A GAZETA DE ALGOL

"O morto do necrotério Guaron ressuscitou! Que medo!"

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Capítulo 5

Por James Maxlow e Mike Ripplinger
Traduzido por Orakio Rob

Arrasada, e sangrando em profusão, Alis arrastou-se até a porta de Suelo. Quando a alcançou, sentiu uma súbita perda de percepção tomar conta dela. Ela caiu ao chão, perdida em sua inconsciência.

Ela estava em outro mundo, em outra época. Nero corria a seu lado, gargalhando. Ela via as casas passando por ela; ela estava correndo, mas suas pernas pareciam não se mover. Era como se ela flutuasse pela rua. Ela começou a perder terreno para Nero, que olhava por sobre o ombro, gritando algo que parecia fazê-lo gargalhar ainda mais. Mas não havia som. Seus lábios se moviam, mas só havia silêncio. Ele foi se afastando cada vez mais dela, e ela tentava alcançá-lo. Logo, ele já estava além do distante horizonte, fora de vista. Ela estava sozinha, e seu mundo havia parado de se mover. As árvores e as casas e ruas desapareceram. Ela flutuava no vazio. Ela sentiu uma súbita perda de percepção tomar conta dela.

“Alis?” A voz ecoou em sua cabeça. Aos poucos, sua vista foi retornando. Formas borradas começaram a se cristalizar, a se definir. Ela estava deitada, Suelo estava sentada próxima a ela. Havia algo fresco pressionando sua testa.

“Suelo,” Alis disse quase sem forças, “…Suelo, eu estou… na sua casa…” Enquanto falava, Alis tomou consciência da dor em sua cabeça.

“Sim, você está. Eu a enconrei em frente à minha porta. Você estava muito machucada. Você *está* muito machucada. Foram os monstros?” Suelo removeu o pano da testa de Alis, e mergulhou-o em uma bacia de água em uma mesinha próxima à cama onde Alis repousava. Ela encharcou o pano, e o pôs novamente sobre a testa de Alis.

“Sim, eu estava voltando de Scion… por muito tempo, tudo esteve bem, não havia mais nada além de campos vazios…” Alis tentou erguer-se da cama, mas ao notar a expressão de dor em seu rosto, Suelo a fez deitar novamente. “De repente, havia um enxame de criaturas voadoras… Elas me atacavam por todos os lados… fiz o possível para lutar contra elas, mas haviam tantas. De alguma forma, consegui escapar. Não me lembro como… Sei que matei algumas delas, mas as outras, eu não me lembro…” Alis tentou se levantar, e, apesar dos esforços de Suelo para a impedir, ela conseguiu sentar-se na cama. Ela levou a mão à cabeça dolorida, e fechou os olhos para lutar com a dor.

“Alis, você precisa deitar e descansar. Você perdeu muito sangue. Não teve tempo de se recuperar. Por favor, deite.”

“Não, eu tenho que encontrá-lo, tenho que encontrar o gato… e encontrar Odin…” Lutando contra a dor, Alis se levantou e começou a se afastar da cama.

“Alis!”

Reunindo toda a sua concentração, Alis começou a realizar a magia de cura que havia aprendido. Sua mente se focou em si mesma, ignorando os apelos de seu corpo. Ela batalhou, já que seu estado de desorientação tornava sua concentração mais difícil. Mas estava funcionando. Ela podia sentir suas forças retornarem. Suas dores diminuíam, seus sentidos se aguçavam. As nuvens da inconsciência estão se afastando.

Completando o ritual, ela se virou para encarar Suelo.

“Alis, o que acabou de acontecer? Eu senti… algo, algo estranho,” Suelo disse confusa.

“Foi uma magia de cura. Ajuda na minha recuperação de ferimentos. Mas não foi um sucesso completo; ainda estou com dor de cabeça. Mas já estou bem melhor.” Alis viu sua sacola num canto, e foi pegá-la. “Suelo, obrigada por cuidar de mim. Eu certamente teria morrido sem você. Mas tenho que ir agora. Tenho que continuar.”

Enquanto caminhava em direção à porta, Suelo tentou impedí-la. “Mas aonde você está indo? Onde você aprendeu essa magia? Alis, você tem que me dizer o que está acontecendo! Você falou em encontrar um gato, e em encontrar Odin. Alis, o que você vai fazer?”

