Por James Maxlow e Mike Ripplinger
Traduzido por Orakio Rob
Após saírem da caverna sem maiores problemas, os três guerreiros agora estavam sob o sol do fim da tarde, discutindo suas opções. Pela primeira vez, Alis pôde ver Odin direito. Ele era ainda mais intimidador sob a luz do sol; Seu tórax volumoso era complementado por uma face forte, e seu cabelo louro brilhava. Era o maior homem que ela já havia visto.
“Finalmente estamos reunidos,” Myau disse a Alis, “qual será nosso próximo passo?”
“Eu soube que o governador de Motávia pode nos ajudar. Temos que conseguir uma audiência com ele. Mas precisamos de um presente… pelo visto, precisaremos achar um doce palmiano raro… é estranho, mas ele não nos receberá sem o doce.” Odin respondeu com empolgação.
“Um doce? Sei de um homem que os vende,” ele disse.
“Muito bem, então vamos comprar um imediatamente,” Myau respondeu.
“Temo que não seja tão simples. Ele vive… bem, vai ser difícil chegar em sua loja…” Alis assumiu um expressão preocupada.
“Como assim, 'complicado?' Onde ele vive?” ela perguntou.
“Ele mora bem ao norte, além da colina de Baya Malay. Vai ser uma looonga jornada.” Odin ainda parecia estar escondendo algo. Alis o pressionou.
“E daí? Ouvi dizer que você é o maior dentre os guerreiros. Está com medo da jornada?” A acusação de Alis chocou Odin, que encheu o peito para se defender.
“Minha cara, eu viajei para muito mais longe sozinho, sem comida, e com apenas uma insignificante espada pequena para me defender. Não é a jornada que me preocupa; nem sou, na verdade, contra a idéia. Mas você deve saber, o homem de quem eu falo vive dentro de uma caverna, parecida com essa da qual saímos agora.” O queixo de seus companheiros caiu.
“Dentro de uma caverna? Quem seria tão imbecil a ponto de viver em um lugar tão perigoso?” Myau perguntou.
“Talvez ele seja louco, mas não é um imbecil. Imbecis não carregam pistolas para se defenderem…” Odin riu nesse momento. “Antes do número de monstros crescer, ele fez uma casa e uma loja na caverna ao norte. Ele não gostava de viver em sociedade e queria se distanciar da cidade. E além disso, ele achou que uma loja em um lugar tão estranho atrairia ótimos negócios…”
“Que homem estranho,” disse Myau. “Certamente ninguém viaja até lá só para visitar sua loja!”
“Você se surpreenderia,” Odin comentou. “Naquela época, era uma longa jornada, mas não era perigosa. De modo geral, é ensinado aos palmianos que eles devem ficar longe de cavernas antigas, mas a sua presença lá provava que isso era apenas um conto de fadas.”
“Mas quando monstros começaram a aparecer, todos pararam de viajar até lá…” Alis o interrompeu.
“Certo. Mas ele se recusou a deixar seu lar, mesmo quando monstros começaram a infestar a caverna. Eu consegui uma arma para ele, mas pedi que ele deixasse a caverna. Da última vez que eu o vi, a uns quatro meses atrás, ele ainda morava lá.”
“Então podemos ir até lá e pedir a ele que faça um doce para o governador.” Alis falava em tom decidido.
“Você é uma garota muito ousada,” disse Odin. “Muito bem. Se você acha que o governador pode nos ajudar, não temos escolha. Devemos ir a Eppi primeiro.”
“Eppi? Para quê? Estivemos lá a duas semanas atrás…” Myau disse com hesitação. Odin apanhou a bolsa em seu cinto, que ele havia apanhado na caverna.
“O povo de Eppi é simpatizante do movimento de resistência. Eles podem ter informações úteis para nós. Mas o mais importante, há um homem que pode nos dar uma chave para a caverna ao norte.”
“Uma chave? Por que precisaríamos de uma?” Alis perguntou.
“Há uma porta fechando a entrada da caverna. Muitas cavernas palmianas tem a entrada lacrada; O vendedor de doces sempre a deixava aberta, mas os monstros a mantém fechada agora. Esse homem de Eppi fez a chave que abre todos os tipos de fechadura. Ele me deu uma, mas eu a perdi em batalha… Ele deve poder nos dar outra.” Myau parecia nervoso.
“Por isso você pegou a bússola, não é?” ele disse e Odin concordou, enquanto retirava um pequeno objeto da bolsa.
“Por quê precisamos da bússola?” Alis estava obviamente perdida na conversa entre os dois guerreiros. Myau explicou.
