Por James Maxlow e Mike Ripplinger
Traduzido por Vovô Dorin
“Cinco mil e duzentas mesetas exatamente. Como você sabe, nossa cidade está num aperto terrível, e eu não posso dar nenhum desconto.” O rosto do vendedor de landrovers não demonstrava nenhuma emoção.
“Este é um preço alto pelo veículo,” explanou Noah, levantando suas sobrancelhas, “mas aceitável devido às circunstâncias. Eu creio que ele esteja em perfeito estado de funcionamento?”
“Absolutamente… eu saio e faço a manutenção preventiva neles toda a semana… aqui está o bloco de controle.” O vendedor pegou um pequeno cubo de circuitos e colocou-o no balcão; apesar do seu tamanho, ele aparentava ser muito pesado. Odin pegou-o pela alça.
“Aqui estão as mesetas,” disse Alis enquanto entregava o dinheiro. O homem pegou-as avidamente, como se ele não visse tal quantia há muito tempo.
“Obrigado, obrigado,” disse ele. “Você sabe, eu não iria dizer isto para você, mas… é que não tem mais uso para mim agora…” Alis e Noah deram um olhar de surpresa. “Se vocês voltarem para Palma, você poderá obter um hovercraft usado…”
“Um hovercraft?!?” exclamou Odin. “Eles foram declarados ilegais, com o fechamento das linhas de navegação… eu não vejo um há meses…”
“É verdade… mas no ano passado, enquanto ainda era possível para nós comerciantes de pequenas cidades para fazer a vida, eu estava em Palma e comprei um hovercraft em Scion. Eu pensei que eu poderia obter um bom lucro com ele por aqui, mas logo após eu comprá-lo, ele quebrou. Eu tentei tudo o que eu sabia para consertá-lo, mas ele era realmente uma obra-de-arte. Eu acabei por abandoná-lo em Bortevo.”
“Bortevo? Aquela cidade não tem nada exceto lixo…” apontou Alis. Ela rapidamente percebeu que ela estava apontando o óbvio.
“É claro, foi por isso eu deixei-o lá. Ela estava praticamente do meu lado.”
“Por que você está falando disto conosco, amigo?” perguntou Odin.
“Bem, eu não poderia buscá-lo em Palma mesmo… é muito perigoso. Mas eu sei que vocês ainda podem passar por lá…”
“Como você sabe disto?” interrompeu Alis.
“Derrin, de Uzo, enviou uma mensagem para a nossa vila, explicando que vocês estavam vindo. Ele nos falou da missão de vocês, e que nós fizéssemos o que fosse possível para ajudá-los… eu apenas pensei que eu poderia ajudá-los de alguma forma…” Os olhos do homem demonstravam a sua sinceridade, e Noah rapidamente teve certeza.
“Nós lhe somos gratos, amigos. Quando nós retornarmos, nós faremos o melhor possível para repará-lo… nós temos um aliado que tem experiência nesta área…” Enquanto os quatro se viraram para ir, o homem sorriu, feliz por ter sido útil. Antes de fechar a porta atrás de si, Odin chamou-o olhando por cima do ombro.
“A propósito, você pode dizer a todos na cidade que o Dragão de Casba foi destruído… e este tipo de ação encontra reciprocidade em caminhos ocultos…”
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Eles agora estavam em frente a um dos landrovers, pela primeira vez observando de perto. O veículo estava revestido com um metal azul escuro que servia de blindagem; apenas um pequeno pára-brisas estava exposto. Odin pressionou uma das faces do cubo de controle contra um pequeno quadrado próximo à porta, e com um assobio, a porta se abriu. Eles foram para dentro.
Haviam seis assentos, separados em filas de dois. Os dois primeiros assentos estavam em frente ao painel de controle, onde dois volantes residiam. O resto do painel era um amontoado de botões, luzes e circuitos. O resto da cabine estava vazio, exceto por um gabinete de metal no fundo.
Odin foi seguido pelos outros para dentro enquanto ele gentilmente colocava o cubo na sua interface no painel de controle. Alguns segundos depois, a cabine começou a zumbir e luzes em todos os lugares se acenderam.
“Realmente é apertado aqui,” comentou Alis enquanto ela se sentava no primeiro assento e pegava o volante. Noah e Myau se sentaram na fila seguinte, atrás dela. Enquanto Odin colocava o seu assento próximo ao de Alis e começava a ligar interruptores no painel, ela rapidamente tirou suas mãos do volante, sabendo que ela não queria atrapalhar o progresso dele.
“Eu usei um desses há muito tempo atrás…” começou ele. “Este é ligeiramente diferente, mas eu acho que eu posso lidar com ele.”
“Então nós vamos voltar para Uzo, para carregá-lo na nave?” sugeriu Alis.
“No,” respondeu Noah de trás dela. “Nós precisamos fazer mais uma parada aqui em Motávia, uma parada muito importante.” Odin se virou para vê-lo.
“Para onde, então?”
“Nós precisamos ver o meu mentor, Mestre Tajim… eu preciso falar com ele sobre o nosso objetivo. Ele vive nas profundenzas das montanhas ao sul; eu posso guiá-lo enquanto nós vamos, Odin.”
Alis olhou-o preocupada. Ele nunca havia mencionado esta necessidade de ver este tal de Tajim antes, ou ainda que ele existia. Havia alguma coisa que ele estava omitindo.
