Por James Maxlow e Mike Ripplinger
Traduzido por Vovô Dorin
No dia seguinte do encontro com o Doutor Mad, Alis, Odin e Noah construíram túmulos para todos os Gatos Almiscarados mortos, com a ajuda dos moradores da cidade. Myau esteve ausente o tempo inteiro, perambulando pela floresta do lado de fora da cidade. Havia uma preocupação com o paradeiro dele, mas Odin garantiu a todos que ele voltaria quando ele estivesse bem.
E então no amanhecer do terceiro dia deles em Abion, ele retornou. Ele falava pouco, e parecia querer ir embora da cidade o mais breve possível. Os heróis foram embora naquela manhã, iniciando sua longa jornada de volta a Bortevo.
Myau não quis conversar durante a viagem inteira, falando somente quando chamado durante as batalhas. Seus ataques eram rápidos e mortais, e ele continuava com eles com uma calma reservada que aborrecia até Odin. Como ele poderia continuar a acompanhá-los com a sua tristeza nos próximos dias era desconhecido de todos.
Finalmente, após alguns dias, depois de parar em Loar novamente, eles chegaram em Bortevo. Como da outra vez, não havia ninguém na cidade, inclusive o louco que eles encontraram da última vez. Eles foram até a casa onde encontraram Hapsby, e Alis tirou o Polymeteral enquanto o localizador eletrônico tocava.
“Seja cuidadosa, use somente um pouco por vez… nós podemos precisar de cada gota,” avisou Noah. Moderadamente, Alis começou a derramar o líquido em cima da pilha de lixo. Cada gota chiava e soltava fumaça imediatamente ao entrar em contato com o metal. Em segundos, buracos de erosão se formaram; o metal estava sendo realmente dissolvido. Ela continuou a derramar, e em pouco tempo uma forma começou a se revelar, imune à ação corrosiva do Polymeteral. Quando todos os outros metais foram consumidos, o robô Hapsby colocou-se diante deles.
Ele tinha exatamente dois pés de altura, com um alongamento, cabeça cheia de bulbos e dois sensores brilhantes que imitavam olhos. Seus finos braços dobrados nos cotovelos e pulsos, enquanto uma complexa estrutura de palitos e agulhas formavam as mãos. Ele não tinha pernas; em seu lugar, ele andava sobre duas longas esteiras, úteis para percorrer todos os tipos de terreno. Nenhum deles havia visto algo similar.
Alis, por falta de melhor cumprimento, disse. “Hapsby, eu presumo?” Um baixo zumbido veio de dentro do robô, e o que se achava que era a sua cabeça se levantou para olhá-los, motores afastando-se.
“Afirmativo. Eu sou o robô Hapsby, Modelo 01, criado pelo único Doutor Luveno. Como eu poderia ajudá-los?” Sua voz era surpreendentemente estável, apesar de que ele nunca poderia se passar por Palmaniano.
Até este ponto, a jornada inteira tem sido fácil o suficiente para Alis e companhia para acreditarem. Mas agora, ouvindo esta inteligência artificial falar para eles… isto era impressionante!
Alis gaguejou uma resposta. “Prazer em conhecê-lo, Hapsby… meu nome é Alis, e estes são Odin, Noah e Myau… nós fomos enviados pelo Doutor Luveno para resgatá-lo…”
“Pergunta: eu não tenho tarefa determinada sendo tratada; então não há nada que eu tenha sido prevenido de fazer. Como eu poderia ser resgatado?” Sua lógica era breve, se ele não estivesse se divertindo.
“Bem, Doutor Luveno precisa de você agora… para pilotar uma espaçonave para nós. Poderia ser esta uma 'tarefa determinada', para você?”
“Afirmativo. Vocês agora me resgataram. Obrigado. Vamos, Doutor Luveno me aguarda.” Com outro bip e um zumbido, Hapsby estava girando em torno deles, indo em direção à porta. Sorrindo, Alis seguiu-o, como fizeram os outros.
Eles já estavam fora da cidade quando Alis dirigiu-se a ele e falou de novo. “Hapsby, você pode contatar o Doutor Luveno agora, e dizer a ele que nós estamos voltando para Gothic?” Sem diminuir o ritmo, o robô respondeu.
“Negativo. Meus circuitos de comunicação foram danificados quando eu fui separado do Doutor Luveno. Quando Doutor Luveno terminar meus reparos, eu poderei contatá-lo.”
“Que… legal…” Conversar com este robô seria uma tarefa delicada, pensou Alis.
