A GAZETA DE ALGOL

"O morto do necrotério Guaron ressuscitou! Que medo!"

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A Semente do Mal

Capítulo 1

Sob a insistente força do frio vento que corria rápido pelas planícies de Motavia, a pequena folha, já débil e seca, sem energias para manter-se presa ao galho que lhe fornecia os últimos suspiros de vida, nada pôde fazer além de deixar-se arrancar. O golpe forte do ar, vencendo as últimas e mornas forças da árvore, levou-a para o alto, girando em círculos rápidos, fazendo com que o par de olhos - negros, pensativos, tristes - que acompanhavam essa última dança daquela pequena folha, se erguesse e, em seguida, se fechasse ao enfrentar a luz ofuscante e o calor do sol. Giros. Mais giros. Subindo e descendo em uma silenciosa valsa de despedida da vida. A grande estrela de Algo iniciava seu percurso, e o céu adquiria muitas cores diferentes, mas era o vermelho que predominava. O dia amanhecia em Motavia, e o céu dava indícios de que seria dia difícil.

Após alguns segundos, perdendo de vista a pequena folha, empurrada para um longínquo esquecimento, aqueles olhos voltaram a procurar os galhos secos da grande árvore que abrigara a melancólica dançarina. Porque continuar presa àqueles ressecados braços já praticamente mortos? Para a folha foi melhor assim. Partir com o sopro da natureza, buscar a união com a terra de onde havia brotado há muitos anos, em um passado quase esquecido. Voltaria a ser parte da força de vida do planeta. Para a folha foi melhor assim. Voltar à terra, e lá tornar-se energia mais uma vez, para, em seguida renascer, quem sabe, em outros galhos, mais jovens, mais fortes, em outras eras, em outros tempos, quem sabe, em um momento onde não precisasse de tanto esforço para manter-se unida ao corpo vivo de si mesma. Não, a folha não desistiu! Não foi uma derrota. Apenas decidiu-se a dar um passo corajoso em busca de um novo momento de sua existência.

Tudo o que nasce, deve um dia morrer. Mas essa idéia não precisa ser triste. Morrer é parte de um ciclo. O ciclo da vida. Morrer significa que se está vivo. Assim como a folha voltaria a ser parte do que fora antes, Motavia também voltaria a ser o planeta de milhares de anos atrás. Mas, enquanto existissem as pessoas, ele não deixaria de ser um planeta vivo. Todos são partes dele e com ele todos permanecerão. Nascendo, morrendo, vivendo. E, para a folha, foi melhor assim. Não podemos desistir. Precisamos dar passos audaciosos em busca de um novo momento. O futuro deve representar esperança e não temor. Era a hora de buscar uma nova fase.

Ainda sem tirar os olhos dos galhos secos e agora completamente nus da árvore que outrora fora a mais frondosa da região, Randy pôde apenas pensar que assim como havia sido um dos primeiros seres vivos a brotar naquele chão, fora ela, também, uma das últimas a entregar-se. Agora, a planície antes coberta de relva verde já não era mais do que um chão escuro e pedregoso. E as árvores mortas, com seus galhos cinzentos, nus, erguendo-se como penitentes ajoelhados sobre o solo árido, apontando as mãos para o céu a implorar a clemência da impiedosa força da natureza em um pedido silencioso que jamais teria resposta, eram o único adorno da grande planície que cercava a cidade de Aiedo.

Por um instante, o jovem fechou os olhos. Há apenas alguns meses, a dançarina amarelada que há pouco dera adeus ao lugar onde nascera teria em sua valsa a companhia de pássaros cantantes, besouros e borboletas coloridas. Entretanto, fizera sua última viagem de forma solitária, tendo apenas o pesaroso olhar de Randy Bragdale como par. Tendo, a folha, sumido no céu azul e agora vazio de vida, restou ao jovem um suspiro saudoso, imaginando quantas vezes aquelas pequenas folhas teriam sido testemunhas das muitas brincadeiras de sua infância, quando corria feliz, caía cansado, deitava-se rindo e dormia tranqüilo sobre o tapete verde e vivo que se estendia naquele mesmo lugar.

Como se acordando de um sonho, Randy abriu os olhos e verificou que todas aquelas boas lembranças nada mais eram do que ecos do passado. O mundo já não era o mesmo. E jamais voltaria a sê-lo. Mas, com esta certeza, o jovem agente sorriu! E por que não? Não fora assim por milhares e milhares de anos? Será que os agrados de uma natureza mais fértil teriam deixado as pessoas fracas? Randy não era um fraco. Deitaria ao chão quem insinuasse tal absurdo…

Há cerca de duzentos anos Motavia vinha morrendo. Mas as últimas décadas mostraram que este processo não só seria mais rápido do que o previsto, como estaria sendo cada vez mais acelerado.


