Autora: Neilast
Tradutor: Bruno Cubiaco
“Como assim?” Azur perguntou, sorrindo. “Minha irmã, pensando em tirar férias?”
“É, mais ou menos.” Falou Erol. “Eu não dirias férias, no sentido exato da palavra, por assim dizer. Ela disse que quer ir para Zelan.”
Azur colocou na mesa os gráficos que estava estudando e encarou Erol diretamente nos olhos. “Zelan. Para quê, que mal lhe pergunte?”
Erol engoliu seco. Azur normalmente é calma e despreocupada, mas ao mencionar Dahl e Zelan, juntos na mesma frase, ela ficou bem mais séria do que Erol estava acostumado a vê-la. Ele nunca a havia visto assim desdo o problema com o Filho.
“Eu não sei exatamente.” Erol disse, se sentando na cadeira ao lado da mesa de Azur, ficando de frente para a numana de cabelos azuis. “Ela disse algo sobre 'descobrir quem ela realmente é' ou alguma coisa do tipo.”
Azur colocou o rosto entre as mãos e balançou a cabeça. “Perfeito. Lá vamos nós de novo.”
“O que foi?” Erol perguntou.
“É, eu imaginava que você não soubesse. Você não a conhece a tempo suficiente. Mas a cada dois anos, mais ou menos, ela enfia na cabeça a idéia de descobir sobre si mesma, questiona a moralidade dos estudos genéticos, e no fim, toda a situação termina com uma grande briga com Wren. Ah, isso se ela for conversar com ele. Depois disso, Dahl se recusa a falar com Wren por um ou dois anos.”
Erol recostou na cadeira e fechou os olhos. “Tudo o que a gente precisava. Ela já fez isso antes, então?”
“Sim, mas ela nunca vai muito longe. Ou Wren fica dispensando ela, ou ela perde a paciência e acaba fazendo tudo sozinha. Aí ela acaba deixando o assunto de lado por um tempo, se enterrando no trabalho. Até que algo desperta novamente o sentimento nela. Depois que ela fez as pazes com Wren, na época em que Mium veio pra cá, eu pensei que esse drama ia terminar. Aparentemente, eu estava errada.”
“Aparentemente.”
“Eu imagino que você vai tomar conta de tudo por aqui, enquanto ela estiver fora.” Azur disse, pegando os papéis novamente.
“Na verdade Azur, eu vou com ela.”
“Tá bom. Então quem, exatamente, vai cuidar das coisas enquanto vocês dois estiverem fora?”
Erol sorriu.
“Ah, não! Sem chance!” Azur disse, tácita. “Eu estou tão cansando quanto vocês dois! Mium e eu íamos dar um pulo em Dezo!”
“Hmm… vocês vão fazer um tour pelos templos?” Erol perguntou. “Ou vão fazer Lodge Hopping 1).”
Azur sacudiu a cabeça. “Não. Mium nunca conheceu muito bem Dezo. Ela só quer ver o lugar melhor. Talvez a gente visite Jut, passeie um pouco pelas cidades maiores, saia um pouco a noite.” Azur sorriu. “Nesses casos, eu vou estar tão perdida quanto a Mium. Mas tudo isso vai por água abaixo se Dahl–”
“Para com isso, você sabe muito bem que Dahl nunca negaria à sua única irmã gêmea idêntica as férias que ela tanto esperava.” Erol disse, se aproximando e pegando na mão de Azur. “Ela está muito preocupada com você e, francamente, eu também. Você não tem sido você mesma nas últimas semanas, bem animada e ativa.”
Azur riu e corou. “O stress afeta todo mundo aqui, Erol, não só você e Dahl.”
“Pode ter certeza disso, digo por mim mesmo. Então você e Mium, vão e façam os seus planos e aproveitem bem em Dezo, ok? Fala sério, eu queria descansar assim igual a vocês, estou com inveja.”
