa extensão de seus feitos atingiu Azur, e ela podia apenas chorar de felicidade.

“Oh Dahl,” ela sussurrou no topo da montanha, “mal posso esperar para que você veja isso”.

Enxugando uma lágrima, ela olhou à sua volta. Ela estava no pico da montanha na qual aa Rainha Alis Landale I e seus companheiros haviam pisado, antes de voarem pelo ar rumo ao castelo negro de Lassic. Azur gargalhou, lembrando-se dos velhos debates nos seus dias na PWA. A autobiografia de Alis dizia que ela e seus companheiros subiram nas costas de Myau, o gato almiscarado, depois que este de alguma forma aumentou de tamanho e criou asas, mas a maioria dos historiadores acredita que , na verdade, um transporte os levara até lá; não havia provas de que qualquer espécie de gatos almiscarados tivessem asas brancas, e a idéia de Myau ser capaz de voar fora completamente fabricada para efeitos dramáticos pela própria rainha – ou então, por quem quer que tenha escrito sua biografia, pois nenhum historiador de respeito acredita que a rainha tenha tido tempo para escrever uma nos anos que sucederam ao reino de Lassic.

De qualquer forma, a discussão se encerrou – ao menos, para ela – quando Wren afirmou ter visto uma vez um gato almiscarado grande como um cavalo e dotado de asas brancas. A pergunta de como Alis e companhia alcançaram o Castelo Negro foi respondida, mas a verdadeira pergunta, a que mais freqüentemente a incomodava nos momentos mais inoportunos (como agora), arruinando momentos que deveriam ser felizes… era a pergunta, o que Alis pensaria disso tudo?

O que qualquer pessoa que tenha vivido em Palma teria pensado desse projeto que era sua vida, Palma II? Ela e Dahl e todos os outros envolvidos encaravam-no como um meio de reconstruir Algol, de restaurar a jóia da coroa algoliana, mas e se as pessoas que viviam em Palma, e se as pessoas que morreram na explosão de Palma, onde quer que estivessem agora (já que Azur acreditava que elas estavam em algum lugar), e se eles vissem Palma II como uma forma de esquecer Palma, de esquecer que já existiram pessoas que viveram, e morreram lá… que tiveram famílias lá, que trabalharam lá…

“Azura Mallos,” ela se repreendeu, pondo as mãos sobre a face e balançando a cabeça. Todos a achavam tão alegre, e na maior parte do tempo ela era mesmo, mas por muitas vezes, sua atitude descontraída era apenas um escudo para suas preocupações – ainda que Dahl as chamasse de paranóias bruscas. É claro que as pessoas que viveram em Palma não se preocupavam com isso, claro que elas não viam Palma II como uma tentativa de apagá-las da memória. Elas provavelmente viam Palma II, ela pensou, enquanto mais uma vez olhava à sua volta e seguia com o olhar um pássaro amarelo que voava pelo céu, do mesmo jeito que ela e Dahl e os outros viam. Elas provavelmente…

Pássaro?

Ainda não haviam pássaros em Palma II. Alguns poucos passarinhos, talvez, mas nenhum que se parecesse com o que havia acabado de passar diante dela. Ela se virou rapidamente no pico da montanha, erguendo a cabeça para procurar pelo pássaro. Outro suspiro veio de sua boca, esse ela não conteve. Ela simplesmente deixou sua boca se abrir, seus olhos se arregalarem, enquanto observava o que ela julgava ser um pássaro… mas que era na verdade um gato almiscarado.

Um gato almiscarado gigante, com asas brancas, batendo-as com força enquanto subia cada vez mais alto no céu. Haviam três pessoas nas suas costas. Uma de branco, outra de armadura, e… Por Deus! A mente de Azur gritou. Não podia ser. Não podia ser!

Mas era, era Alis Landale, e ela e Odin e Noah estavam montados em Myau, subindo pelos céus de Baya Malay. O trio olhou para baixo por sobre os ombros – olhou para ela – enquanto Myau rumava para uma nuvem, e ainda que depois Azura Mallos viesse a crer que tivesse sido apenas sua imaginação, naquele momento, ela sabia que Alis e companhia estavam sorrindo para ela. Ela esfregou os olhos, olhou de novo para a nuvem, mas eles se foram. Não havia nada além do céu azul, e das nuvens brancas.

Azur olhou à sua volta, para baixo, além da vista de Palma II, tentando recuperar o fôlego. Este planeta, ela pensou, é um tributo ao espírito algoliano, que mostra o que nós algolianos podemos fazer. É um tributo ao planeta que já existiu aqui. É um tributo ao povo que passou sua vida aqui.

Mais uma vez seus olhos azuis buscaram o céu, enquanto um sorriso tomava seus lábios. E eles nos deram suas benções, ela pensou. Um suave brisa acariciou a nova Baya Malay, e Azur Mallos simplesmente olhou para o céu, com seu cabelo azul balançando sob o vento gentil.

Fin

O original em inglês desse texto pode ser encontrado em http://users.skynet.be/fa258499/beyondalgo/story/abob.html

fanworks/alem_de_algol/historias/brisa_da_bencao.txt · Última modificação: 2009/01/15 19:52 por orakio