Durante milhares e milhares de anos, em algum longínquo setor do infindo universo, uma grande estrela irradia seus fortes golpes de luz para todos os lados do vazio e imenso negror frio do espaço. Uma grande força, exalando energia para o infinito. Grandes estrelas são sempre detentoras de uma forte gravidade, e atraem inúmeros corpos celestes menores para seu raio de ação, fazendo com que girem para a eternidade ao seu redor, como um senhor que mantém seus súditos lhe fazendo reverências à sua imponência, ou como um pai que fornece o calor da vida para seus filhos pequenos, que não conseguem escapar à sua proteção.

Esta estrela em especial chama-se Algo. E dentre os diversos corpos que ao seu redor dançam existiram por um sem fim de eras um trio especial. O primeiro, mais próximo, e por isso aquele que mais se enche do calor que lhe é fornecido, chama-se Motavia. É um planeta vermelho. Seus vastos desertos são forrados por bancos de areia grossa, que viajam por todos os continentes embalados pelos fortes ventos, tornando suas áridas paisagens um desafio à vida. Mas um desafio vencido. Inúmeros seres habitam estas planícies cortadas por cadeias de montanhas profundos vales rochosos. Mesmo em seus mares de água quente nadam um sem fim de espécies de peixes e outras criaturas de todos os tamanhos. Aqui surgiu a raça dos motavianos. Seres guerreiros, altos, de grande força. Com seus corpos robustos cobertos por uma vasta penugem fina e escura, em seus olhos brilha o vermelho da coragem que os leva a suportar as adversidades de um clima sem piedade. Desenvolveram-se em tribos, e se organizam em uma sociedade agressiva, moldada pelo gosto pela batalha.

No outro extremo, em terceiro, fica o escuro e frio Dezolis. O melancólico e silencioso planeta azul. Longas cadeias de montanhas cobertas de gelo fazem par aos enormes abismos que cercam as poucas áreas de terreno coberto de neve, e grandes tempestades deixam o céu encoberto por grande parte do tempo. Mesmo assim, a grande energia da estrela de Algo permitiu que aqui também surgisse a vida. Seres fortes, e grandes animais sobrevivem aos ataques de uma natureza cruel. A inteligência que aqui se desenvolveu buscou outros caminhos, distintos dos motavianos. Os seres pensantes do frio Dezolis são mais dados às artes místicas, sendo os maiores conhecedores dos segredos do tempo. Através da concentração de energias, estudos e harmonia com as forças que criam a existência do cosmos, desenvolveram as técnicas que por muito tempo levaram o nome de magia. São seres de inteligência altamente desenvolvida, sem, entretanto, buscarem a grande evolução de sua tecnologia. São seres sisudos, mas, nem por isso, cruéis. Verde é sua pele coberta por miríades de minúsculas escamas, dando a impressão de um tecido liso, mas sua resistência não deve ser menosprezada. Seus olhos pequenos e negros são o que costumam mostrar, pois graças ao clima adverso, sobrevivem com o auxílio de pesadas roupas que lhes cobrem todo o corpo esguio e bastante alto.

O segundo é o planeta verde: Palma. Nem por demais distante, nem perto além do necessário da grande estrela do sistema solar de Algo, em suas planícies cobertas de macia grama verde se desenvolveram muitas formas de vida. O planeta possui muitos rios, montanhas, lagos e cavernas. Os dias são claros e quentes e as noites aconchegantes. Graças a brandura dos céus e da terra, para os palmanianos a vida proveu um dom diferente. Enquanto os motavianos desenvolveram a batalha, e os dezolianos a magia, os habitantes de Palma foram os que mais aprimoraram as tecnologias. Seu planeta foi, por muito tempo, cheio de grandes construções imponentes, seus rios eram repletos de barcos, lanchas e submarinos, e seus céus se coloriam com as grandes naves que seu engenho projetava.

E foram os habitantes de palma os primeiros a romper o isolamento entre os três grandes filhos de Algo. Em sua avançada tecnologia, logo descobriram como erguer-se em naves gigantescas além dos limites da abóbada azul que se estende por sobre seus continentes, espalhando-se por todo o universo. Diz-se, inclusive, que foram naves desbravadoras de Palma as primeiras a alcançar nosso sistema solar há milhões e milhões de anos, tendo sido ele os primeiros seres vivos dotados de inteligência a colonizar a Terra, razão pela qual, em aparência pelo menos, sejamos tão semelhantes aos palmanianos; mas isso é uma outra história.