“Bem, não fique. Como eu disse, a gente não vai fazer nada como esquiar ou–”
“Esquiar?” Perguntou uma voz nova na sala. “Uau, eu nunca esquiei antes!” Erol e Azur olharam para a porta do escritório e a viram entreaberta, com a cabeça de cabelos vermelhos se colocando pra dentro. “Quando a gente parte?”
“Viu o que você fez, Erol?!” Azur protestou. “Desculpa Mium, mas não vamos esquiar. E ponto final!”
“Ah, tá brincando!” Mium disse, entrando no escritório. Ela parou ao lado da mesa de Azur e deixou uma prancheta em cima dela. “Você mesmo fica dizendo que fico muito tempo enfurnada aqui.”
“É, três mil anos realmente é tempo demais.” Erol disse, rindo.
“Então por que não sair e experimentar coisas novas?” Mium perguntou. Ela não ia desistir tão facilmente. “Eu não sei quanto a você, mas eu estou morrendo de vontade de viver alguma aventura.”
Azur sorriu e balançou a cabeça. “Eu não sei quanto a você, mas o desligamente do Filho e a migração para a rede de dados da Filha gerou 'aventura' suficiente para uma vida inteira! Vocês, androides de combate… pessoalmente, eu preferiria ficar em um chalézinho confortável nas montanhas, perto de uma lareira, tomando algo quente e esquecer de tudo–” Ela bateu nos papéis em cima da mesa, amargamente. “–isso!”
“Mas isso é perfeito!” Mium disse. “Um chalé nas montanhas, em um planeta coberto de neve…”
Azur rolou os olhos e riu. “Tá bem, o que seja. Mas já estou te dizendo que não vamos ficar as férias inteiras lá.”
“Que tal uma semana?”
“Fechado.”
“Fechado! Ah, Azur! Isso é tão legal! Obrigada, Erol!” E com isso, a androide feliz saiu da sala, sonhando com a aventura que o planeta desconhecido reservava para ela.
“Bom, pelo menos alguém está feliz.” Azur falou, colocando seus papéis em uma pasta com nojo e os pondo em uma gaveta. “Agora, com relação ao resto de nós…”
“Sim…” Erol disse, se levantando. “Te desejo sorte. Agora eu, vou encontrar com Dahl depois do almoço, e por falar nisso, estou atrasado.”
“Espera!” Azur o chamou. “Quem vai assumir as coisas enquanto estivermos fora?”
“Não se preocupe.” Erol disse. “Tenho certeza de que Dahl vai pensar em alguma coisa!”
Quando ele saiu, Azur se soltou em sua cadeira e colocou a cabeça cansada na mesa de trabalho. “A Dahl vai pensar em alguma coisa? Eu acho que realmente existe uma primeira vez pra tudo.”*
***
A construção do novo corpo metálico de Dark Force estava parcialmente terminada quando Betty desligou o braço robótico de construção. O robô estava exausto. Ela se afastou alguns passos do braço e permaneceu quieta.
Dark Force se levantou apoiando em suas mãos e encarou Betty. Ele abriu um sorriu zombeteiro, sem dentes. Seu olho mecânico brilhava de uma forma ameaçadora. O centro do olho quase cegava de tão clara era a luz. “O que estás fazendo?” Ele perguntou.
“Não há meios de prosseguir.” Betty disse, cansada. “Não possuo o conhecimento necessário para tão longa labuta.”
Dark Force bateu na mesa em que estava com seu punho de metal, amassando-a e rachando-a severamente. “Então, quem pode?” Ele exigiu. “Tu não podes me deixar assim, com esses… fios pendendo fora de mim!” Dark Force apontou para o meio de seu corpo. Lá, uma bagunça de eletrodos, fios e placas soltas de metal.
Betty continou silenciosa.
“Em todo Algol, certamente existe alguém com a sabedoria necessária para terminar-me!” Dark Force continuou. “Robô, se tu não me obedeceres neste momento, destruirei essa patética estação, junto com você e seu imundo mestre Dezoriano!”