“Suelo, minha amiga, não posso lhe contar o que eu já vi ou fiz, ou o que irei fazer e ver. Isso a colocaria em perigo. Tenho que manter isso para mim, para proteger você. Tudo o que posso dizer é que estou indo para Motávia. Deseje-me sorte.” Lançando um último olhar sobre sua amiga, Alis passou por ela e saiu da casa. Suelo ficou lá de pé, sozinha e confusa. Ela nunca tinha visto Alis tão obcecada. A morte de Nero realmente a mudou; talvez essa não seja mais a Alis que ela conheceu.

- - -

Ao se aproximar dos guardas da estrada móvel, Alis mostrou a eles o livreto que o dono da loja em Scion havia dado a ela. Ela rezou para que eles aceitassem sem desconfiança; chegar a Motávia era sua melhor chance de encontrar Odin, tinha que dar certo.

Sorrindo, ela mostrou o livreto. “Bom dia, senhores. Estou indo para Motávia, vendendo medicamentos. Aqui está meu passe.” O guarda da esquerda pegou o livreto, e examinou-o com atenção. Ele então ergueu os olhos para Alis. Ela foi ficando nervosa sob o olhar de suspeita do guarda, mas conseguiu manter o sorriso. Após alguns momentos, o guarda devolveu o livro a ela.

“Prossiga,” ele disse com frieza. Surpresa com sua breve resposta, Alis passou pelos dois guardas e subiu a bordo da estrada móvel que a levaria ao espaçoporto de Palma.

A estrada estava sempre em movimento. Bastava subir nela para ser levado à próxima zona. Ao lado da estrada em que Alis seguia, uma outra estrada corria no sentido contrário.. Corrimões se estendiam por ambas, evitando que passageiros caíssem, já que toda a construção erguia-se a quase vinte pés do chão. Abaixo, um campo verde jazia, com suas fronteiras demarcadas apenas pelo imenso muro que separava as três zonas centrais das terras selvagens. A jornada foi bastante pacífica, Alis pensou; o terror e as injustiças do mundo à sua volta não alcançavam essa área resguardada. Foi realmente uma pena a viajem ter durado apenas uns poucos minutos.

Seu objetivo se aproximava. De fora, Alis já podia dizer que essa área não era como Camineet ou Parolit, as duas zonas residenciais locais. Aqui, ela podia ver três grandes torres, obviamente usadas para orientação das aeronaves, e que erguiam-se a grandes alturas. Ao atravessar o portão de entrada, ela pode ver a área por dentro: um asfalto opaco e estéril preenchia a região, que também contava com pequenas casas isoladas. As pessoas, aparentemente trabalhadores do espaçoporto, transitavam entre as casas e as torres. Ela não podia ver a área de lançamento de onde estava, mas ouvia o alto zumbido do motor das espaçonaves.

Dois guardas no portão observaram Alis atentamente enquanto ela descia da estrada móvel. Fingindo não ligar para eles, ela andou alguns metros, procurando um lugar onde pudesse comprar um passaporte. Foi então que ela avistou um prédio com uma placa que dizia “Vôos espaciais,” e seguiu para lá.

O interior da loja era bem simples. Muros cinza com algumas poucas prateleiras rodeavam uma mesa, atrás da qual sentava uma mulher, que ignorava Alis por completo. A mulher estava concentrada no livro que lia, estava alheia ao que a rodeava.

“Com licença, estou procurando um passaporte para que eu possa ir a Motávia…” Alis disse em tom forte, tentando conseguir a atenção da mulher.

“O quê? Ah, sim, claro. Tenho que fazer algumas perguntas.” A mulher se curvou e procurou algo na gaceta. Ela então se virou para Alis, com um pequeno cartão na mão. “Você já fez algo ilegal?” Ela continuou olhando para o cartão, de onde lera a pergunta.

Alis respondeu, “Não, não fiz.”

“Você tem alguma doença?”

“Ah, não, sou muito saudável.”

“muito bem. Passaportes custam 100 mesetas, em dinheiro.”“Finalmente a mulher olhou para Alis.

“Claro. Tome,” Alis disse, e tirou algumas moedas de sua sacola, colocando-as sobre o balcão.

Pegando o dinheiro, a atendente tirou um papel da gaveta, escreveu algumas poucas palavras nele, e entregou-o a Alis. “Ponha o seu endereço aí e assine. Depois, pode ir.”