Ora, depois de muitos anos de conflitos houve, por fim, um entendimento entre as três raças supremas de Algo, tendo-se passado cerca de mil anos de paz e grande prosperidade. Com a troca de informações e a mescla de suas culturas, tanto motavia quanto dezolis puderam usufruir das tecnologias desenvolvidas pelos palmanianos, assim como, logo se pôde averiguar, os habitantes de Palma podiam sem grande dificuldade aprender as técnicas mágicas de seus vizinhos dezolianos. Mas os motavianos eram menores de intelecto, e temiam aquelas estranhas máquinas voadoras, bem como as artes mágicas. Foi mais longo e demorado o processo. Alguns chegaram a se utilizar das tecnologias, mas nenhum motaviano, por muitas eras, olhou sem desconfiança para as artes místicas. Mas, enfim, a harmonia reinou nos três planetas.

E sob o julgo da tecnologia, a aridez de Motavia foi vencida. Um longo e laborioso tempo surgiu para os motavianos e palmanianos. Enormes túneis subterrâneos foram construídos no planeta vermelho e, nestes, grandes centros tecnológicos e laboratórios foram criados. Satélites foram lançados e, ao fim de uma era de grandes esforços, o supercomputador chamado Cérebro-Mãe foi encarregado de controlar artificialmente toda a natureza de Motavia. E foi assim que a primavera alcançou o deserto. Sob o domínio do computador, as chuvas chegaram ao planeta. E a grama verde e abundante cobriu toda a extensão que antes nada era além de areia. E as árvores brotaram e deram flores. E os pássaros cantaram, e animais menos ásperos passaram a povoar as planícies de Motavia.

Também alguns habitantes de Palma se dispuseram a morar no planeta vermelho, para usufruir de seu próprio trabalho e certificar-se de que tudo corria bem. Assim, grandes cidade existiram, e tudo o que as três raças construíram em Algo era belo e bom.

Ora, conta-se no Livro da Luz, que após uma era de grande paz, a Escuridão tentou atacar o sistema solar de Algo. E nessa investida, Palma, o planeta verde foi destruído. O Cérebro-Mãe enlouqueceu, e povoou Motavia com terríveis seres perversos, criados em seus laboratórios. Acostumados aos longos tempos de paz, muitos algolianos pereceram. E foi então que surgiram heróis que lutaram e venceram, destruindo o Cérebro-Mãe.

Mas um grande mal já estava feito. Os monstros criados pelo supercomputador passaram a se reproduzir livremente e as paisagens de Motavia viraram um cenário de dor e medo. As cidades, antes belas e cheias de viço, foram cercadas por enormes muralhas, criadas no intuito de manter afastados os chamados biomonstros. Sem grande parte da tecnologia avançada, que se perdeu com a destruição de Palma, os habitantes de Motavia, bem como os sobreviventes de Palma que lá habitavam, tiveram de voltar-se para a luta pela sobrevivência, pois, sem o Cérebro-Mãe, com o passar dos anos o verde começou a deixar as planícies motavianas, e logo o calor do deserto voltaria a reinar no planeta vermelho.


“Certamente era algum tipo de controlador dos terrenos.” Disseram os estudiosos da cidade. “Precisamos averiguar se não é esta a causa dos tremores. Sem dúvida se estende por uma enorme área, quem sabe por baixo de toda a cidade. Sendo assim, um abalo mais forte pode destruir a todos nós.”

Reunido com seus principais agentes e vários cientistas, Hail Falkstar enfrentava o maior dos problemas desde que assumira a chefia do Parlamento de Aiedo, há quase vinte anos. Cerca de trinta homens e mulheres discutiam quais os melhores caminhos a seguir para evitar a terrível sina anunciada.

“Dr. Seyon, está certo de que não podemos atribuir estes tremores a causas naturais? O laboratório descoberto fica há quase três quilômetros daqui. Talvez não tenha relação.” Sugeriu uma das cientistas mais jovens presentes.

“Este é um ‘talvez’ que não podemos menosprezar” insistiu Seyon. “O último abalo foi forte o suficiente para causar sérios danos à muralha leste. Estou convencido de que a construção descoberta é um Centro de Amortecimento Tectônico. Seus braços hidráulicos poderiam ter até dez quilômetros de comprimento, como já pudemos ver em outras ocasiões. Sendo assim, estamos perfeitamente dentro de seu raio de ação.”