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Talvez fortalecidos pelo entusiasmo recém-adquirido, o grupo fez viagem de volta para Gothic em muito menos tempo que eles levaram para ir. Enquanto eles foram para o portão de entrada da vila, Luveno, que permanecia do lado de fora de sua casa, reconheceu-os.
“Hapsby!” ele gritou enquanto ele corria para eles. “Vocês o encontraram! Hapsby, rapaz, como você tem passado? Já se passaram algumas semanas desde a última vez que o vi!”
“Todas as minhas funções exceto comunicações estão funcionando perfeitamente, Doutor Luveno. Eu estimo que somente pequenos reparos me restaurarão para capacidade total.”
“Ele é uma boa companhia para viagens, Doutor,” disse Odin com um sorriso.
“É claro, é claro! Ele é a mais fina obra de arte no planeta, modéstia à parte!”
“Como vai a espaçonave, Doutor?” perguntou Noah.
“Bem, bem! Ela está pronta para ir! Meu assistente e eu não tivemos problemas em voar com ela daqui para as montanhas. Mas vocês devem me perdoar, eu estou muito feliz em ver Hapsby de volta! Venham, nós todos teremos uma festa na minha casa! Vamos!” Luveno colocou a mão na cabeça de Hapsby enquanto eles desciam a viela. Uma estranha combinação pai-filho que nunca havia sido vista.
O jantar àquela noite foi cheio de discussões sobre os próximos passos dos heróis: como utilizar Hapsby e a nave, para onde viajar, que precauções tomar. Metade do tempo o Doutor Luveno passou engolindo a comida (uma maravilhosa pausa dos pratos de Loar, pensou Alis) e a outra metade reparando Hapsby, direto na mesa de jantar, um garfo numa mão e um ferro de solda na outra.
Estava decidido que sua primeira viagem seria para Motávia, para a pequena cidade de Uzo. Era um dos poucos lugares onde eles poderiam aterrissar a nave com segurança, e sem alertar os homens de Lassic no espaçoporto de Paseo. Ainda que fosse bastante independente do CGP, Uzo era conhecida por ser uma amiga dos Espers; Noah acreditava que eles poderiam obter armas e suprimentos lá por preços baixos. De lá, se possível, eles poderiam fazer a jornada até Casba. O Olho Âmbar estava lá, tal qual estava uma das mais importantes partes do equipamento: um Landrover. Este veículo, vendido por um preço alto em Casba, livrá-los-ia de se locomoverem a pé: ele poderia transportá-los rapidamente para qualquer lugar em qualquer planeta, e ele seria ideal para protegê-los contra vários monstros.
Todas estas tarefas eram meramente a preparação, é claro, para o verdadeiro objetivo: encontrar o Aero-Prisma em Dezóris. Noah teimou que ele era necessário para enfrentar Lassic, e eles precisariam de toda a ajuda que eles pudessem obter para encontrá-lo. Viajar pelas tempestades Dezorianas era morte instantânea para qualquer um que não estava preparado para encarar seu clima letal e seus poderosos monstros.
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Eles embarcaram na nave, que estava estacionada perto de Gothic, na manhã seguinte. Ela tinha apenas cinqüenta pés de comprimento e trinta de largura, mas ela tinha uma área de carga grande que seria perfeita para carregar o que fosse necessário. Hapsby sentou-se (ou melhor, colocou-se) em frente ao painel de controle, conectado por fios e argolas. Enquanto os quatro colocavam os cintos de segurança, Luveno lhes dava seus últimos conselhos.
“A nave tem o seu próprio campo de força, que vocês podem pedir a Hapsby para ativar sempre que necessário, para proteção. Mas não usem por muito tempo, pois ele tira a energia diretamente da bateria principal… Hapsby os manterá informados sobre todos os recursos, então vocês têm de trazer a nave de volta para cá para recarregar se ficar descarregada.”
“Claro, Doutor,” reagiu Odin, “não se preocupe! Nós teremos muito cuidado com esta máquina!”
“Eu estou certo de que vocês terão, mas é muito difícil ter de deixá-los irem…” O Doutor caminhou até Hapsby e abaixou-se. “Hapsby, meu garoto, tome cuidado consigo mesmo, e com essas pessoas também. Eles são meus amigos… eu estou perdendo você de novo, logo depois de recuperá-lo…” Ele estava quase chorando.
“Eu não falharei com a minha programação, Doutor Luveno.”
“Claro que não, velho amigo, eu sei disto. Apenas tenha cuidado…” Luveno levantou-se e foi para a entrada do convés. “Vão em paz, todos!” ele exclamou.
