O sacrifício de um inocente

Autor: Túlio Gonçalves

― A gente se vê amanhã então! ― Ok Hahn! Amanhã cedinho nos veremos! Seth retornava à sua casa, após mais um dia de aula em Krup.

Aluno exemplar, sempre em dia com seus compromissos, Seth era um dos orgulhos de Hahn que estava lecionando em um estágio junto com sua namorada em Krup.

Seth era o tipo de pessoa que fazia amigos facilmente, sempre gentil e prestativo, filho de uma família tradicional em Motávia. Ele estava estudando para ser um arqueólogo. Sempre foi uma pessoa interessada nas lendas da civilização antiga, do povo de Palma, da famosa heroína e as histórias do cérebro―mãe.

Foi em Termi que Seth conheceu Hahn. De frente à estátua da heroína Alis e sua parceira Myau.

― Ah Alis… se eu ao menos pudesse falar com você por cinco minutos… eu tinha tanto a te perguntar…

Neste momento, uma pessoa surgiu à sua direita…

― Alis… Alis… tanta coisa em comum com uma grande amiga minha…

― Falou comigo?

― Oh me desculpe… é que eu estava me lembrando de uma grande amiga minha, Alys Brangwin… além do nome parecido as duas tinham muito em comum… deixa pra lá…

Seth, que sempre foi um grande fã de Alis se interessou…

― Coisas em comum… puxa como eu gostaria de conhecer essa sua amiga Alys, senhor… senhor… er…

― Meu nome é Hahn!

― Oh muito prazer Sr. Hahn! Eu sou Seth!

― O prazer é meu, Seth! Não me chame de senhor que eu fico com vergonha. Acho que devo ser mais novo que você até… mas de qualquer forma… não será mais possível você conhecer a Alys!

― Oh… mas por que?

― Alys morreu em uma batalha algumas semanas atrás… Vítima do mal de Zio!

― Puxa… que situação… me desculpe, Hahn… espero que Alys repouse em paz agora!

― Eu também, Seth! Mas você não é daqui, certo? O que faz em Termi?

― Bem… eu estou querendo estudar arqueologia… sempre fui fanático pela história de Algol… quero poder descobrir mais, explorar os lugares lendários e, quem sabe, resolver tantos mistérios que a nossa sociedade não compreende…

― Seth… você devia estudar na academia de Piata. Eu estou terminando meu curso lá e as inscrições para a seleção das próximas turmas já estão abertas!

― Puxa! Isso é o máximo!

― Bem, eu estou dando aulas para alguns alunos que vão tentar a seleção em Piata, se você se interessar me procure amanhã pela manhã na escola em Krup!

― Certamente eu irei, Hahn! Foi um prazer conhecer você!

Desde então, Seth dedicou―se várias semanas a aprender o tanto quanto pudesse, pois queria muito fazer aquele curso na academia de Piata.

Mais um dia se passou e Seth estava saindo da escola, junto com ele, seu colega Catin. Ambos despediram―se de Hahn e caminhavam em direção a seus alojamentos. Catin então se dirigiu a Seth:

― Seth… quero te contar uma coisa…

― Pois não Catin, você sabe que sempre pode contar comigo, companheiro!

― Sabe… ontem eu estava caminhando e acabei chegando aos destroços de Molcum… Lá, eu vi uma peça brilhante no chão e fui ver o que era… encontrei um Cristal Mágico!

― Crr… crr… Crissssstal Mágico? Será que tem alguma ligação com o famoso Cristal usado na batalha contra o Tirano Lassic a três mil anos atrás? Aquele cristal que criava um campo de força que neutralizava o poder letal dos raios de Lassic?

― Não sei, companheiro… mas ele emite luz mesmo no escuro… acho que você deveria dar uma olhada nele!

― Claro! Será que podemos vê―lo agora?

― Sim Seth! Vamos agora!

Os dois se dirigiram ao alojamento de Catin, onde de dentro de uma caixa, e envolvido em um pano bem macio ele tirou um Cristal maravilhoso, que emitia uma luz azulada e suave. Era uma luz bem fraca, azul marinho, quase roxo… Seth, admirado, pegou o Cristal ainda com o pano.

― É incrível. Isso parece ser mais resistente que diamante! Veja, não tem nenhum arranhão! Nada, está extremamente liso, como se tivesse saído de uma joalheria agora!