Alis escreveu algo no papel, e se virou para deixar o local. “Obrigada,” ela disse sobre o ombro, enquanto abria a porta para sair.

“Foi moleza,” ela pensou. Seu ânimo crescia, ainda que ela estivesse quase sem mesetas. Subitamente, um alto falante começou a emitir uma menssagem.

“O vôo 201 para Motávia partirá em cinco minutos.”

Alis encontrou o portão de entrada para a área de decolagem, e correu para ele. Mas foi parada por um funcionário. “Espere, você tem um tíquete?” ele perguntou.

“Não, não tenho,” Alis respondeu, “mas tenho meu passaporte.”

“Você precisa de um tíquete para cada vôo. Eles custam 50 mesetas. Você quer um, ou vai perder esse vôo?” Nem um pouco contente em diminuir ainda mais seus fundos, Alis relutantemente entregou-o o dinheiro.

O homem pegou o dinheiro e deu a ela um pequeno tíquete. “Tome. Mexa-se. A nave partirá em um minuto.”

Alis guardou sua sacola de dinheiro e correu pelo portão rumo à única nave. Ela subiu as escadas, entregou o tíquete a um membro da equipe da nave e apresentou seu passaporte para inspeção. O homem pegou seu tíquete e acenou para que ela passasse, e então ela entrou na espaçonave.

Alis nunca tinha entrado em uma espaçonave antes, e estava desapontada com a sensação. Preenchendo a nave haviam dez fileiras de cinco assentos cada; atrás, o compartimento de carga levava mercadorias dos comerciantes. Não haviam janelas. Uma porta à frente , que presumivelmente levava à cabine do piloto, ficava a uns quarenta pés de distância. Havia uma porta parecida nos fundo da espaçonave.

Alis encontrou um assento vazio, e sentou-se, com sua sacola nas mão. Vários passageiros sentavam nos assentos a frente dela, mas sua fileira estava vazia. Ela ouviu a porta da cabine se fechar e travar, e a cabine começou a pressurizar. Uma voz veio aparentemente da frente da área de passageiros, “Estamos iniciando a decolagem. Por favor segurem qualquer objeto que esteja solto, e certifiquem-se de que seus cintos estão apertados.” Alis encontrou o cinto e o apertou.

O zumbido da espaçonave começou a aumentar, e Alis pôde sentir o chão vibrar. Atrás dela, os motores começaram a rugir, apenas um pouco abafados pelas finas paredes que os separavam da cabine. A nave empinou, e Alis soube que eles haviam deixado o solo e estavam subindo.

Poucos segundos depois, ela ouviu um barulho alto vindo do motor, e sentiu uma força pressioná-la contra o assento. Eles certamente estavam, acelerando bem rápido, e a pressão aumentava. Mas após uns trinta segundos, a pressão quase que instantaneamente desapareceu. A força que ainda pesava sobre ela era mínima, e ela imaginou que eles haviam deixadoa órbita de Palma.

Alis queria muito que houvesse uma janela para que ela pudesse ver o planeta desaparecendo, e ficou momentaneamente deslumbrada pela idéia de viajar para outros planetas. Uma voz informou aos passageiros que já era seguro remover o cinto, e assim fez Alis.

“Se Nero pudesse experimentar isso,” ela pensou. Assim como ela, seu irmão nunca havia deixado o planeta. Ela ficou triste por Nero não ter rido a oportunidade de viver essa emoção. Mas esse pensamento durou apenas um momento, e ela voltou a pensar na tarefa que a aguardava. Apesar de sua recente experiência de quase-morte, ela estava cheia de uma nova esperança. Talvez deixar um planeta tão cheio de maldade, que havia sido a causa da morte de seu irmão, ajudou a diminuir o peso do fardo que carregava. Talvez a idéia de estar indo para um lugar onde a corrupção e a malícia eram aberrações, e não fatos cotidianos, tenha lhe trazido ânimo.

Qualquer que tenha sido a razão, ela estavam sentindo prazer e serenidade pela primeira vez em muito tempo. Quanto tempo duraria? Ela não sabia. Mas agora, ela se sentou, fechou seus olhos, e sonhou com um outro mundo.

fanworks/psultimate/epico/epico_005.txt · Última modificação: 2009/01/16 13:17 por orakio

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