“Eppi fica no meio da floresta de Eppi, a leste…” Myau apontou rumo a uma densa concentração de árvores, não muito longe de onde eles estavam. “Não é possível atravessar a floresta sem uma bússola. Ela é muito perigosa… algumas das feras mais poderosas residem ali.” Pelo seu tom solene, Alis aceitou suas palavras com muita seriedade.
“Sim, com certeza,” acrescentou Odin, “não devemos subestimar a floresta. Se não precisássemos da chave, seria melhor que evitássemos a floresta. Mas não podemos.” Olhando diretamente para Alis, ele prosseguiu. “Existem enormes seres semelhantes a morcegos. Eles atacam em grupo, e com sua inteligência relativamente alta, são extremamente letais. Se você duvida de suas habilidades de combate, não deve nos acompanhar. Myau e eu podemos ir sozinhos, já que temos experiência em lidar com eles.” Percebendo que a preocupação de Odin não era um insulto, mas um sentimento sincero, ela respondeu com gentileza.
“Eu sabia desde o princípio que esse seria um caminho perigoso. A morte de meu irmão me ensinou isso. Mas não posso pedir a você que faça algo que eu não faria. Irei com vocês, para onde quer que seja.”
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Apesar do sol estar brilhando com força no céu, a floresta estava em quase completa escuridão. Alis usou sua segunda lanterna enquanto o trio marchava lentamente rumo à cidade. Odin foi na frente, usando a bússola como guia. Alis o seguia logo atrás, e Myau vinha por último.
As árvores eram imensas, algumas com mais de três metros de largura, e com poucos metros separando-as umas das outras. Havia pouco espaço para lutar, um ponto crucial que Alis não deixou de notar. Não havia som algum aqui; o vento que soprava no condado palmiano parecia não chegar à essa floresta. O grupo caminhava em um ritmo lento, sempre olhando em volta, em busca de inimigos.
Eles viajaram por mais de vinte minutos até que alguém dissesse algo. Mas, de repente, Odin parou e virou-se para Myau. Com sua mão, ele apontou para a esquerda, e para a área logo atrás deles. Myau compreendeu imediatamente, e explicou para Alis em segredo. “Tem três morcegos nos cercando…” Olhando em volta, Alis se esforcou para encontrá-los, mas não conseguiu.
“Onde? Não consigo vê-los,” ela disse. Myau ergueu sua pata na direção em que Odin havia apontado. Olhando com atenção, ela comecou a reconhecê-los. A alguns metros de distância, parcialmente ocultos pelas arvores, ela viu duas criaturas imensas. Seus corpos pareciam os de palmianos, mas possuíam características de morcegos. Finas asas pendiam de seus braços. Dotados de uma coloração azul escura e de um marrom forte, eles podiam se esconder com facilidade nas árvores. Uma das criaturas comecava a se mover na outra direção que Odin apontara. Alis olhou naquela direção, e viu outra criatura similar. Eles estavam obviamente se posicionando para atacar, em silêncio.
Sem saber o que fazer, Alis apenas as observava, enquanto continuavam a se espalhar. Ela agarrou sua espada com força, e viu Odin erguer seu machado de batalha. Logo, o trio de heróis parou, cada um encarando um monstro, com suas costas voltadas uns para os outros. Os seres se posicionaram em torno deles numa formação triangular.
“Estamos cercados,” Alis sussurrou.
“Estamos com problemas,” Myau acrescentou.
“São três,de nós contra três deles. Eles é que estão com problemas.” As palavras de Odin refletiam sua confiança. Qualquer hesitação que ele tivesse ao se apreparar para a batalha, sumiu quando a hora de lutar chegou. Ele era realmente decidido quando precisava agir. Essa confiança ajudou seus amigos, que se inspiravam nele para obter força. “Eles vão nos atacar ao mesmo tempo, para nos confundir. Concentrem-se apenas no morcego que lhes atacar, ou a tática deles terá sucesso.” Alis e Myau aceitaram seu conselho.
Então eles ouviram: foi um chiado ensurdecedor vindo de todas as direções. Por causa do barulho, Alis ficou temporariamente desorientada enquanto via a criatura a sua frente saltar sobre ela, com as garras estendidas. Assim que o morcego a atingiu, ela ergueu sua espada e arrancou sua asa direita. Sem descanso, o monstro investiu novamente contra Alis, saltando de costas, e lançando suas garras na direção do rosto de Alis, errando por milímetros.