― Exatamente, Seth. Por isso mesmo eu tomei o cuidado até de pegá―lo com este pano como você está vendo. Estava com medo também de que estivesse quente mas fiquei surpreso com o tanto que este cristal é frio.

― Frio? – Perguntou Seth – eu não havia prestado atenção nisso!

Seth tocou levemente uma das faces do Cristal com as costas de seus dedos. Repentinamente ele começou a sentir frio por todo o corpo. A luz do Cristal parecia envolver todo o ambiente ofuscando sua visão. Seth não conseguia mais ver Catin. Para todos os lados ele olhava e não conseguia ver nada. Parecia até que o chão havia sumido mas ele estava de pé…

Um sussurro ecoava de alguma direção. Seth não conseguia entender, parecia uma língua estrangeira, ou quem sabe até de outro planeta. Enquanto Seth tentava decifrar aquele mistério, a voz ficava mais alta e mais alta… era uma voz grave que reverberava em todas as direções. Parecia que ele estava dentro da própria voz. De repente ele ouviu as palavras nitidamente:

― S O L D I E R… T E M P L E…

Seth não entendia, e a voz começou a ficar mais fina e mais baixa…

― S E T H… S E T H… S e t h… Seth! Seth!

― Fale comigo por favor! Seth! Seth! Seth! – gritava Catin, que estava à sua frente, já com os olhos vermelhos de desespero.

― Catin! O que houve? O que foi aquilo? Que voz foi aquela?

― De que você está falando Seth? Quando você tocou o Cristal ele piscou de uma vez e se apagou, depois você ficou imóvel com os olhos arregalados. Pensei que tivesse ficado cego pois eu me movi na sua frente e você nem reagiu. Mas cego e surdo já era demais… eu estava desesperado. Quase que eu saí pela rua a gritar por ajuda!

Seth então relatou tudo que acontecera a seu colega que ouviu atentamente.

― Será que você ficou em transe ou alguma coisa? O que há neste Cristal Mag…

Um silêncio sepulcral tomou conta da sala. O Cristal havia se tornado uma rocha comum, nada mais do que um pedaço de pedra.

Naquela noite Seth foi tomado por pesadelos e mal conseguiu dormir. As palavras Soldier Temple se repetiam na sua mente. Seus pesadelos sempre mostravam uma figura aterrorizante, muito maior que um monstro ou uma besta. Parecia um demônio algo muito além da compreensão de um humano como ele.

Pela manhã Seth conversou com Hahn, que contou a ele sobre o Soldier Temple:

― Esta ruína de um templo antigo fica bem próxima aqui de Krup. Dizem que existe um tesouro sagrado selado dentro da ruína. Ninguém viaja até lá, pois temem os monstros que estão tomando o mar.

― Então chegou a hora de saber se eu realmente serei arqueólogo ou não. Algo dentro de mim me diz que o meu destino é descobrir este artefato sagrado e protegê―lo. Eu vou até lá hoje!

― Seth não faça isso. Ninguém nunca…

Antes que Hahn terminasse de falar, Seth já estava deixando o local. Parecia obcecado por aquilo. Hahn decidiu acompanhá―lo. E foi até sua casa pegar suas armas de combate. Quando saiu, viu que algumas pessoas se concentravam na saída da cidade, próximos ao litoral.

― Ele é louco – Diziam – Ninguém nunca voltou de lá… mais uma vítima dos monstros dos mares…

Hahn olhou adiante e viu que Seth já estava a caminho.

― Ele tomou o único barco que havia na cidade, pagou cinco mil mesetas para o seu dono e partiu. – Disse Catin, que olhava desesperado.

No meio do caminho, Seth olhava apavorado para os monstros se movimentando por dentro do mar translúcido. Já havia se arrependido a esta altura, mas as palavras ainda ecoavam em sua mente. Não havia mais volta. Curiosamente nenhum monstro sequer balançou o barco. Alguns até chegavam a sair e olhar mas retornavam à água passivamente.

Em poucas horas o barco atracou na praia das ruínas do templo. Seth olhou para o alto e viu a ponta do que um dia fora um telhado. Ainda havia um longo caminho a subir, até o topo da montanha onde o templo se encontrava.