“Fique em paz, Doutor Luveno…” replicou Noah. A porta fechou, e, poucos segundos depois, o zumbido dos motores era evidente. Muito mais silenciosos que os motores de transporte espacial comuns que Alis havia ouvido da primeira vez algumas semanas atrás, esta embarcação ronronava calmamente enquanto ela sentia cada polegada adiante e acima. Em segundos, veio a explosão, lançando a espaçonave para uma alta velocidade e pressionando-a contra o seu assento. A pressão durou por um minuto, antes dos motores reduzirem. Eles estavam disparando pelo espaço, com a felicidade do cosmos em volta deles. Destino: Motávia.
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“Noah!” o grande homem gritou. “Há quanto tempo! Como você tem estado, meu amigo?”
Na entrada de Uzo, Derrin, o líder da cidade, encontrou-os. “Eu estou bem, Derrin, como eu espero que você esteja… a cidade nunca muda, não é?” ele disse enquanto sorria.
“Ah, estabilidade é a rocha do progresso, meu garoto! Mas venha, o que traz você aqui de repente… e quem são os seus amigos aqui?”
“Esta é Alis, Odin e Myau. Eles vieram de Palma, membros da resistência.”
“A resistência? Contra Lassic?” perguntou Derrin. “Não se vêem muitos deles por aqui em Motávia, hein? Eu creio então que esta não é uma visita amistosa?”
Alis parou em frente. “Não, senhor. Nós estamos numa missão para destruir Lassic pessoalmente. Nós viemos aqui procurando por ajuda; Noah nos disse que você poderia ser simpático para com a nossa busca.” O tom de Derrin perdeu seu modo jovial.
“Sim, madame, nós aqui em Uzo, apesar de estarmos bem longe de sua influência direta, não podemos digerir os meios diabólicos do tirano. Qualquer amigo de Noah é nosso amigo; nós vamos ajudá-la da maneira que nós pudermos.”
“Obrigado, Derrin. Nós estamos procurando armas… armas poderosas… o que as suas lojas tem para nos oferecer?” perguntou Noah.
“Vocês vieram na hora certa, meu amigo. Nós adquirimos recentemente um pequeno lote de Sabres Laser… armas verdadeiramente incríveis…” os olhos de Odin brilharam.
“Sabres Laser?” ele perguntou.
“Sim,” veio a resposta. “Espadas cujas lâminas são compostas de pura energia e plasma, gerado pelo punho. Elas são incrivelmente devastadoras…”
“Nós definitivamente vamos examiná-las, Derrin… e é claro que nós temos as mesetas para comprá-los de você. Nós também gostaríamos de visitar sua loja de Itens, pois nós estamos ficando sem suprimentos,” explanou Noah.
“Sim, sim, tudo bem. Mas primeiro, vocês são meus convidados de honra para o jantar desta noite, hein? Uzo é conhecida no planeta pela sua hospitalidade, não é?” Sorrindo novamente, Derrin levou-os para o centro da cidade.
“É um verdadeiro caminho atormentado que vocês escolheram para si, Noah,” disse Mayela, esposa de Derrin, depois do anoitecer. “Eu temo pela sua segurança ao confrontarem o lorde negro.”
Noah estava acabando com uma caneca de cerveja. “Todos nós estamos sob a sombra da tirania, Mayela. Eu temo mais pela inércia do que pelo confronto.”
“O que houve com o seu amigo, ali, Noah,” ria Derrin enquanto ele apontava para Myau, “por quê ele está tão quieto? O gato mordeu a sua língua, haha!” Silêncio, enquanto Alis olhava Noah nervosamente.
A resposta de Noah foi leve e calma. “Não, Derrin. Recentemente, muitos do seu povo, os Gatos Almiscarados, foram assassinados em Palma por um dos cúmplices de Lassic.” Mais silêncio.
“Eu… lamento,” começou Derrin. “Eu não sabia… por favor me perdoe, senhor…” Derrin abaixou sua cabeça, olhando Myau nos olhos. Depois de uma pausa, Myau acenou, mas nada disse.
Houve pouca conversa após isto. Mais tarde, Derrin acompanhou todos eles até os seus quartos. Deitando-se na cama, Alis novamente desejava saber o que qualquer um deles poderia fazer para ajudar Myau. Ela deixou-se levar pelo sono sem encontrar uma resposta.
No seu quarto, Myau sonhou como todos Gatos Almiscarados faziam, com campos abertos, ventos soprando, e céus brilhantes. Não era real, apesar de tudo. Sua liberdade da culpa, da dor, e do sofrimento era somente isto: um sonho.