“Deveríamos iniciar a remoção das pessoas para os abrigos imediatamente.” Explicou um homem que estava a direita de Seyon.

Randy Bragdale se encontrava no fundo da sala. Era a primeira vez que Hagar Stow, o Chefe dos Agentes de Aiedo o convocava para uma reunião de tamanha importância. Estava num grande salão oval, de paredes brancas e lisas. Nenhuma janela havia sido construída ali, mas o teto era uma imensa abóbada de cristal translúcido, que deixava toda a luz do sol de Algo iluminar o recinto. Apenas duas portas existiam no local. Uma grande, arredondada, azul, que dava para um corredor que ligava o salão ao hall de entrada. A segunda porta era a entrada de um dos laboratórios da Torre Central da cidade.

Com apenas vinte três anos, Randy já tinha certeza de que sua convocação era indicativo de um problema sério. Muitos dos agentes da cidade haviam sido convocados, sendo deixados de lado praticamente apenas os recrutas e os menos experientes. Mas mesmo assim a apenas dez deles foi concedida a permissão de estar dentro do salão de reuniões durante o debate. Cerca de cem outros homens haviam sido direcionados para os grandes campos de treinamento que ficavam na parte subterrânea da Torre, para receberem outras instruções.

“Será preciso alarmar de tal forma à população?” perguntava o chefe dos agentes.

“Por Algo, Stow!” Gritou Falkstar batendo na mesa com os punhos fechados. “Não percebe que o medo já está nos rostos das pessoas? Mesmo um abalo mais fraco agora será suficiente para derrubar parte da muralha leste. Logo teremos biomonstros invadindo Aiedo.”

“Stow”, iniciou Seyon olhando firmemente para o chefe dos agentes, “pelo menos precisamos iniciar a estocagem de mantimentos. Deixemos o alerta para depois. Embora também acredite que não fará diferença. Foram três tremores somente na semana passada. A população já está com medo.”

“Tenho alguns homens recebendo instruções neste exato momento. Mas receio diminuir demais a quantidade de Caçadores protegendo os arredores da cidade.”

“De nada adiantará proteger os arredores se a cidade desabar.” Concluiu Falkstar.

Há poucos quilômetros ao leste da cidade, fica uma pequena aglomeração de colinas rochosas que terminam em grandes falésias de pedra, separando a planície de Aiedo do Mar Central de Motavia. Há pouco mais de dois meses, haviam começado a sentir pequenos tremores de terra, e no início não deram grande importância para o fato, uma vez que a região sempre fora sujeita a este tipo de manifestação natural. Com o tempo, porém, os abalos foram se tornando cada vez mais violentos e freqüentes.

Amostras de solo foram analisadas, estudos topográficos, e mesmo verificações astronômicas foram feitas, mas aparentemente nada explicava os tremores. Muitos cientistas e estudantes de todo o planeta se dirigiram para os arredores de Aiedo nas últimas semanas, para estudar o problema, descobri-lhe as causas e buscar uma solução. Entre estes estava o Dr. Aldo Seyon, uma das mentes mais respeitadas em todo o planeta, e atual reitor da Academia de Piata. O estudioso de cerca de quarenta e cinco anos, cabelos e barbas grisalhas, não precisou de muita reflexão antes de ditar suas conclusões. As descrições feitas pelos caçadores não deixaram muitas dúvidas em seu veredicto.

Em uma expedição de rotina, em busca de locais de reprodução de biomonstros, um grupo de caçadores encontrou um laboratório subterrâneo. Randy fora um dos agentes que descobriram a entrada após um deslizamento de terra que criara uma caverna de tamanho suficiente para um homem passar. Não se aprofundaram na investigação, mas certamente fazia parte dos muitos sistemas controlados pelo Cérebro-Mãe. O ataque repentino de vários sentinelas, resultando em uma morte e vários feridos, foi prova de que o centro estava em atividade. Os relatos foram a pista para que Aldo Seyon fizesse suas deduções.

“Se perdermos parte da muralha leste”, continuou Seyon, “o que, temo dizer, deve acontecer se os tremores não cessarem, a única opção será levar os caçadores para vigiarem a abertura, e não permitir que nenhum biomosntro entre na cidade”.

“Meus caçadores farão a proteção. E então desviaremos todos os outros agentes para o trabalho de preparação dos abrigos”, disse Stow. “Mas insisto que por enquanto devemos ter mais cautela. Se a população já está amedrontada, não devemos piorar a situação. Precisamos enviar alguém para investigar a caverna e o laboratório, mas sugiro que apenas um agente seja designado para o caso. Devido a distância, em caso de emergência estaríamos desprevenidos se um grande número de agentes estivesse longe…”

“Concordo.” Assentiu Falkstar. “Alguém que tenha conhecimento suficiente sobre as tecnologias antigas, e que possa se virar sozinho por lá.”