Ao pé da montanha havia uma caverna, que aparentemente era uma passagem para lá. A caverna era escura e úmida… à medida que se subia ia ficando mais fria e escura. Vários monstros infestavam a caverna, mas estes não ignoravam Seth, e o atacavam ferozmente. Seth estava ficando muito cansado e cada vez mais apareciam monstros de todas as formas. De repente, Seth ouviu vozes de pessoas se aproximando.

Eram quatro pessoas, um rapaz loiro, uma garota com orelhas pontudas, um andróide e um homem que vestia um manto branco. Eles estavam muito bem armados, e pareciam apressados. Derrotavam os monstros com facilidade comparados a Seth que levava quase vinte minutos com cada um.

Um conforto e um calafrio o bateram ao mesmo tempo. Ele se sentia feliz por ver estas pessoas se aproximarem, com certeza poderiam ajudá―lo pois estava muito ferido e cansado, porém, ele não sabia quem eram eles e nem o que eles poderiam fazer quando o vissem.

Apesar disso, eles transmitiam uma sensação de que eram pessoas em que Seth podia confiar. Assim, Seth não se escondeu, ele aguardou que eles se aproximassem e o vissem:

― Ufa, ainda bem que vocês apareceram por aqui. Os monstros dessa caverna são muito mais fortes que eu imaginava, e eles estão me dando uma surra…

― Quem é você? – o rapaz loiro perguntou dirigindo―se a Seth.

― Meu nome é Seth! Eu sou um estudante e pretendo cursar Arqueologia! Por isso estou aqui tentando alcançar as ruínas…

― Entendo! Meu nome é Chaz, esta é Rika, o andróide é o Wren e ele é Rune! Também estamos indo para as ruínas!

― Chaz, podemos seguir com Seth, se ele está indo para o templo também, podemos ir juntos!

― Mas Rika, nós nem…

― Oh! Muito obrigado a todos vocês!

― Bem… seja bem vindo!

Os cinco então, seguiram subindo pelas passagens da caverna, derrotando todos os monstros que apareciam pela frente:

― Puxa! Estou impressionado com o tanto que vocês são fortes! Vocês derrotam estes monstros como se não fizessem esforço algum!

― Isso é o resultado de muitos anos de treinamento – disse Chaz – estudo de técnicas de combate e principalmente experiência!

― Tsc, tsc, tsc… – Rune balançou a cabeça.

Logo então eles avistaram a saída da caverna. Todos se alegraram, pois as ruínas do templo estavam logo a frente. Seth sentia que o que ele procurava estava próximo. E de fato estava. Entrando nas ruínas eles avistaram um baú bem ornamentado, com inscrições na língua antiga de Palma.

― É isso! Encontramos! – Disse Chaz – Este é o Aeroprisma, com ele encontraremos a resposta para o que é Rykros!

Chaz tomou o Prisma em suas mãos e o grupo se apressou para sair. Seth sentia algo estranho acontecer… seu corpo parecia adormecer, a visão embaçava e voltava. A mesma voz que ele ouviu quando tocou o Cristal começou a ecoar em sua mente e dessa vez ela estava mais alta e intensa.

Ao saírem do templo, o Prisma começou a emitir uma luz muito brilhante e um raio branco saiu dele em direção ao Céu. Enquanto todos admiravam o espetáculo, Seth sentiu seu corpo estremecer, a voz na sua cabeça estava ensurdecedora, neste momento ele gritou. Pela última vez, a consciência de Seth controlou seu corpo. Um grito de dor daquele que sentiu que seu corpo e sua mente haviam sido dominados por uma força sobrenatural… seu último grito:

― AIEEEEEEEEEEEEEEEE!

Todos olharam espantados quando viram Seth tampando o rosto com suas mãos. Seu corpo começou a inchar até explodir revelando dentro dele uma criatura que eles já haviam encontrado duas vezes… Dark Force.

A batalha seguiu logo adiante, e Dark Force foi derrotado novamente. Wren armazenou a direção do raio de luz e o grupo seguiu sua jornada em direção ao mistério de Rikros. No alto da montanha, a natureza cuidou de consumir o que sobrou de Seth, uma pessoa que assim como muitos foi sacrificado pela crueldade de Dark Force.

Essa história foi escrita por Túlio Gonçalves, membro do site http://www.segamania.gamehall.com.br.