Recuperando-se, Alis estava preparada agora, quando o morcego lançou outro grito agudo e voltou-se para ela. Ela chegou para o lado, e afundou a espada na lateral da criatura que passou por ela; Alis foi derrubada por sua asa, e o morcego foi ao chão. Ele gemia de dor, com a espada ainda presa a seu corpo. Alis correu até ela, esquivou-se das garras que ainda tentavam atingí-la e retirou a espada para em seguida golpear a criatura violentamente, próximo a área onde Alis acreditava estar seu coração. Logo ela parou de se mexer, morrendo diante dela. Ela retirou a espada, virando-se imediatamente para ver como estavam seus amigos.
Ela viu Myau rasgar o abdomen de seu adversário e fazer seus fluidos vazarem pela floresta. Ele foi ao chão, morto no mesmo instante devido ao ferimento. Odin permaneceu imóvel a poucos metros de distância. Ele segurava seu machado ensanguentado em uma das mãos, e Alis notou que ele havia arrancado a cabeça da criatura. Ela virou o rosto rápido, perturbada com o que viu.
“Você foi bem,” Odin disse a ela, que sentiu a mão dele em seu ombro. Ela olhou-o sem conseguir responder. Myau se uniu a eles. “Eppi não fica muito longe. Devemos prosseguir.” Myau concordou, e o grupo seguiu novamente, e Alis lançou um último olhar sobre o monstro bizarro que havia acabado de matar.
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Eppi era uma cidade pequena, ao contrário das grandiosas Camineet e Parolit que Alis já conhecia. Aqui, haviam poucas casas e algumas outras construções. Uma igreja e um hospital ficavam na área norte da cidade'o grupo passou por esses locais enquanto Odin os levava a uma certa casa próxima ao centro da cidade. Ao chegarem, Odin bateu na porta, que se abriu rapidamente.
“Odin, você está vivo!” Um senhor de idade disse enquanto apertava a mão de Odin com empolgação.
Sim, velho amigo, esse mundo ainda não deu conta de mim…“ disse Odin.
“Ah, e Myau” o homem prosseguiu, “vejo que também não o perdemos! E quem é essa bela jovem que viaja com vocês?”
“Vamos entrar, Hegger, e eu explicarei tudo,” respondeu Odin.
“Claro, claro, entrem!” O trio entrou na casa do ancião. Estava esparsamente decorada, e consistia de quatro quartos, haviam cadeiras suficientes para todos sentarem. Odin começou.
“Apesar de nossas intenções, não conseguimos derrotar Medusa e pegar seu machado místico.” Alis se interessou à menção de tal arma; ela não tinha ouvido nada sobre isso antes. “Eu infelizmente fui vítima de seu olhar, e fui transformado em pedra. Mas essa jovem procurou por Myau, conseguiu libertá-lo e eles vieram me salvar. Acabamos de sair da caverna da Medusa, e viemos falar com você.” Odin fez um sinal para Alis com a cabeça, e ela se apresentou.
“Sou Alis Landale de Camineet. Eu procurava por Odin para ser meu aliado em minha batalha contra Lassic…” O homem se esticou em sua cadeira, reconhecendo a importância de quem ela era e de seu propósito.
“Então você é irmã de Nero Landale? Aqui em Eppi nós ajudamos a resistência inúmeras vezes, mas perdemos contato com eles recentemente. Como vão as coisas?” Percebendo que o homem ainda não sabia sobre a morte de Nero, Alis prosseguiu.
“Nero está morto, assassinado pelos Robotcops. A resistência de Camineet acabou.”
“Morto? Eu… eu…” Sentindo sua preocupação, Alis acenou com a cabeça fazendo entender suas condolências. Hegger se recompôs, e falou novamente. “Você está procurando pela chave do calabouço?”
“Sim. Você sabe mesmo das coisas, meu amigo,” Odin disse discretamente.
“Eu a escondi no armazém nos arredores de Camineet. Eu a escondi lá a um tempo atrás, quando ainda podíamos sair da cidade sem ter que encarar a morte. Vocês podem pegá-la, meus amigos.” Alis deu um sorriso. “Mas vocês não devem partir agora. Já está quase de noite, e vocês não deviam viajar no escuro. Vocês podem descansar aqui essa noite, são meus convidados. Vamos lhes dar comida e bebida para levarem amanhã.”
“Obrigado, Hegger. Sua ajuda, como sempre foi muito valiosa.” Odin levantou-se da cadeira, e Hegger os levou para fora. Eles foram até o hospital, e Alis percebeu que era ali que passariam a noite.