“Vocês tem alguém que já tenha entrado em contato com as velhas tecnologias?” Perguntou o Dr. Aldo Seyon, com ar curioso.

“Na verdade, tenho aqui a pessoa ideal para o trabalho. Se conheço Stow, ele também já deve ter tirado as mesmas conclusões.”

“Poderia indicar alguns nomes,” assentiu o chefe dos agentes, “mas Falkstar está certo em sugerir que já tenho fiz opção. A menos que ele mesmo discorde.”

“O que não fará, por certo.”

“Dr. Seyon, conheça Randolf Bragdale.” Falkstar virou-se na cadeira e olhou para o rapaz encostado na parede, próximo à porta de saída.

Rand estava de olhos fechados há alguns minutos, mas isso não indicava distração. Quando iniciaram a discussão sobre quem deveria ir ao CAT, imaginou que poderia ser um dos nomes sugeridos, entretanto, era o mais jovem dentre os agentes presentes no salão, de modo que ficou ligeiramente surpreso quando Hagar Stow chamou-lhe o nome. Abriu os olhos e encarou Seyon.

“Senhores, este jovem não deve ser a melhor escolha.” Comentou o cientista.

“Randy participou de todas as expedições a sistemas antigos realizadas na região nos últimos cinco anos. Além de se dar bem com computadores.” Explicou Falkstar. “Se esperássemos muitas batalhas, não o mandaria. Mas essa deve ser uma missão de reconhecimento, e Rand compreende bem a interface dos antigos túneis.”

“A questão é desligar a coisa, não é?” disse Stow um tanto irritado. Não gostara de Seyon apresentando dúvidas sobre seu julgamento. “Se pudéssemos simplesmente explodir o lugar não estaríamos discutindo aqui. Rand pode dar conta. Conhece muito bem a região e tem a experiência necessária. Pode ser jovem, mas é dos poucos agentes de Aiedo a quem eu confiaria uma missão como esta.”

“Muito bem…,” disse Seyon relaxando na cadeira, “então, Randy Bragdale, apresente-se à minha equipe hoje à tarde, e lhe passaremos as informações de que dispomos sobre este tipo de sistema de controle”.


Esta é uma época de grandes mudanças, e os nomes daqueles que forem audaciosos o suficientes para se desprenderem de seus galhos e buscar a vastidão do espaço estarão para sempre gravados na história.

Logo estaremos livres dessa herança maldita. Sim! Pensou Randy. Nada mais de máquinas para controlar nossos destinos. Homens confiando em homens. É assim que deve ser. O próximo passo seria colocar novamente um coração para ser rei absoluto dos seres de Algo, em vez de entregar este posto a um amontoado de fios e parafusos. Aliás, não era essa sua missão? Eliminar os vestígios malignos de um passado conturbado? Randy era um dos Agentes de Motavia. Uma espécie de força pacificadora. Um exército de homens treinados para caçar e destruir os biomonstros, escoltar viajantes, garantindo sua segurança e, principalmente, destruir qualquer laboratório ou sistema de controle que pudesse ter sido deixado em funcionamento pelo Cérebro-Mãe. Devolver o controle do mundo para a natureza, mesmo que isso significasse voltar aos tempos difíceis que as gerações anteriores enfrentaram.

“Mas, sem dúvida, vai ser melhor assim. Daremos um novo passo!” Exclamou Randy, sem ninguém além do tronco seco à sua frente para ouvi-lo. “E que a natureza possa ser senhora de si mais uma vez.” Pendeu a cabeça para trás e ficou um instante contemplando o azul imenso do céu, com a mão sobre o punho da espada que carregava atrelada à cintura.

Começou com um suave formigamento abaixo de seus pés, e logo sentiu um forte tremor de terra, que fez com que perdesse o equilíbrio e se prostrasse de joelhos. Observou atônito o tronco de árvore ceder sem forças para resistir à fúria do terremoto, indo cair junto de si, como um adversário derrotado. Rand puxou a espada e fincou-a com força no solo, usando-a como apoio para equilibrar-se e pôr-se de pé. Alguns poucos segundos mais tarde e tudo voltava a ficar calmo e silencioso. Randy ergueu o punho esquerdo em direção à árvore morta.

“Os homens não cederão!” Exclamou. Virou-se e partiu apressado.

Fim da parte 1

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