A ameaça a Tirotul fez com que Betty ficasse mais flexível em concordar. “Muito bem. Existe… existe um que pode consertar qualquer coisa, um que pode… criar qualquer coisa.”
“Tu o chamarás aqui.”
“Eu o chamarei aqui.”
“E sejas rápida. Eu anseio por poder me mover livremente mais uma vez. Não tens idéia do que é ser tão limitado!”
“Ah, tenho sim,” Betty sussurrou enquanto Dark Force, ainda irritado, se deitava novamente na mesa danificada. Sileciosamente e internamente Betty se logava na rede de dados da Filha e mandava uma simples requisição. “Conecte-me ao Wren. E sim, é uma emergência.”
* * *
Bip, bip, bip. O som chegava os ouvidos de Wren.
“O que é?” Wren perguntou, tirando os olhos do trabalho espalhado em sua mesa. “Eu disse que não queria ser interrompido”. Enquantao falava, ele continuava trabalhando avidamente em cima dos diagramas e modelos da nova nave que estava projetando. A mesa de trabalho em si era iluminada internamente, mas o resto da sala estava completamente escuro.
“Eu sinto muitíssimo, Mestre Wren.” A voz de Warren respondeu. A impressão era que Warren estava ali mesmo, na sala, pois os intercomunicadores estavam escondidos pela escuridão. “Aquele que mandou a mensagem, um robô de pesquisa em Dezoris, disse que era uma emergência e que necessitava da sua atenção pessoalmente.”
Wren parou. “Você conseguiu verificar o nome e a localização do robô? Eu não gostaria de parar minha pesquisa por causa de um 'trote'.”
“Eu a verifiquei.” Warren disse. “O robô em questão é um modelo Whistle, designado ao Dr. Tirotul Urbanich. O Dr. Urbanich é um geólogo e zoólogo atualmente conduzindo uma pesquisa na geleira norte, em Dezo. De acordo com Filha, sua última comunicação a rede de dados, um aviso de descoberta de uma nova espécie, foi interrompida bruscamente. O estado do Dr. Urbanich é desconhecido. Aparentemente, Mestre Wren, a ligação é legítima. ”
“O robô deu alguma indicação da natureza da emergência?”
“Não, Mestre Wren. Ele não deu.”
“Muito bem,” Wren disse com resignação, colocando as ferramentas de volta na mesa e dando uma última olhada no trabalho. “Envie as coordenadas ao computador da Landale VII. Irei a Dezo imediatamente.”
* * *
“Está feito,” Betty disse. “Eu contatei aquele que é conhecido como Wren.”
“E ele… ele é o mais grandioso conhecedor em toda a Algol?”
“Sim. Mestre Wren é um antigo androide. Ele foi criado no fim de uma civilização similar à atual, e que desapareceu três mil anos atrás. Nos últimos dois mil anos, Wren tem feito o que pode para melhorar a vida de todos os algolianos.”
O olho de Dark Force brilhou. “Ah, é verdade?” A criatura sorriu. “Será perfeito. Muito perfeito.”
Se Betty tivesse sangue, ele teria congelado naquele momento. No canal privado dos robôs ela disse, “Precisamos fazer alguma coisa, imediatamente.”
“O que você tem em mente, Betty?” Baltazar perguntou.
“Eu não sei. Eu tenho medo do que Dark Force pode fazer com Wren. Vendo que Wren tem todos os recursos de Algol à sua disposição, o desdobrar da situação é um convite ao desastre.”
“Mas Wren é tão poderoso. Eu não consigo imaginar nada que possa machucá-lo, nem mesmo essa terrível criatura.”
“Talvez. Talvez você esteja certo. Eu certamente espero que sim.”
O original em inglês desse texto pode ser encontrado em http://users.skynet.be/fa258499/beyondalgo/story/cr/cr4.html