Mas seus pensamentos sobre isto rapidamente sumiram quando o landrover moveu-se adiante, Odin operando o volante habilmente. Através do para-brisas, eles podiam ver o mundo externo, o deserto todo em volta; mas dentro do landrover, era como estar em outro lugar, salvos de quaisquer armadilhas que o deserto poderia oferecer.
O veículo se moveu rapidamente pela areia, levando segundos para cobrir uma distância que levaria mais de dez vezes mais a pé. Odin, se divertindo enquanto guiava o landrover, ligou mais um interruptor no painel. Subitamente um jato de ar gelado encheu a cabine, a única vez que o calor foi interrompido que eles experimentaram desde que deixaram Palma. “Ar condicionado…” ele disse com um sorriso.
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Apesar da velocidade do veículo, ainda levaria um longo tempo para chegar às montanhas ao sul. Alis e Noah encontraram uma boa maneira de passar o tempo. Tendo trocado de lugar com Myau, Alis agora estava ouvindo seriamente enquanto Noah tentava explicar a ela como executar certas magias rudimentares.
Tendo aprendido por conta própria a simples magia de cura Desan há várias semanas atrás, Alis estava surpresa com a dificuldade em aprender as técnicas de Noah. Elas envolviam modos de concentração completamente diferentes, e ela estava conhecendo as suas limitações rapidamente.
“O principal componente para a execução de qualquer uma destas magias,” ele estva falando para ela, “é submergir na sua consciência, pensando para dentro da mente. Você deve treinar sua mente para rapidamente poder transferir-se para um estado completo de reação; não pode haver pensamentos, sentimentos, apenas reação.”
No momento Alis tinha os seus olhos apertados, trincando seus dentes, tentando alcançar este estado mental.
“Não force isto, Alis… relaxe… relaxe até o ponto em que os seus pensamentos sejam levados para o subconsciente.”
“Eu estou tentando… mas não está funcionando… como é possível que eu faça algo se eu posso pensar nisto? Eu não vejo como eu…”
“Apenas relaxe,” disse Noah. “Começe com o seu corpo: não se permita usar nenhum músculo, deixe o seu corpo sentado, abandonado pela sua mente.” Alis deu um suspiro profundo e então inclinou-se de volta ao seu assento, olhos ainda fechados. “Agora, permita que esse desapego se espalhe pelos seus pensamentos da mesma forma. Pense em nada. Processe nada. Apenas deixe-se levar para uma tranqüilidade inativa.” Ambos ficaram quietos por um bom tempo. “Você pode ouvir a minha voz. Mas não preste atenção. Deixe a reação da sua mente prestar atenção no que eu tenho a dizer, mas não gaste seus pensamentos com isto. Você ainda pode me ouvir?” A boca de Alis fez um “Sim”, mas não veio nenhum som.
“Bom,” continuou Noah. “Você está se aproximando do estado perfeito. A reação da sua mente pode sentir o poder dentro de você, o poder que não é utilizado pela consciência da sua mente. É este poder que irá te abastecer, que será liberado nas várias formas que nós chamamos de magia. Somente a reação da sua mente pode utilizar ou controlar tal poder. No momento em que a consciência da sua mente voltar, o poder desaparecerá, escondido novamente pelas limitações enfadonhas do pensamento consciente. Você pode sentir o poder, não pode?”
Novamente, Alis moveu a boca num “Sim”, apesar de ela aparentar estar sonolenta, bem longe num mundo de sonhos.
“Bom. Este contato é o primeiro passo. É um feito monumental. Você agora deve deixar o seu estado de reação, submergindo de volta para a sua mente consciente.” Os olhos de Alis se abriram lentamente, e ela levou a mão à testa, como se estivesse com dor. “Descobrir o que você possui pela primeira vez é muito extenuante… nós continuaremos com o treinamento mais tarde, quando você tiver se recuperado.”
“Era… incrível,” sussurrou ela. “Tudo estava lá, o mundo à minha volta e eu era parte dele… não como um ser vivo, mas como parte viva de um mundo…”
“E você apenas passou pela mais básica experiência preparada pelos Espers. Isto irá torná-la mais forte, depois.”
“Eu mal posso esperar…” replicou Alis, ainda sonhando com a sua nova habilidade descoberta.
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“Nós chegamos…” disse Noah em voz alta. Odin parou o landrover, e olhou para fora da janela.
“Onde?” disse ele, “Eu não vejo nada lá fora… apenas montanhas e formações de rocha… de qualquer jeito, onde vive esse tal de Tajim?”
“Meu mestre vive nos subterrâneos, em outra caverna.”
“Cara, vocês Espers e suas cavernas… o seu povo não gosta da luz do sol?” perguntou Odin brincando.
“O isolamento dado pelas cavernas nos dá a oportunidade ideal para estudar os nossos ensinamentos, meu amigo. O mundo externo tem muitas distrações.”
“E existem monstros nesta caverna subterrânea, eu presumo?” replicou o guerreiro.
“É claro…” disse Noah com um sorriso. “Nós precisamos de algumas cobaias para praticarmos nossas magias…”
Os quatro heróis começaram a deixar o veículo, mais uma vez encontrando o penoso mundo externo. “O veículo estará a salvo aqui fora a céu aberto?” perguntou Alis.
“Eu estou levando o cubo de controle comigo, portanto ele não irá a lugar algum.” O cubo se ajustou confortavelmente na mochila de Odin enquanto ele fechava a porta. “Então com tudo acertado, onde é a caverna?”
Noah apontou para uma rocha circular a cerca de quarenta pés de distância. “É por aqui. A entrada está sempre aberta.”